9 de maio de 2012

A epistemologia genética de Jean Piaget: a construção como caminho do conhecimento


Jean Piaget nasceu em Neuchâtel, Suíça, em 1896. Aos 10 anos publicou seu primeiro artigo científico, sobre um pardal albino. Desde cedo interessado em filosofia, religião e ciência, formou-se em biologia na universidade de Neuchâtel e, aos 23 anos, mudou-se para Zurique, onde começou a trabalhar com o estudo do raciocínio da criança sob a ótica da psicologia experimental. Em 1924, publicou o primeiro de mais de 50 livros, A Linguagem e o Pensamento na Criança.
Antes do fim da década de 1930, já havia ocupado cargos importantes nas principais universidades suíças, além da diretoria do Instituto Jean-Jacques Rousseau, ao lado de seu mestre, Édouard Claparède (1873-1940). Foi também nesse período que acompanhou a infância dos três filhos, uma das grandes fontes do trabalho de observação do que chamou de "ajustamento progressivo do saber". Até o fim da vida, recebeu títulos honorários de algumas das principais universidades européias e norte americanas. Morreu em 1980 em Genebra, Suíça.
Logo, é necessário, discutir sucintamente a epistemologia genética de Piaget. À medida que no pensamento do biólogo – o ser humano constrói seu próprio conhecimento. O ser humano não nasce pronto. O mundo não está acabado. Ou seja, o homem não possui um conhecimento prévio das coisas e nem pode conhecer de forma objetiva alguma coisa sobre o mundo. Isso não significa que haja uma negação do sistema de conhecimento apriorista ou empirista, mas é que ambos se interagem no processo de conhecimento e são essenciais para que o indivíduo venha conhecer.    
Para Piaget só há conhecimento quando existe uma adaptação (momento onde o sujeito modifica o meio e é também modificado por ele) do sujeito epistêmico ao meio físico, onde o mesmo passa a organizar o ambiente através de ações biológicas constantes e substituíveis – por um novo conhecimento mais elevado. Para ele conhecer significa “organizar, estruturar e explicar as experiências do sujeito com o mundo dos objetos” (OLIVEIRA et al., 2001 apud RELVAS, 2005, p. 102).

Piaget estudou essa organização progressiva desde o seu início na criança recém-nascida, representando-a por meio de espiral com espiras que começam diminutas, mas que se alargam em função da subida, ou seja, o alargamento acompanha os processos da inteligência. Tal ilustração possibilita que se entenda, entre outras coisas, o que ele expõe sobre a natureza construtivista de sua teoria (SEBER, 1989, p. 15).

Desse modo, no processo de desenvolvimento cognitivo acontece um agrupamento[1] dos estados particulares do objeto. E, assim, passa a ocorrer uma equilibração[2] que causa a transição de um estágio para o outro (complexidade crescente).  Segundo Piaget (1972, p. 184), isso acontece porque o “[...] agrupamento realiza assim, pela primeira vez, o equilíbrio entre a assimilação das coisas face à ação do sujeito e a acomodação dos esquemas subjetivos às modificações das coisas”.
Piaget vê a assimilação (explica o crescimento de uma mudança quantitativa) e a acomodação (explica o desenvolvimento de uma mudança qualitativa) como fatores que se completam e não podem ser separados. Na assimilação o indivíduo transforma o meio para sua própria necessidade e na acomodação reestrutura os esquemas de assimilação estabelecendo o novo conhecimento. Conforme afirma Relvas (2005, p. 103),
 
E quando o indivíduo não consegue responder às solicitações do meio utilizando estruturas já formadas, ocorre um desequilíbrio entre as estruturas já construídas e aquelas exigidas pela situação. Tal equilíbrio exige uma auto-regulação implicando, por sua vez, uma reorganização dos esquemas em funcionamento. A superação desses desequilíbrios se faz por equilibrações majorantes.
  
Na compreensão do funcionamento intelectual Piaget mostrou que “os processos mentais decorrem de uma interação adaptativa do indivíduo ao meio do conhecimento por organizações progressivas” (RELVAS, 2005, p. 103). Portanto, a epistemologia genética de Jean Piaget é o estudo de como se passa de um conhecimento para outro conhecimento superior.


BIBLIOGRAFIA

BELLO, José Luiz de Paiva. A teoria básica de Jean Piaget. Vitória, 1995a. 12 p. Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per09.htm>. Acesso em: 20 abr. 2011.

_____. Glossário de termos piagetianos. Vitória, 1995b. 10 p. Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per09a.htm>. Acesso em: 20 abr. 2011.

LA TAILLE, Yves; OLIVEIRA, Marta Kohl; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. 13. ed. São Paulo: Summus, 1992. 120 p.

Piaget, Jean. Psicologia da Inteligência. 2. ed. São Paulo: Fundo de Cultura, 1972. 229 p.

_____. Piaget por Piaget: a epistemologia de Jean Piaget. Direção: Claude Goretta/Jean Piaget. Produção: Universidade de Yale (EUA), 1997. 1 DVD (37 mim), som, colorido.
  
RELVAS, Marta Pires. Fundamentos Biológicos da Educação: Despertando inteligências e afetividade no processo de aprendizagem. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2009. 116 p.

SEBER, Maria da Glória. Construção da inteligência pela criança: atividades do período pré-operatório. São Paulo: Scipione, 1989. 320 p.
   

[1] [...] é a formalização dada por Piaget para descrever o pensamento operatório [...] equilíbrio das relações sociais [...] (TAILLE, 1992, p. 14). 
[2] [...] processo regulador interno de diferenciação e coordenação que tende sempre para uma melhor adaptação (Kamii, 1991 apud BELLO, 1995b, p. 5).