Este estudo justifica-se pelo atual estado da ‘epistemologia teológica cristã’, que se encontra em total confinamento à teoria do conhecimento platônica. Bem como, pelo seu modo de se produzir teologia, ou seja, a caráter da Metafísica.
Nesse caso, o teólogo Ribeiro (10fev2011) afirma que a Teologia cristã, só sabe pensar da seguinte forma “sou metafísica, filha dos deuses, e só sei existir assim, metafísica e no "plano dos deuses"; se eu deixar de ser confessional, de fazer-me no plano da fé, deixo de ser Teologia”. [1]
Assim, valer-se do pensamento do filósofo Immanuel Kant que afirmava, por conseguinte, que a Metafísica era impossível; isso em nível de conhecimento. É de fundamental relevância para o estudo.
Immanuel Kant (1724-1804). Esse filósofo prussiano corresponde com a maior ruptura que a Teologia cristã já conheceu, isto é, deu-se em Kant a emancipação da Metafísica Clássica. Então, pode-se dizer que a Teologia cristã ‘despertou do sono dogmático’; e quando a Teologia descobriu isso, foi à mesma coisa que dizer que o discurso teológico não precisava mais ser orientado pela Metafísica platônica.
Desse modo, havia de ser determinado o que a ‘razão’ pode, ou não pode, conhecer (em sentido epistemológico). Kant utilizou dois conceitos para definir tal sistema de conhecimento, cujos conceitos são: o fenômeno e o númeno kantiano. O teólogo batista Rocha (2010, p. 118) diz que:
O fenômeno é a coisa para nós ou o objeto do conhecimento propriamente dito, é o objeto enquanto sujeito do juízo. O númeno é a coisa em si ou o objeto da metafísica, isto é, o que é dado ao pensamento puro, sem relação com a experiência. [2]
Nestas condições, esta afirmação mostrou que o sujeito do conhecimento só poderia conhecer aquilo que se configura no ‘tempo e no espaço’ - fenômeno. Em detrimento, do conhecimento que não é apresentado à sensibilidade, de modo que o pensamento puro não produz conhecimento – ἐπιστήμη, isto é, verdadeiro conhecimento - númeno.
Assim, nas palavras do filósofo e economista Giannetti (29jan2011) “não há estado mental sem um correlato neurofisiológico que o corresponda”. [3] Portanto, com o avanço na neurociência sabemos, bem mais que Kant. Dado que, todo conhecimento é, sempre conhecimento de alguma coisa.
Na concepção teológica abre a possibilidade de construir a Teologia cristã de outra forma, que não seja, necessariamente, aquela do mundo da ideias platônica. Na qual o mundo verdadeiro é o mundo das reminiscências, da alma preexistente que contemplou todo conhecimento ideal, mas que infelizmente está presa no mundo sensível.
Então, a mesma teve que procurar outra plataforma epistemológica para construir o Cristianismo. Em resumo, a Teologia cristã não se restringiu a um ‘dualismo’ entre o mundo ideal e o mundo sensível. Em uma disjunção ultra – mundo desvinculado do mundo do fenômeno, na qual a trama da história se desenrola.
Portanto, a caráter da fenomenologia da religião. A Teologia cristã pode ser epistemologicamente científico - humanista, isto é, ela deve ser construída heuristicamente. E, consequentemente, se deve produzir uma teologia – histórico – crítica. Contudo, Küng diria:
Precisa-se de uma teologia feita a partir do atual horizonte de experiência, uma teologia rigorosamente científica, e, portanto, aberta ao mundo e orientada ao presente. Parece-me que só essa teologia merece hoje um lugar na universidade, ao lado das outras ciências. [4]
[1] Ribeiro, Osvaldo L. Peroratio. Pensar fora do quadrado. Disponível em: <http://peroratio.blogspot.com/2011_01_01_archive.html> acessado em: 10/02/2011.
[2] Rocha, Alessandro Rodrigues. Uma Introdução a Filosofia da Religião: um olhar da fé cristã sobre a relação entre filosofia e religião na história do pensamento ocidental. 1. Ed. São Paulo: Editora vida, 2010. P. 118.
[3] Giannetti, Eduardo. Sempre um papo. Falando sobre o livro “Ilusão da Alma”. Disponível em: <http://www.sempreumpapo.com.br/audiovideo/player.php?id=214> acessado em: 29/01/2011.
[4] Ribeiro, Osvaldo L. apud Kung, Hans. Teologia a caminho. São Paulo: Paulinas, 1999.
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