5 de abril de 2011

ISAÍAS - DAVID RUBENS

APONTAMENTOS NO LIVRO DE ISAÍAS[1]
por
David Rubens

No livro de Isaías constam expressões dos mais variados momentos e situações da profecia bíblica. Além de riquíssimo conteúdo, o livro de Isaías desempenha grande influência nos tempos posteriores.

Composição do livro:
Entre os manuscritos de Qumran[2] foi encontrado o livro de Isaías em toda a sua extensão. Foi um acontecimento surpreendente; pois o livro é grande e a maioria dos outros achados era parte de livros ou pequenos fragmentos. Essa descoberta indicou que na época de Jesus o livro de Isaías era conhecido e utilizado na extensão e com o conteúdo que também conhecemos.
O livro de Isaías é expressão da vida e das esperanças do povo, num período bastante extenso, e que foi feito por muitas mãos, de épocas e lugares diferentes.
Os primeiros capítulos falam inúmeras vezes de Judá e de seus reis do século VIII: Acaz, Ezequias. É o tempo de Oséias[3] e Miquéias,[4] um pouco depois de Amós,[5] quando Judá era um Estado independente. Foi nessa época que viveu o profeta[6] Isaías.[7]
Mas em Isaías 14.5-21 o texto nos leva para Babilônia e crítica a arrogância do rei opressor. Esse conteúdo faz pensar na época da deportação para a Babilônia.[8] E isso aconteceu no século VI, quase dois séculos depois do ministério do profeta Isaías. No final do capitulo 44 e no inicio do seguinte lemos o nome do rei da Pérsia, Ciro. Foi esse rei que tornou possível o fim da deportação e a volta para a terra de Judá, em 538. E o fim do livro revela estarmos diante de Jerusalém a ser recuperada e reconstruída.

Divisão do livro:
              ×           1 a 39 = Isaías - construído a partir do ministério do profeta histórico do final do século VIII a.C.
Em suas palavras prevalecem uma forte crítica à falta de direito e justiça (1.21-26; 5.8-24; 10.1-4). Seus adversários seriam basicamente a elite governante citadina, na figura de conselheiros, sábios, funcionários da corte. A arrogância destas pessoas e sua participação efetiva no sistema de exploração da base camponesa das aldeias e cidades do interior são motivo das criticas.
O profeta, em sua mensagem, anuncia um castigo divino. Este pode ser tanto um julgamento de purificação (Is 1.21-26) quanto uma invasão do exército assírio (910.5).
O objetivo da atuação é restabelecer um estado de direito e justiça (1.260.
              ×           40 a 55 = Dêutero-Isaías - fruto da experiência dos judeus que foram deportados para a Babilônia antes que aparecesse o rei Ciro e a possibilidade de retorno à terra de Judá, século VI a.C.
O material deste bloco fala-se da consolação ao Israel deportado, da compaixão de Yahweh e também se expressam críticas não mais sociais, mas religiosas; o que está em discussão é o afastamento de setores dos deportados pelos “outros deuses”. Yahweh é celebrado como o único, fora do qual não há outro deus (44.6; 45.21).
              ×           56 a 66 = Trito-Isaías - seriam mais bem compreendidos à luz do processo de reconstrução de Jerusalém após a volta do exílio, século V a.C.
A moldura literária externa do bloco destaca os temas do retorno da comunidade exilada (56.1-7). No centro do bloco está o capitulo 66 com os temas fortes da libertação.
A mensagem é que nesta fase de reorganização da vida do povo na província persa de Judá, uma vida eticamente regrada deve ser fio condutor nas relações sociais.[9]

Processo semelhante a esse que notamos no livro de Isaías vamos encontrar também em outros livros, de maneira mais evidente em Miquéias e Zacarias. Os livros proféticos, quase na sua totalidade, são fruto de diversos contextos históricos.
   
Bibliografia:
GUNNEWEG, Antonius H. J. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo. Teológica: 2005.
REIMER, Haroldo. Tradição de Isaías, A. Estudos Bíblicos. Petrópolis. Vozes: 2006. n. 89.
VASCONCELLOS, Pedro Lima. História da Palavra, A. São Paulo. Paulinas: 2003. P. 101.


[1] David Rubens, apontamentos para aula de profetismo no Setevaleh (25/09/2010).
[2] Documentos da época de Jesus ou até anteriores encontrados em 1947 a beira do mar morto.
[3] A profecia de Oséias se dá alguns anos depois da de Amós (em Israel). Vai além do governo de Jeroboão e presencia os últimos anos de existência de Israel, antes da destruição de 722. 
[4] Miquéias atuou no sul, sua profecia tinha aguda crítica social.    
[5] Amós é originário do sul (nasceu em Tecoa, em Judá, 20 km ao sul de Jerusalém), mas realiza suas pregações, cheias de corajosa denúncia, em Israel, em pleno governo de Jeroboão, por volta do ano 760 a.C.
[6] Em hebraico a denominação corrente do profeta era @I¦A¡P nabi. A origem do vocábulo é incerta; com toda a probabilidade quer dizer o que é chamado.
[7] Isaías nasceu e exerceu seu ministério profético em Jerusalém na segunda metade do século VIII. (VASCONCELLOS, Pedro Lima. História da Palavra, A. São Paulo. Paulinas: 2003. P. 101.
[8] Segundo Gunneweg, a proclamação do primeiro Isaías pode ser periodizada assim: de 746 (740) até 735, tempo inicial. A ameaça expansionista assíria vinda do Leste, à qual na verdade sucumbirá o reino do Norte em 722, existe, mas ainda não interfere diretamente na história de Judá. Neste período a mensagem de Isaías se assemelha com a de Amós, Isaías crítica o comportamento ante-social (5.80). O segundo período de proclamação cai na época da guerra sírio-efraimita, de 735 a 734, uma época que também teve importância em Oséias. Episódios em que Isaías interveio cap. 7. Após relativo silêncio, começa o terceiro período da proclamação de Isaías. Deve ser datada entre 716 e 711. Nessa época tornou-se politicamente ativo o rei de Judá, Ezequias, empenhando-se em firmar alianças contra a Assíria, com o objetivo de se libertar conjuntamente do jugo assírio. Isaías rejeitou todos esses esforços políticos. Salvação existe unicamente na fé (28.16). GUNNEWEG, Antonius H. J. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo. Teológica: 2005. pp. 270-272.     
[9] REIMER, Haroldo. Tradição de Isaías, A. Estudos Bíblicos. Petrópolis. Vozes: 2006. n. 89, p. 12.

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