30 de abril de 2011

Escatologia Paulina (III parte)

Como Paulo descreve os últimos acontecimentos?

 Como Paulo descreve os últimos acontecimentos? Certamente, ele definiria os acontecimentos finais com a certeza que a “vitória decisiva sobre o diabo já foi ganha” (2Ts 2. 7,8; Rm 16. 20). Bem sabemos que a literalidade apocalíptica do apóstolo, é fruto do judaísmo tardio e do protocrisitanismo, assim sendo, ele orienta sua escatologia para uma ordem bio-cosmológica em Cristo (pleroma) – (1Co 15. 28), aonde em Deus tanto as criaturas quanto a criação, alcançaram a eterna redenção “livres da presença do pecado” (1 Co 1. 30). Desse modo, todo o mal será desfeito pelo nosso Senhor Jesus Cristo. E o anticristo que durante anos da história da humanidade houvera sido incorporado por diversos personagens terríveis, irá ser revelado e vencido.    
            Quando o tempo escatológico de Deus se cumprir diremos como Lutero “Com efeito, não é o tempo que ocasionou a vinda do Filho. Ao contrário, a vinda do Filho trouxe ao tempo a sua realização”.
            Em constantes desafios que a escatologia Bíblica vive que os cristãos venham se apegar a morte/ressurreição de Jesus Cristo, porquanto, o pecado trouxe a morte e a ressurreição à vida, por isso Paulo dizia: “se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a nossa fé.” (1 Co 15. 14). Podemos ver que a cruz e a ressurreição estão estritamente relacionadas, uma a outra, para que a mensagem cristã seja “o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1. 16).
            Entretanto, devemos superar o status quo e se movimentar sabendo que tudo o que acontece no mundo torna-se a prolepse daquilo que já aconteceu com Cristo. Jürgen Moltmann diria:

Enquanto tudo não estiver “muito bom”, continua a diferença entre esperança e realidade, a fé continua irrealizada e deve lançar-se no futuro, em meio à esperança e ao sofrimento. Dessa forma, também a promessa da vida proveniente da ressurreição de Cristo introduz na tendência do Espírito, que vivifica na dor e está orientado para o louvor da nova criação. Temos aí algo como “revelação progressiva”, ou “escatologia em realização”, só que se trata do progressus gratie. Não é o tempo objetivo que traz o progresso, nem é a atividade humana que faz o futuro, mas é a necessidade interna do evento de Cristo, cuja tendência é trazer à luz a vida eterna latente nele mesmo e a justiça de Deus em todas as coisas, igualmente latente nele.

Diante da contemporaneidade escatológica uma síntese do artigo de Timóteo Carriker ilustra bem a discussão “O desdobramento dos eventos finais tem muito haver com nossas vidas”. Contudo, como se darão os últimos acontecimentos torna-se a força motriz das nossas vidas, pois, a pregação cristã é essencialmente uma “cristologia em perspectiva escatológica” como disse o presbítero da igreja metodista Levy da Costa Bastos.
Na verdade, somos marcados por um sentimento de resignação que emancipa a fé escatológica da realidade. O ser humano tem o poder de construir a história. De modo, que o homem é um ser presente, e conseqüentemente deve edificar a cada dia um “mundo melhor”. Note-se que a proposta cristã, às vezes, é que um dia, no futuro, Deus de uma vez por todos acabará com todo sofrimento! Desta maneira, alguns cristãos colocam sua esperança e sua fé, neste momento sublime que transcende as expectativas desse mundo, e acabam se esquecendo de viver o presente; como diria Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins “o lugar do “ainda – não”, cuja força mobiliza as pessoas a construírem o que um dia poderá vir – a – ser”. 
A doutrina das “últimas coisas” não pode servir de escape para tratar de forma paliativa o nosso sofrimento no mundo, mas certamente ela tem o seu propósito específico. Leiamos um texto de Jürgen Moltmann, que diz:

Crer significa transpor, com esperança antecipadora, os limites que foram rompidos pela ressurreição do crucificado. Se tivermos isso em mente, a fé nada tem que ver com fuga do mundo, resignação e desistência. Nessa esperança, a alma não paira em um céu imaginário de bem aventurados, longe do vale de lágrimas nem se desliga da terra. [1][1]
           
Em suma, o problema da dor e do sofrimento é problema nosso; até mesmo porque a virtude do cristão está em “compartilhar a necessidade uns com os outros” (Rm 12. 13). E não em vestimos a nossa roupa de cristão e irmos à igreja e deixar tudo nas mãos de Deus. Neste momento, nos lembremos da oração de Jesus “mas eles estão no mundo” (Jo 17. 11). Daí a exortação do apóstolo Paulo para que sejamos “sóbrios” (1Ts 5. 6). Por isso, a escatologia moderna orienta o schaton a um totalite aliter – novidade total (2Co 5. 17) como diria Rudolf Bultmann.

Conclusão

            Em Paulo a escatologia ganhou uma roupagem de acordo com a necessidade das comunidades cristãs. Não se pode deixar de dizer que a literalidade dos ensinamentos escatológicos do apóstolo fora influenciado pela tradição judaico-cristã. E que sua pregação se consistia no fato da na morte e ressurreição de Jesus Cristo.
            Desse modo, essa mensagem abriu espaço para um apocaliptismo que se resumia na: manifestação do anticristo, a vinda de Jesus Cristo, ressurreição dos mortos, arrebatamento da igreja e redenção final.
            Analogicamente, o pensamento escatológico de Paulo em Coríntios e Tessalonicenses leva-nos a fazer uma comparação entre o que está acontecendo com a “doutrina das ultimas coisas” no mundo contemporâneo e a “esperança cristã” refletida por alguns teólogos que desenvolveram um pensamento escatológico relevante na modernidade.
            Para enfim chegar a uma síntese entre o pensamento escatológico de Paulo e também a uma escatologia coerente que coadune tanto com a Escritura, quanto com os estudos sobre “esperança cristã” na atualidade.
            A fim de angariar bons ensinamentos práticos, para a vida dos cristãos que prezam por uma boa escatologia Bíblica.

[1] Moltmann, Jürgen. Teologia da Esperança: Estudos sobre os fundamentos e as conseqüências de uma escatologia cristã. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Teológica: Edições Loyola. 2005. p. 35-36.

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