4 de abril de 2011

Rascunhos de Arqueologia Bíblica

Rascunhos de Arqueologia Bíblica
por
Fernando de Oliveira

“Arqueologia Bíblica” – a ciência da escavação, decifração e avaliação crítica dos registros de materiais antigos relativos à Bíblia [PRICE, 1997, p. 3].

A arqueologia tem sido erroneamente, usada para comprovar a veracidade da Bíblia. Estudiosos a ela recorrem para esclarecer questões controversas levantadas em torno dos relatos bíblicos. Leitores fundamentalistas, que tomam a forma literária por principio teológico para sustentar o valor histórico das Escrituras, seriam vítimas da mesma crença. O equivoco é comparar verdades que estão em planos distintos e que não são passíveis de comparação [SOTELO, 2003, p. 16].   

Tem de ficar entendido que a arqueologia não pode “provar” a Bíblia. A verdade da Bíblia é de ordem religiosa; fala de Deus e o homem e de suas relações mútuas. Esta verdade espiritual não pode ser provada ou contradita, nem pode ser confirmada ou invalidada pelas descobertas materiais da arqueologia [PRICE apud VAUX, 1997, p. 23].   
   
INTRODUÇÃO
            A Arqueologia Bíblica é o estudo científico das culturas e dos povos mencionados na Bíblia Sagrada, através de testemunhos materiais que destes restaram. Seu alvo é reconstruir a história, a antropologia, a cultura e o sistema linguístico apresentado por esses povos nas Escrituras. Assim sendo, a ciência arqueológica tem ajudado no estudo da Teologia Bíblica.     
            Além do mais, a arqueologia bíblica se torna importantíssima para os profissionais da arqueologia, não a fim de confirmar os registros sagrados judaico-cristãos na contemporaneidade, mas segundo Daniel Sotelo (2003, p. 17) a “arqueologia não é uma prova que a Bíblia tem razão, como muitas vezes se quis acreditar. Sua função é, no melhor dos casos, subsidiária”. [1] Por isso, tal ciência traz para os estudiosos das Escrituras o pano de fundo da época e como viviam as pessoas em suas civilizações. Desse modo, Sotelo (2003, p. 14) diz que:

No que diz respeito à Bíblia, a contribuição da arqueologia não está em emprestar validade às fontes literárias da revelação, mas em pô-las num contexto. Daí sua importância para Exegese e a Teologia Bíblica, para Hermenêutica e a Teologia Sistemática.[2]

Portanto, a arqueologia bíblica trouxe-nos fatos sociáveis que tangenciam (ponto de contato) com o mundo da Bíblia, mas “se sua fé esta na arqueologia, esta no lugar errado”.[3]

DISCIPLINAS AFINS DA ARQUEOLOGIA
            Qual seriam as disciplinas afins da arqueologia? Qual sua colaboração para reconstruir as histórias dos tempos bíblicos? Desta maneira, definir tais disciplinas é fundamental para elaboração do estudo:
1)     Os diretores do museu catalogam réplicas e originais de artefatos para exibição ao publico;
2)     Os acadêmicos lecionam e sistematizam achados, criando links entre eles;
3)     Os eruditos são homens muito instruídos;
4)     Os lingüistas ou paleólogos (também chamados filólogos) trabalham decifrando e montando textos escritos em idiomas antigos;
5)     A papirologia é o estudo dos antigos papiros, cuja especialidade desses profissionais é a preservação, identificação e publicação de antigos manuscritos (principalmente os de origens egípcias);       
6)     A radiometria é a ciência que se dedica aos estudos das transferências das energias radiativas. Geralmente, são técnicos em datação radio métrica, trabalham com física;
7)     A paleontologia são os estudos das espécies animais e vegetais desaparecidos, baseado nos fósseis;
8)     A geologia é a ciência que trata da origem e constituição da terra;
9)     A antropologia é o estudo do homem no quadro do reino animal, portanto, se destacam duas:
a)     Antropologia Física às vezes chamada de “antropologia biológica” ou “bioantropologia” ela estuda os mecanismos de evolução biológica, herança genética entre outros;
b)     Antropologia Cultural é o estudo do homem em sua cultura social.
Conclui-se, que escavações modernas usam diversos tipos de especialistas para corroborar com a Arqueologia Bíblica. De modo que “os arqueólogos nem sempre desenvolvem seus trabalhos de forma independente”. Estão ai as maiores contribuições das disciplinas afins para reconstrução das histórias dos tempos bíblicos.

ETAPAS DA PESQUISA ARQUEOLÓGICA
            Nestas condições, o ideal a fazer é partir para as quatro etapas da pesquisa arqueológica. Leiamos:
1 – O PLANEJAMENTO
A)   Formulação de hipóteses com fundamentos em pressupostos teóricos ou empíricos;
B)    Preparo das condições materiais necessárias para o desenvolvimento do trabalho. No entanto, cinco etapas são indispensáveis para o serviço, entre as quais são:
                               I.            Composição
                           II.            Transporte
                        III.            Alojamento
                         IV.            Depósito
                            V.            Analise do material coletado.
2 – O TRABALHO DE CAMPO
Com efeito, o trabalho de campo é o coração da arqueologia. É precisamente pelo fato de extrair seus dados da terra que a arqueologia difere de outras disciplinas que também estudam o mundo antigo”.[4]
            Aliás, o trabalho de campo pressupõe um levantamento, uma prospecção e uma escavação [5] que resultam em:
·        Evidências recolhidas nos sítios ou área prospeccionada;
·        Registros e anotações diversas efetuadas pelos arqueólogos no campo ou no próprio laboratório, como: planos, lâminas, fotografias, fotogrametria, obstáculos e listas;
·        Materiais enviados para laboratórios especializados.
Atualmente, o futuro do trabalho de campo depende muito do grupo de pesquisadores, do investimento financeiro e das tecnologias (computadores e softwares) utilizadas pelos arqueólogos no sítio arqueológico.    
3 – A ANÁLISE DE LABORATÓRIO
            A análise laboratorial dos artefatos ajuda a iluminar a dinâmica da cultura local: seus habitantes foram ricos ou pobres? (...)” [6]
            Assim, cinco análises laboratoriais tronam-se importantes:
1)     Classificação preliminar do material coletado;
2)     Agrupar o material na sequencia da coleta, e lavá-lo;
3)     Identificação permanente dos restos;
4)     Cada peça deve receber identificação particularizada;
5)     A análise tipológica dos artefatos, cerne de toda reconstituição.
Observação: geralmente os artefatos constituem-se de cerâmicas, moedas, jóias, vidros, tabletes cuneiforme, ostraca, pergaminho, papiros, até mesmo cidades inteiras e outras reminiscências do antigo local. 
4 – DIVULGAÇÃO
            A técnica de divulgação e apresentada em pequenas monografias (resultados preliminares ou notas prévias) a fim de que os resultados dos trabalhos mais importantes sejam conhecidos. Portanto, estes trabalhos antecedem e preparam o caminho para monografias definitivas.

6 – AS LIMITAÇÕES DA ARQUELOGIA  
            Os críticos não deveriam se valer da Arqueologia Bíblica para desqualificar a fé dos fieis nos textos Bíblicos, pois segundo Amihai Mazar, observa-se que:

[...] a arqueologia é obviamente limitada. A arqueologia lida principalmente com a cultura material, não tanto com ideias, filosofias, poesia, sabedoria etc., como temos na Bíblia. A Bíblia é uma riqueza, um mundo cheio de pensamento intelectual. A arqueologia é limitada. Ela nos fornece [somente] cerâmica, construções, fortificações, plantas de cidades, moedas de comunidades, [ou informa] quantos sítios houve em cada período, qual era aquela população.[7]
           
Assim como enfatiza o professor e historiador Edwin Yamauchi; estabelecendo cinco limitações básicas da arqueologia:
1)     Somente parte do artefato sobrevive;
2)     Somente parte do território foi pesquisada;
3)     Somente parte dos sítios é escavada;
4)     Somente parte da área de um Tel [8] é examinada;
5)     Somente parte do material é publicada.
“As limitações da arqueologia deveriam levar os arqueólogos, cientistas sociais e teólogos a não fazerem julgamentos prematuros com bases apenas em resquícios arqueológicos, o que pode gerar criticas injustas” [9] ao texto bíblico.  

CONCLUSÃO
            Este trabalho propôs uma relação equilibrada entre o fundamentalista e o crítico bíblico. Entretanto, os caminhos percorridos para tirar algumas conclusões referentes aos rascunhos de arqueologia bíblica foram extraídos das aulas de Arqueologia Bíblica, no Instituto Bíblico das Assembleias de Deus, em Pindamonhangaba transmitida no 1º semestre de 2009, pelo professor Helder. Ponderando assim, informações relevantes para o aluno de arqueologia bíblica que procura saber o desenvolvimento metodológico do ensino da ciência arqueológica, no âmbito acadêmico.



[1] Sotelo, Daniel. Arqueologia Bíblica. 1ª Ed. São Paulo - SP. Novo Século: 2003. p. 17.
[2] Ibidem. p. 14.
[3] Apostila Setevaleh. Arqueologia Bíblica. p. 28. Livro: Price, Randall. Pedras que clamam. 1ª Ed. Rio de Janeiro - RJ. CPAD. 1997.
[4] Sotelo, Daniel. Arqueologia Bíblica. 1ª Ed. São Paulo - SP. Novo Século: 2003. p. 31.
[5] Quando se fala em escavação deve-se lembrar do Método Wheeler/Kenyon que segundo Daniel Sotelo se configura em: O método Wheeler/Kenyon tenta contornar uma dificuldade: construir um modelo tridimensional do sítio escavado a partir dos artefatos descobertos. Para se chegar a este fim, empregam-se procedimentos estratigráficos. A estratigrafia concentra-se no exame do conteúdo de varias camadas que compõem o solo do sítio. Ibidem. p. 32.      
[6] Ibidem. p. 39.
[7]Apostila Setevaleh. Arqueologia Bíblica. p. 9. Livro: Price, Randall. Pedras que clamam. 1ª Ed. Rio de Janeiro - RJ. CPAD. 1997.
[8] Tel é um outeiro artificial ou fértil (monte fertilizado por civilizações antigas) criado pela repetida destruição e reconstrução de cidades antigas e vilas no mesmo sítio. Ibidem. p. 9. 
[9] Ibidem. p. 10.

BIBLIOGRAFIA
Sotelo, Daniel. Arqueologia Bíblica. 1ª Ed. São Paulo - SP. Novo Século: 2003.
Apostila Setevaleh. Arqueologia Bíblica. Livro: Price, Randall. Pedras que clamam. 1ª Ed. Rio de Janeiro - RJ. CPAD. 1997.
Prof. Helder Galvão. Aulas de Arqueologia Bíblica. Instituto Bíblico das Assembleias de Deus – Pindamonhangaba. 1º semestre de 2009.

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