7 de abril de 2011

Escatologia Paulina (II parte)

Cf. escatologia paulina (I parte)


Qual seria a concepção de Paulo sobre o futuro dos salvos?
por
Fernando de Oliveira        

Qual seria a concepção de Paulo sobre o futuro dos salvos? Para o apóstolo é inevitável que Cristo volte! E os que morreram em Cristo, ressuscitaram primeiro. E os que ficarem vivos serão arrebatados, e irão ao encontro do Senhor nos ares – incorruptíveis – (1Ts 4. 16,17; 1Co 15. 51,52). No entanto, uma discussão pode ser levantada. Como se dá a vida após a morte? Será que os fiéis estão em um estado de gozo eterno? E os infiéis estão em um estado de tristeza eterna? Como lemos em: (Lc 16. 19-31; 2Co 5. 8; Fp 1. 23; Fp 3. 20,21).
            Agora a controvérsia se levanta! A questão é saber se os fiéis ou infiéis, logo após a morte, recebem um corpo transformado. Ou, são semelhantes a um [espírito/alma] sem corpo. Assim sendo, tal expectativa contrária à visão Bíblica de ressurreição do corpo no último dia de forma coletiva para os santos, e até mesmo para aqueles que aguardam o juízo final. Leiamos: (Lc 14. 13,14; 20. 35,36; Jo 5. 21,28; 1Co 15. 22,23; Fp 3. 11; 1Ts 4. 14-16; Ap 20. 4-6, 13).
            Portanto, a Escritura ensina a ressurreição do corpo. O credo Apostólico diz: Creio na ressurreição do corpo. Karl Barth discorrendo sobre a ressurreição do corpo e a vida eterna, diria:

Agora o cristão olha adiante. Qual o significado da esperança cristã nesta vida? Uma vida após a morte? Um evento fora da morte? A pequena alma que, como borboleta, esvoaça pela sepultura e ainda é preservada em algum lugar, a fim de viver em imortalidade? É assim que os pagãos vêem a vida após a morte. Mas isto não é esperança cristã. “Creio na ressurreição do corpo”. Corpo na Bíblia é simplesmente o homem; homem, além disto, sob o signo do pecado, homem caído. Para este homem és dito “Tu ressuscitarás”. Ressurreição significa não continuação desta vida, mas sua conclusão. Para este homem um “Sim” é dito onde a sombra da morte não pode alcançar. Na ressurreição, nossa vida esta envolvida, nós, homens como somos e estamos situados. Nós ressuscitaremos ninguém mais tomará nosso lugar. “Seremos transformados” (1Co 15); isto não quer dizer que uma vida diferente se inicia, mas “o corruptível se revestirá de incorruptibilidade e o mortal de imortalidade”. Então será manifesto que “a morte foi tragada pela vitória”. Portanto, a esperança cristã afeta nossa vida como um todo: as nossas vidas serão completadas. Esta que foi semeada em desonra e fraqueza ressuscitará em glória e poder. A esperança cristã não nos conduz para longe desta vida; pelo contrário, é a revelação da verdade na qual Deus vê a nossa vida. É o triunfo sobre a morte, mas não um vôo para o Além. A realidade desta vida está envolvida. A escatologia, corretamente entendida, é a coisa mais prática que pode ser considerada. Nela, a luz cai sobre nossas vidas. Esperamos por esta luz. “Nós te oferecemos esperança”, disse Goethe. Talvez até ele mesmo sabia desta luz. A mensagem cristã, em toda medida, de modo confiante e confortante, proclama a esperança nesta luz. [1]

Semelhantemente Wolfhart Pannenberg diria:

Creio que uma investigação moderna na natureza humana torna mais fácil a visão de como a verdade dessa expectativa é razoável. A abertura do homem para o mundo, transcendendo qualquer situação que surja no mundo, pode ser compreendida hoje somente em termos de expectativa de uma ressurreição. A expressão “abertura ao mundo” implica que aquele homem tem um destino infinito: de um modo diferente isso já erra conhecido nos primórdios e por essa razão os filósofos constantemente assumiam uma vida após a morte. A tradição filosófica entendeu seu destino, transcendendo à morte por ser a alma infinita e imortal.
            Essa idéia nos parece estranha, uma vez que a nova antropologia trouxe a unidade de todos os acontecimentos mentais com os processos corporais e então não somos mais capazes de pensar como uma alma sem um corpo. Por esta razão, não mais concebemos o destino infinito de um homem além da morte em termos da imortalidade da alma – if at all – apenas como uma ressurreição.
            Portanto, nosso vínculo com a morte de Jesus, com suas falas, seu sofrimento e cruz, também garantem nossa participação futura no que já apareceu apenas em Jesus, e também a compartilhar a vida e ressurreição, na qual o destino do homem alcança consumação. [2]

            Assim, no pensamento paulino, não havia  espaço para uma versão grega sobre a relação corpo/alma. Logo, a ressurreição do corpo (1Co 15) tornara-se a espinha dorsal de sua doutrina.  



[1] Barth, Karl. Esboço de uma Dogmática. São Paulo: Fonte Editorial, 2006. p. 222-223.
[2] Pannenberg, Wolfhart. Fé e Realidade. São Paulo: Fonte Editorial, 2004. p. 100-101.


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