INTRODUÇÃO
Paz do Senhor!
Neste sermão, não pretendo seguir as exigências dos três pontos; conforme aprendemos nas aulas de homilética, na elaboração do sermão temático. Contudo ressaltarei a minha ideia ao elaborar o sermão, com três subtítulos. Leiamos:
o Devoção angustiante: o início de uma patologia;
o Devotos em crise: a espera do encontro com Deus;
o Fonte de água viva: a certeza de nunca mais ter sede.
Logo, nas considerações finais, resumidamente, trarei a tona os subtítulos discutidos, a fim de orientar a uma devoção cristã da vida cotidiana. Portanto, os textos áureos a serem utilizados no sermão serão: Salmos 42. 1,2 e João 4.14. Então, gostaria de convidar aos irmãos a refletir sobre o tema: DEVOÇÃO.
Devoção angustiante: o início de uma patologia
Como a corça grita por correntes de águas,
Assim minha garganta [1] grita por ti, ó Deus.
Minha garganta [2] tem sede de Deus, do Deus vivo.
Quando voltarei a ver as faces de Deus? [3]
Quando me refiro ao início de uma patologia, logo, penso em quantos cristãos vivem em um dilema, de não conseguirem alcançar o grau de devoção que tanto esperam, causando assim uma ‘angústia psíquica impertinente’.
O salmista havia provado Deus no passado, porquanto, estava com sede de Deus. E no futuro ele poderia contar que Deus saciou a sua sede. Mas, ali, naquele momento, o que prevalecia era a sede – de quem, em uma busca angustiante, gritava... E ansiava por Deus.
Às vezes, as cobranças são tantas, no convívio cristão que, muitos cristãos em sua impotência devocional, acabam ficando angustiados. Até mesmo, com doenças psíquicas seriíssimas. Segundo o psicanalista Mario Aletti, professor e presidente da Sociedade italiana de Psicologia da Religião, afirma que:
Em muitos casos, a adoção de uma religião provoca grande angústia: talvez porque muitas crenças propunham modelos de comportamento fortemente baseados nas noções de culpa e punição. “Os mandamentos ditados pelas diversas religiões parecem destinados a permanecer como objetivo inatingível e contribuem para criar uma tensão ética que se renova constantemente”. [4]
Portanto, se deve tomar muito cuidado para não causar transtornos psíquicos em nossos irmãos, isto é, pelo fato de não conseguirem, um bom desempenho devocional, acabam angustiados.
Devotos em crise: a espera do encontro com Deus
Em paralelo com o texto anterior. O interessante é que, quem não cai na angústia, acaba compreendendo a ‘teologia da crise’. Como ensinará o teólogo suíço Karl Barth afirmando que:
O homem como que à beira de um precipício se aventurando até o desconhecido e imensamente profundo, ali, suspenso pelo abismo, seguro pela mão de Deus. [5]
Barth com sua teologia de que o homem nunca buscou Deus, sempre Deus que buscou o homem, me lembra as palavras de Osvaldo L. Ribeiro, que diz:
O Sagrado, para mim, é inacessível, e deve permanecer assim, e faz bem que o seja. E se ele vem a mim, se ele vem a nós, é só para acenar, dizer que está lá, que vale a pena crer, esperar, calado, quieto, que logo a brisa sopra, e o vento nos arrepia a cara. [6]
Concluo. A minha devoção na presença de Deus, é assim, uma coisa repentina, que quando vai chegar nem sei, mas quando se vai deixa-me saudades. Saudades não de Deus! E sim, da experiência com o sagrado; ímpar em minha existência. Que igual, possivelmente, nunca mais terei. Mas experiência diferente sim, terei... Posso esperar!
Fonte de água viva: a certeza de nunca mais ter sede
Mas aquele que beber a água que eu vou dar,
Esse nunca mais terá sede.
E a água que eu lhe darei,
Vai se tornar dentro dele uma fonte de água que jorra para a vida eterna. [7]
Contudo pode-se pensar num paradoxo em relação à reflexão anterior. Não. Neste caso, trata-se de mostrar que a devoção a Deus não é monopólio de nenhuma Religião.
E quando a devoção assume o caminho de manipulação do sagrado, acaba tornando-se automatismo religioso. E tudo se resume as doutrinas e uma religião ritualizada, que conduz os fieis a praticas condicionadas. Ainda que a Religião tenha como meta indicar o caminho para Deus, acabam dificultando essa aproximação entre o homem e Deus. [8]
Conversando com a mulher que era samaritana, Jesus supera os preconceitos de raça e discriminações sociais. Como qualquer pessoa essa mulher tem sede de vida. Todos buscam algo que lhes mate a sede, mas encontram apenas águas paradas. Jesus traz água viva corrente e faz com que a fonte brote de dentro de cada um. [9]
Lembrei-me, que esta mensagem me vem à mente, quando estava descendo a Rua João Bosco. Foi justamente, a hora que passei em frente à construção, um homem apareceu e disse: Deus te ama jovem. Tudo que eu precisava! Não, porque parecia uma profecia. Mas, porque, é bom saber que a devoção, se dá, em qualquer lugar e a qualquer momento.
Portanto, a devoção é uma atitude interior, dedicação íntima a Deus. Não importa onde Ele seja adorado. O necessário é adorá-lo em espírito e verdade, seja onde for. Pois temos uma fonte que jorra para a vida eterna.
Considerações finais
Ao refletir sobre o tema devoção, descobri-se que se deve tomar muito cuidado para não cair em uma ‘angústia psíquica impertinente’. E que nos momentos de crise, vemos o quanto Deus se preocupa conosco e vem ao nosso encontro, sem nos avisar. Assim, a devoção é algo particular, sem nenhuma manipulação (má fé) religiosa.
Bibliografia
Bíblia. Português. Edição Pastoral da Bíblia. Tradução por Ivo Storniolo et. al. São Paulo: Paulus Editora, 1991.
Cicerone, Paola Emilia. Crer faz bem? In: Revista mente e cérebro. Fé o lugar da divindade no cérebro. Pinheiros, SP: Editora Duetto, Edição Nº 1. pp. 18-21.
MACKINTOSH, Hugh R. Teologia Moderna: de Schleiermacher a Bultmann. São Paulo: Fonte Editorial, 2004.
MIRANDA, Evaristo Eduardo de. Corpo: território do sagrado. 3ª ed. São Paulo: Loyola, 2000.
PIRES, Frederico Pieper. O que é Espiritualidade. Rio de Janeiro: MK Ed., 2005.
RIBEIRO, Osvaldo Luiz. O que é fé? Rio de Janeiro: MK Ed., 2004.
Santos, Jorge Pinheiro dos. O diálogo das origens. Disponível em: < http://www.evangelica.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=165&sg=64&form_search=&pg=0&id=2837. Acessado em 10abr2011.
[1]Segundo Jorge Pinheiro, nefesh como substantivo ganhou vários sentidos, sendo garganta um deles, e assim é usado em Provérbios 23.2. “E põe uma faca à tua garganta, se fores um homem de grande apetite” (cf. Is 5.4 e Hc 2.5). A garganta ou goela é por onde entra e sai à respiração, o ar. O ser humano, então, ganhou a designação nefesh, ser que respira. No humano refere-se também à forma que o espírito e a inteligência, sem forma em si, assumiram ao animar o corpo.
[2] Porta dos deuses. Miranda, Corpo território do sagrado, p. 200.
[3] Ribeiro, O que é fé? p. 35. Tradução do texto hebraico – Salmo 42.1,2.
[4] Cicerone, Crer faz bem? p. 19.
[5] Mackintosh, Teologia Moderna, p. 281.
[6] Ribeiro, op. Cit. p. 54.
[7] Ver. Jo 4.14.
[8] Pires, O que é espiritualidade? p. 88.
[9] Bíblia Edição Pastoral, comentário, p. 1296.
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