16 de outubro de 2012

Luiz Felipe Pondé - A Tirania da Felicidade e o Mundo do Trabalho


Eu assisti e gostei! Portanto, compartilho daquilo que Pondé afirmou e, que também, acho valido para pensarmos. "É difícil ter auto-estima, quando o ser humano é mortal, finito, adoece, perde quem ama, não sabe direito das coisas... a experiencia da auto-estima é uma experiencia difícil". Por isso, concordo, quando a Bíblia afirma que "Bem-aventurados os... (Mateus 5)". Acredito que para gozarmos da vida é preciso ter sofrimentos. Pois, o homem sem dores não é o homem que eu conheço, só se ele for artificial.    

26 de setembro de 2012

Karl Barth: revelação




The God who spoke his decisive word in Jesus Christ, this is not a dead God, like the fools are saying today. Instead, this is the lively God who also speaks today. And, if we had ears to listen, we could   hear him constantly. Because the world we live in was created by him. 

O Deus que falou a sua palavra decisiva em Jesus Cristo, este não é um Deus morto, como os tolos estão dizendo hoje. Em vez disso, este é o Deus vivo que também fala hoje. E, se tivéssemos ouvidos para ouvir, poderíamos ouvi-lo constantemente. Porque o mundo em que vivemos foi criada por ele.

26 de agosto de 2012

O que é ser evangélico hoje?

Não queremos entender o termo "evangélico" de forma confessionalista, já que ele aponta em primeiro lugar e de modo decisivo para a Bíblia, a qual, de alguma maneira, é respeitada em todas as confissões (BARTH, Karl. Introdução a teologia evangélica. 9ª ed. rev. São Leopoldo: Sinodal, 2007. p. 10).

Parafraseando o Dr. Júlio Zabatiero ser evangélico hoje é muito difícil. Temos várias opções confessionais, mas, nem todas, se enquadram no perfil do Evangelho constituto pelas comunidades cristãs primitivas, a respeito de Jesus. De certo modo, o objetivo também não é forjar, um Jesus a nossa imagem e semelhança (como aconteceu no inicio e nas variadas confissões religiosas da atualidade). O objetivo, é no mínimo, tentar se aproximar, ainda que palidamente da figura do Jesus histórico, e assumir os valores do Reino de Deus encarnados por Ele. Ser evangélico hoje é embaraçoso, pois a igreja assumiu características próprias da politica neoliberal do Brasil (coisa que eu acho que acontece com a humanidade, desde o principio, por isso o motivo da igreja permanecer viva por longos, e longos, anos). Sem essa de que Jesus ainda fala até depois de morto (a quem diga que ele ressuscitou e ascendeu aos céus e esta a destra de Deus). Ele só fala para os ingênuos na fé (ou seja, aos essencialmente religiosos, esses coitados). Não que eu desvalorize a importância da igreja, mais é que, do jeito que tá, nem o próprio Deus, da jeito. Logo, ser evangélico hoje demanda uma atitude interior, que faz do cosmos, um lugar, onde haja convivência tolerante entre os seres vivos. 

                     

29 de julho de 2012

EDUCAÇÃO CRISTÃ: algumas reflexões


AULA 1 – 29/04/2012
Professor: Fernando

1 A educação no período Bíblico
1.1 EDUCAÇÃO HEBRAICA: antes, durante e depois do Egito até os profetas pré-babilônicos 

A educação hebraica valorizava os atos de Deus na história.  Os hebreus formaram-se de pastores que cuidavam de rebanhos nas planícies de Israel e nas regiões circunvizinhas. Conforme afirma Lopes (2010, p.40), “a educação estava focada na família, pois, num primeiro momento, não havia escolas, e as crianças recebiam dos pais a instrução moral e religiosa”. O menino aprendia a profissão com pai e a menina aprendia os afazeres domésticos com a mãe. O pai era o centro da família e ensinava aos filhos as leis do Senhor e seu conteúdo moral.
“Após a libertação de Israel, do Egito, além da educação familiar, os ensinamentos passaram a ser ministrados pelos sacerdotes; a educação passou a ter dois centros basilares: a família e o sacerdote” (LOPES, 2010, p. 40).
Eles se organizavam em tribos, que haviam sido formadas por seminômades. Grupos étnicos governados por um patriarca que determinava a crença, para poder alcançar as dádivas de Deus. Os hebreus eram pastores e agricultores que viviam próximos aos rios[1] (sociedade hidráulica – neolítica[2]) e possuíam a “técnica de fazer cisternas” (SCHWANTES, 2008, p. 13). E que para sobreviver faziam intercambio de mercadorias. Este tipo de vida era passada de pai para filho e de mãe para filha.  
O Egito se moldou a luz das estruturas sociais dos asiáticos, que eram sociedades agrícolas ligadas ao problema da irrigação. Do mesmo modo, os hebreus quando se constituíram em Canaã. Nestas sociedades as divindades se apresentam por uma série de teofanias.[3] E a tradição sagrada era orientada pelo sacerdote que foi responsável por autorizar e interpretar a religião (sacralização dos saberes).
Segundo Cambi (1999, p. 61),

A educação também muda profundamente: 1. Ela é, ainda, transmissão da tradição e aprendizagem por imitação, mas tende a tornar-se cada vez mais independente deste modelo e a redefinir-se como processo de aprendizagem e transformação ao mesmo tempo; 2. Liga-se cada vez mais a linguagem – primeiro oral, depois escrita –, tornando-se cada vez mais transmissão de saberes discursivos (ou discurso-saberes) e não somente de práticas, de processos que são apenas, ou, sobretudo, operativos; 3. Reclama uma institucionalização desta aprendizagem num local destinado a transmitir a tradição na sua articulação de saberes diversos: escola. Instituição esta que se torna cada vez mais central até que das sociedades arcaicas se passa aos estados territoriais e a uma rica e articulada divisão dos saberes que reflete a do trabalho, o qual e cada vez mais especializado e tecnicizado. Será uma escola dúplice (de cultura e de trabalho: liberal e profissional) que acentuará o profundo dualismo próprio das sociedades hidráulicas ou agrícolas, ligada ao enrijecimento dos papéis sociais em classes sociais separadas, com alguns aspectos quase de castas.          
           
A sociedade hebraica foi estabelecida no corredor do mundo antigo (atual Palestina). E sofreu com reis que não se preocupavam com o povo. Além do mais, passaram por longos períodos de seca. Eles estavam submetidos à destruição e a barbárie. Eram camponeses e guerreiros orientados pelos governantes déspotas. Os hebreus foram ligados a seminômades, patriarcas e pastores, em seu início ou gênese. O povo costumava-se se renovar através de uma visão religiosa revolucionária, monoteísta e espiritual. Toda sua educação se organizava em torno dos textos sagrados. “Solicitada a reconquistar constantemente a mensagem mais genuína através da obra de estímulo e de denuncia dos profetas” (CAMBI, 1999, p. 64). O profetismo é o traço pedagógico mais original da experiência político-cultural de Israel.


Referencias
LOPES, Edson Pereira. Fundamentos da teologia da educação cristã. São Paulo: Mundo Cristão, 2010.
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São Paulo: Fundação da Editora da UNESP (FEU), 1999.
SCHWANTES, Milton. Breve história de Israel. São Leopoldo: Oikos, 2008.




[1] A água assume a função primordial na vida do ser humano: irrigar para plantar.
[2] Neolítico, também conhecido como Idade da Pedra Polida foi à fase da pré-história que ocorreu entre 12 mil e 4 mil a.C. O início deste período é marcado com o fim das glaciações (época em que quase todo planeta ficou coberto de gelo) e termina com o desenvolvimento da escrita na Suméria (região da Mesopotâmia). Disponível em: < http://www.suapesquisa.com/pesquisa/neolitico.htm>. Acesso em: 28 abr. 2012.
[3]Teofania é um conceito de cunho teológico que significa a manifestação de Deus em algum lugar, coisa ou pessoa. Tem sua etimologia enraizada na língua grega: "theopháneia" ou "theophanía". Ver Êxodo 3. Origem Wikipédia.  

24 de junho de 2012

HERMENÊUTICA: algumas reflexões


          AULA 1 – 22/04/2012
           Prof. Fernando


1.    O que significa "Hermenêutica"?
Gingrich, F. Wilbur. Léxico do Novo Testamento: Grego / Português. São Paulo: Vida Nova, 1993. p. 85.
ερμηνεία, ας, ή tradução, interpretação 1 Co 12.10; 14.26.*
ερμηνευτής, ου, ό tradutor 1 Co 14.28 v.l.*[hermenêutica]
ερμηνεύω explicar, interpretar Lc 24.27 v.l.Traduzir Jo 1.38 v.l., 42; 9.7; Hb 7.2.»
Έρμης, ου, ό Hermes—1. O deus grego At 14.12.—2. Uma pessoa que recebeu saudações Rm 16.14.* [hermético]


2. Origem do Termo
O termo "hermenêutica" provém do verbo grego ερμηνεύειν / hermeneuein e significa "declarar", "anunciar", "interpretar", "esclarecer" e, por último, "traduzir". Significa que alguma coisa é "tornada compreensível" ou "levada à compreensão".
Alguns defendem que o termo deriva do nome do deus da mitologia grega Hermes, o mensageiro dos deuses, a quem os gregos atribuíam à origem da linguagem e da escrita. É considerado o patrono da comunicação e do entendimento humano. O certo é que este termo originalmente exprimia a compreensão e a exposição de uma sentença "dos deuses", a qual precisa de uma interpretação para ser apreendida corretamente.
Encontra-se desde os séculos XVII e XVIII o uso do termo no sentido de uma interpretação correta e objetiva da BíbliaSpinoza é um dos precursores da hermenêutica bíblica.
Outros dizem que o termo “hermenêutico” deriva do grego "hermēneutikē" que significa "ciência", "técnica" que tem por objeto a interpretação de textos poéticos ou religiosos, especialmente da Ilíada e da "Odisséia"; "interpretação" do sentido das palavras dos textos; "teoria", ciência voltada à interpretação dos signos e de seu valor simbólico.
Hermes é tido como patrono da hermenêutica por ser considerado patrono da comunicação e do entendimento humano – (Cf. pt.wikipedia.org/wiki/Hermenêutica).

3. A necessidade da interpretação Bíblica
            Interpretar a Bíblia é um dos maiores desafios do nosso tempo, pois os cristãos estão sujeitos a todo tipo de declaração em nome do Deus de Jesus de Nazaré. Constitui-se aí um grande desafio para todo fiel. Além do mais, as Escrituras vêm sendo usada para “satisfação de todos os desejos humanos através do acúmulo de riquezas” (RUBENS, 2011, p. 43). Movimentando, assim, todo um mercado religioso (Cf. Mc 10. 23; 1 Tm 6. 1-10; Tg 5. 1-6). Um outro, motivo muito bem intencionado – é que o povo lê a Bíblia para vencer os desafios da vida cotidiana. Mas, em certo sentido, existe uma necessidade singular de se interpretar o texto Bíblico. Como se sabe, as Escrituras se configuram como Palavra de Deus para todos os cristãos (Cf. Jo 20. 31; 2 Tm 3.16; 2 Pd 1.19-21).

A Bíblia ocorre como resultado das ações divina e humana. Deus acontece na historicidade humana e é em meio a esse processo que ele se manifesta, mesmo com todas as contingências humanas, a partir do modo humano de compreender a Deus. Logo, concebe o texto bíblico como produto da simultaneidade entre o divino e o humano. É uma abordagem conjuntiva e não disjuntiva (MENDES; SANTOS, 2007, p. 540).  

Todavia, é possível tratar a Bíblia como Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, considerar todas as suas afirmações como culturalmente determinadas – com todas as implicações teórico-metodológicas (teológicas, eclesiásticas, éticas) advindas dessa afirmação.[1] De semelhante modo, a pergunta de Felipe ao etíope ecoa até nossos dias... Compreendes o que vens lendo?[2] Como o escritor de segundo Pedro já nos alertava acerca dos escritos paulinos. [...] nas suas epístolas, nas quais a certas coisas difíceis de entender  [...].[3] Qual seria a mediação hermenêutica necessária para interpretar as Escrituras? Segundo afirma Airton José da Silva[4] cinco perguntas são fundamentais:

1.     Como conseguir uma reconstrução do texto a mais próxima possível do original?
2.     Qual é a proveniência do texto, quem é o seu autor, quais são as suas características literárias, seu contexto histórico-cultural?
3.     Qual é o gênero literário do texto analisado, as formas fixas do discurso utilizado, mesmo na sua fase de transmissão oral, qual o seu contexto social e a intenção de sua linguagem específica?
4.     Como o autor trabalhou teologicamente o material recebido da tradição, dando-lhe a forma atual?
5.     Como foi o desenvolvimento progressivo da tradição desde as camadas pré-literárias até a sua elaboração por escrito?

Para responder a tantas questões, a exegese criou e desenvolveu nos últimos séculos um vasto instrumental histórico-crítico[5] conhecido como: crítica textual, crítica literária, crítica e história das formas, história da redação e história da tradição.[6] Entretanto, em meio a tantas perguntas e questionamentos, o que tudo indica é que a “[...] preocupação principal do povo não é interpretar a Bíblia, mas é interpretar a vida com a ajuda da Bíblia” (MESTERS, 1999, p. 37). No demais, seria muito válido utilizar uma metodologia adequada para ler a Bíblia, e ao mesmo tempo aplicá-la a vida dos cristãos.

BIBLIOGRAFIA

BOST, Bryan Jay; PESTANA, Álvaro César. Do texto a paráfrase: como estudar a Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1992.
Gingrich, F. Wilbur. Léxico do Novo Testamento: Grego / Português. São Paulo: Vida Nova, 1993.
Mendes, Jones Talai; Santos, Eduardo da Silva. Considerações sobre inspiração Bíblica. Teocomunicação, Porto Alegre, v. 37, n. 158, p. 537-551, dez. 2007.
MESTERS, Carlos. Flor sem defesa: uma explicação da Bíblia a partir do povo. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
Novo Testamento. Almeida Revista e Atualizada no Brasil. 2. ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011.  
RUBENS, David. Jesus: Modelo de Práxis Social-Cristã. Pindamonhangaba: DRS, 2011.


[2] Ver. At 8. 30.
[3] Ver. 2 Pd 3.16.
[4] Ler a Bíblia Hoje. Disponível em: <http://www.airtonjo.com/ler_biblia02.htm>. Acesso em: 16 de abril de 2012.  
[5] A palavra crítico tem geralmente uma conotação negativa. Não queremos usá-la desta forma. O método é crítico em avaliar os resultados obtidos e em pesá-los. Nunca deve torna-se crítico contra a Bíblia (BOST; PESTANA, 1992, p. 9).
[6] Idem, Ler a Bíblia Hoje.

10 de junho de 2012

A morte como instante de vida - Scarlett Marton


''Por que a morte é sempre vista como uma espécie de escândalo? Por que esse acontecimento banal provoca ao mesmo tempo horror e curiosidade? Os antigos diziam que a filosofia era uma longa meditação sobre a morte; os modernos quiseram afastá-la de suas preocupações; nós, contemporâneos, procuramos bani-la de nosso mundo. Mas a morte se acha profundamente ligada à vida, colocando em causa o sentido da existência, propondo ao homem o desafio de pensar a sua própria condição''.

9 de maio de 2012

A epistemologia genética de Jean Piaget: a construção como caminho do conhecimento


Jean Piaget nasceu em Neuchâtel, Suíça, em 1896. Aos 10 anos publicou seu primeiro artigo científico, sobre um pardal albino. Desde cedo interessado em filosofia, religião e ciência, formou-se em biologia na universidade de Neuchâtel e, aos 23 anos, mudou-se para Zurique, onde começou a trabalhar com o estudo do raciocínio da criança sob a ótica da psicologia experimental. Em 1924, publicou o primeiro de mais de 50 livros, A Linguagem e o Pensamento na Criança.
Antes do fim da década de 1930, já havia ocupado cargos importantes nas principais universidades suíças, além da diretoria do Instituto Jean-Jacques Rousseau, ao lado de seu mestre, Édouard Claparède (1873-1940). Foi também nesse período que acompanhou a infância dos três filhos, uma das grandes fontes do trabalho de observação do que chamou de "ajustamento progressivo do saber". Até o fim da vida, recebeu títulos honorários de algumas das principais universidades européias e norte americanas. Morreu em 1980 em Genebra, Suíça.
Logo, é necessário, discutir sucintamente a epistemologia genética de Piaget. À medida que no pensamento do biólogo – o ser humano constrói seu próprio conhecimento. O ser humano não nasce pronto. O mundo não está acabado. Ou seja, o homem não possui um conhecimento prévio das coisas e nem pode conhecer de forma objetiva alguma coisa sobre o mundo. Isso não significa que haja uma negação do sistema de conhecimento apriorista ou empirista, mas é que ambos se interagem no processo de conhecimento e são essenciais para que o indivíduo venha conhecer.    
Para Piaget só há conhecimento quando existe uma adaptação (momento onde o sujeito modifica o meio e é também modificado por ele) do sujeito epistêmico ao meio físico, onde o mesmo passa a organizar o ambiente através de ações biológicas constantes e substituíveis – por um novo conhecimento mais elevado. Para ele conhecer significa “organizar, estruturar e explicar as experiências do sujeito com o mundo dos objetos” (OLIVEIRA et al., 2001 apud RELVAS, 2005, p. 102).

Piaget estudou essa organização progressiva desde o seu início na criança recém-nascida, representando-a por meio de espiral com espiras que começam diminutas, mas que se alargam em função da subida, ou seja, o alargamento acompanha os processos da inteligência. Tal ilustração possibilita que se entenda, entre outras coisas, o que ele expõe sobre a natureza construtivista de sua teoria (SEBER, 1989, p. 15).

Desse modo, no processo de desenvolvimento cognitivo acontece um agrupamento[1] dos estados particulares do objeto. E, assim, passa a ocorrer uma equilibração[2] que causa a transição de um estágio para o outro (complexidade crescente).  Segundo Piaget (1972, p. 184), isso acontece porque o “[...] agrupamento realiza assim, pela primeira vez, o equilíbrio entre a assimilação das coisas face à ação do sujeito e a acomodação dos esquemas subjetivos às modificações das coisas”.
Piaget vê a assimilação (explica o crescimento de uma mudança quantitativa) e a acomodação (explica o desenvolvimento de uma mudança qualitativa) como fatores que se completam e não podem ser separados. Na assimilação o indivíduo transforma o meio para sua própria necessidade e na acomodação reestrutura os esquemas de assimilação estabelecendo o novo conhecimento. Conforme afirma Relvas (2005, p. 103),
 
E quando o indivíduo não consegue responder às solicitações do meio utilizando estruturas já formadas, ocorre um desequilíbrio entre as estruturas já construídas e aquelas exigidas pela situação. Tal equilíbrio exige uma auto-regulação implicando, por sua vez, uma reorganização dos esquemas em funcionamento. A superação desses desequilíbrios se faz por equilibrações majorantes.
  
Na compreensão do funcionamento intelectual Piaget mostrou que “os processos mentais decorrem de uma interação adaptativa do indivíduo ao meio do conhecimento por organizações progressivas” (RELVAS, 2005, p. 103). Portanto, a epistemologia genética de Jean Piaget é o estudo de como se passa de um conhecimento para outro conhecimento superior.


BIBLIOGRAFIA

BELLO, José Luiz de Paiva. A teoria básica de Jean Piaget. Vitória, 1995a. 12 p. Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per09.htm>. Acesso em: 20 abr. 2011.

_____. Glossário de termos piagetianos. Vitória, 1995b. 10 p. Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per09a.htm>. Acesso em: 20 abr. 2011.

LA TAILLE, Yves; OLIVEIRA, Marta Kohl; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. 13. ed. São Paulo: Summus, 1992. 120 p.

Piaget, Jean. Psicologia da Inteligência. 2. ed. São Paulo: Fundo de Cultura, 1972. 229 p.

_____. Piaget por Piaget: a epistemologia de Jean Piaget. Direção: Claude Goretta/Jean Piaget. Produção: Universidade de Yale (EUA), 1997. 1 DVD (37 mim), som, colorido.
  
RELVAS, Marta Pires. Fundamentos Biológicos da Educação: Despertando inteligências e afetividade no processo de aprendizagem. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2009. 116 p.

SEBER, Maria da Glória. Construção da inteligência pela criança: atividades do período pré-operatório. São Paulo: Scipione, 1989. 320 p.
   

[1] [...] é a formalização dada por Piaget para descrever o pensamento operatório [...] equilíbrio das relações sociais [...] (TAILLE, 1992, p. 14). 
[2] [...] processo regulador interno de diferenciação e coordenação que tende sempre para uma melhor adaptação (Kamii, 1991 apud BELLO, 1995b, p. 5).

10 de abril de 2012

JOÃO BATISTA E JESUS DE NAZARÉ


João Batista antes de Jesus:
Sacerdote do deserto e profeta de libertação



As origens de João Batista

O que sabemos de João Batista se deve ao curioso relato de Lucas 1.5-25; 57-80, que provavelmente vem de uma tradição dos grupos seguidores de João. A narração tem um evidente tom etiológico, já que é feita para justificar a missão posterior de João. Segundo Senén Vidal, “o modelo da narração é típico da tradição israelita sobre origens maravilhosas de personagens famosos”.[1]
A origem histórica de João esta numa família sacerdotal rural. A indicação sobre a abstinência de bebidas alcoólicas (Lc 1.15) é uma antecipação do estilo de vida do posterior profeta do deserto, e esta também relacionado com o caráter sacerdotal de João, pois parece referir-se à norma sobre o serviço dos sacerdotes (Lv 10.9).

O Batismo e a oposição ao Templo

O fato estranho e absolutamente novo na tradição israelita quanto aos ritos batismais, de que João efetuava o batismo de conversão “para o perdão dos pecados” (Mc 1.4) talvez aponte que ele exercia uma função mediadora do perdão de Deus, ao estilo da que exerciam os sacerdotes por meio de seu serviço no Templo.
A oposição ao culto sacrificial do Templo poderia ter seu ponto de apoio na experiência de desilusão de um sacerdote rural ante o aparato do Templo em Jerusalém, dominado por uma aristocracia sacerdotal opressora (João apoiado na figura critica de Elias, Lc 1.16-17. Elias também tinha características sacerdotais, além de profética).

Sacerdote do Deserto

A noticia do crescimento de João no deserto (Lc 1.8), não se trata de uma noticia histórica, mas de uma simples indicação literária que teria a função de ligar o relato das origens de João com relato de sua missão posterior, que teve lugar no deserto.
Vidal informa que “não existem dados suficientes para resolver a possível conexão das origens de João com o movimento essênio, concretamente como comunidade de Qumran, um grupo especial dentro do amplo movimento essênio da palestina de então”.[2]
No entanto, a origem sacerdotal rural de João, se enquadraria com sua pertença à comunidade qumrânica, dado que esta era dirigida por um grupo sacerdotal separado da aristocracia sacerdotal do Templo em Jerusalém.
O rito batismal de João derivaria imediatamente da típica prática dos banhos purificadores da comunidade de Qumran, só que João teria radicalizado seu sentido, convertendo o batismo efetuado por ele num rito único e com caráter definitivo.

A crise de Israel

Segundo a tradição, a vocação profética de João se inflamou no contato com a situação crítica em que o povo de Israel se encontrava. A adequada compreensão do projeto de João exige, pois, umas precisões sobre o caráter da situação histórica do povo palestino de então.
As dimensões da crise eram muito variadas, porém todas apontavam para algo básico: a questão da sobrevivência de Israel como povo assentado em sua tradição ancestral.
- Crise política: A situação de opressão e calamidade era sentida como uma profunda injustiça ante a qual brotava inevitavelmente a pergunta pela justiça libertadora de Deus em favor de seu povo eleito.[3]
- Crise religiosa: A dura experiência de calamidade convertia-se assim numa aguda religiosa, que questionava a própria existência do povo fundado na eleição e na aliança com Deus.
Ai está o pressuposto dos numerosos movimentos de renovação que surgiram naquela época, dentre os quais deve-se incluir o movimento profético de João.[4]
Além da crise política e religiosa, era sentida também a crise econômica experimentada pela maior parte do povo palestino do século I, especialmente o das aldeias, nas quais vivia a maior parte da população daquela sociedade fundamentalmente agrária.

Causas da Crise Econômica

- Tipo ecológico: Em todas as regiões a maior parte do terreno era muito pobre, as secas eram freqüentes, e além disso devia-se contar com as catástrofes naturais.
- Ano Sabático: A terra ficava improdutiva a cada sete anos, provocando uma escassez periódica de alimentos.
- Tipo Sociopolítico: Estrutura centralizada, acumulação de terras e riquezas em mãos de uma minoria protegida pela administração, os grandes proprietários que moravam nas cidades.[5]
- Rígido sistema de impostos: Sobre as pessoas físicas e propriedades, além dos impostos dedicados ao Templo e aos sacerdotes, constitui uma fonte de endividamento para uma grande parte da população camponesa.[6]   
Para o povo de Israel, a experiência dessa opressão econômica tinha uma conotação especial que lhe causava uma autêntica crise de identidade.

A visão do profeta

João, judeu palestinense do século I, teve de experimentar com força essa crise do Israel de seu tempo. A visão que João tinha dessa crise era, com efeito, muito mais radical que a dos diversos movimentos de renovação contemporâneos. Era a visão do profeta do momento decisivo na história de Israel. Um testemunho dessa visão é transmitido por Mateus, Mt 3.7-8.

Conclusão

 A visão radical de João foi o ponto de partida e a base de sua missão profética. Porém, a radicalização dessa visão tinha a função de mostrar a radicalidade da libertação e da renovação do povo que João apresentava em sua missão. É nesse amplo horizonte de salvação que se deve situar o forte tom de advertência e de juízo da proclamação de João. Igualmente nos profetas israelitas anteriormente a ele, esse tom tinha por objeto não a condenação de Israel, mas precisamente sua libertação e transformação. A radical denuncia apontava para a salvação radical.     


             
David Rubens
16-07-2011



[1] VIDAL, Senén. Jesus, O Galileu. São Paulo: Loyola, 2009. p. 21.
[2] VIDAL, Senén. Jesus, O Galileu. São Paulo: Loyola, 2009. p. 22.
[3] RUBENS, David. Jesus: Modelo de Práxis Social-Cristã. São Paulo: Kerygma, 2011. p. 19.
[4] VIDAL, Senén. Jesus, O Galileu. São Paulo: Loyola, 2009. p. 24.
[5] RUBENS, David. Jesus: Modelo de Práxis Social-Cristã. São Paulo: Kerygma, 2011. p. 27.
[6] Ibidem, p. 19.

6 de abril de 2012

Teorias históricas de Jesus: John P. Meier

John P. Meier
 • Um judeu marginal: Repensando o Jesus Histórico, Volume 3 (Anchor Books 2001).
• Um judeu marginal: Repensando o Jesus Histórico, Volume 2 (Doubleday 1994).
• Um judeu marginal: Repensando o Jesus Histórico, Volume 1 (Doubleday 1991).

No primeiro volume, Meier olha "as raízes do problema e da pessoa." Meier faz uma distinção entre o Jesus real, a pessoa real que andou nas areias da Palestina, e do Jesus histórico, uma abstração que representa o que podemos saber sobre Jesus.Meier identifica Q, Marcos, Mateus especial, especial Lucas e João como a representação de cinco fontes independentes dentro do Novo Testamento. Contrariando uma tendência do "Quest Terceiro", Meier rejeita as tentativas de argumentar que o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Pedro, e material não-canônico outro pode ser independente do Novo Testamento. Meier afirma que Josefo fornece uma confirmação independente da historicidade de Jesus, mas as outras referências na literatura judaica e pagã tem pouco valor. Meier expõe seus critérios de historicidade; cinco critérios principais de constrangimento, a descontinuidade, atestação múltipla, coerência e "rejeição e execução", bem como quatro critérios duvidosos de traços de meio ambiente, aramaico palestino, vivacidade da narração, e tendências do desenvolvimento tradição sinóptica. Meier afirma que a Nazaré é um berço mais provável do que Belém, bem como que Jesus teve irmãos reais. Meier afirma que Jesus era ao contrário de muitos de seus contemporâneos, em que ele era alfabetizada. Meier tenta uma analogia para a situação econômica de Jesus como "um trabalhador de colarinho azul em baixa classe média americana" (p. 282), por que ele quer dizer que a situação económica de Jesus era típica dos galileus, embora isso em si já era não é grande.
No segundo volume, Meier examina "mentor, mensagem e milagres." Meier afirma fortemente para o batismo de Jesus por João. Meier também argumenta que o Jesus histórico, como o João histórico, pregou o Reino com um sentido de futuro e não apenas um sentimento presente. "Jesus não só se apresentou como o profeta escatológico da vinda do Reino de Deus, não só se apresentou como o Elias como milagreiro que fez o reino futuro já eficaz e palpável para seus seguidores, mas ao mesmo tempo apresentado como hmself um professor que poderia dizer israelitas como observar a Lei de Moisés - de fato, que poderia até mesmo dizer israelitas o que eles devem ou não observar a lei ".(P. 1046) Meier afirma que um milagreiro Elias como profeta escatológico não é tão facilmente relevante para nós hoje como um "rabino bondoso que pregava gentileza e amor" domesticado (p. 1045). No entanto, diz Meier, o Jesus histórico era um profeta.




Como interpretar a Bíblia?

Métodos de Interpretação Bíblica
Osvaldo Luiz Ribeiro

A palavra método significa caminho através do qual. Método é, pois, um caminho que se escolhe para chegar a algum lugar. No caso da interpretação bíblica, o método se refere ao caminho que o leitor usa para chegar à mensagem da Bíblia. Confuso? Talvez seja possível dizer a mesma coisa de forma diferente.

A Bíblia é fruto de cultura, tempo e lugar muito distantes
A mensagem da Bíblia não está resumida num prefácio. Os leitores devem esforçar-se para descobrir afinal o que ela tem a dizer. Esse esforço vem sendo empreendido desde o início. A Segunda Carta de Pedro (3.16) testemunha que certas passagens das cartas de Paulo já naquele tempo ofereciam dificuldades para compreensão. Os leitores da Bíblia não têm todos as mesmas opiniões a respeito de sua mensagem, e não têm todos a mesma forma de pensar; têm preferências religiosas, teológicas, políticas e culturais muito diferentes. Isso tudo acaba exercendo pressão sobre a forma como entendem que a Bíblia deve ser lida. Assim foi construída a história da interpretação da Bíblia, quando vários métodos foram criados para se tentar chegar à verdadeira mensagem das Escrituras.

O método confessional de interpretação bíblica
Segundo esse método, há uma relação muito próxima entre a tradição e a compreensão das Escrituras. Dependendo do grupo, a palavra tradição pode referir-se a coisas diferentes. Para os católicos, por exemplo, a tradição é o conjunto das deliberações oficiais do Magistério Teológico. Uma exposição apropriada é a encíclica (bula papal) Dei Verbum (publicada no Brasil pela Editora Paulinas). Para alguns grupos evangélicos, tradição é uma forma difusa de iluminação interior. Segundo esse pensamento, o Espírito Santo, iluminando cada crente, gera uma compreensão correta das Escrituras: o crente sabe que sabe porque a voz do Espírito testemunha em seu coração esse saber.
A rigor, o método confessional submete-se à autoridade eclesiástica que, em última análise, detém o critério de verificação (= autoridade para dizer se a interpretação é correta ou não). O problema do lado católico é que o livre exame das Escrituras está subordinado a um Colégio; do lado evangélico, usa-se o nome do Espírito Santo em lugar do Colégio Apostólico, mas o efeito acaba sendo o mesmo.
A vantagem do método é a valorização da história. Deste método devemos aprender que a leitura da Bíblia não começa aqui e agora. A história da interpretação da Bíblia já tem mais de 2.000 anos!

O método histórico-social de interpretação
Está interessado em saber a que se prestavam os textos quando foram escritos. É mais do que se perguntar pelo que significam hoje. Por trás de tal preocupação está o pressuposto de que a Bíblia constitui uma biblioteca de textos produzidos sempre com intenções específicas. Um texto está ligado às circunstâncias que o geraram de tal forma que, quando é retirado delas, perde sua sustentação histórica e passa a servir de base para qualquer outra interpretação.
O intérprete histórico-social leva a sério a humanidade dos escritores bíblicos. Não é necessário pôr em suspensão a doutrina da inspiração bíblica, porque para esses intérpretes a inspiração não faz com que os homens que escreveram as Escrituras deixem de ser homens e de se submeter às mesmas leis históricas presentes no mundo. A inspiração é o mistério; o que se pretende desvendar é o significado da mensagem do texto, significado esse que está ligado inseparavelmente às intenções dos autores sagrados.
A vantagem é que nenhum sentido sobrenatural pode ficar à mercê de uma suposta espiritualidade deste ou daquele líder. Qualquer um que se dedique pode compreender o texto bíblico sem arvorar-se em místico iluminado. A desvantagem é que o método sabe que não há como provar que a interpretação feita é a verdadeira interpretação, porque o único que o poderia dizer - o próprio autor do texto bíblico - já está morto. A interpretação histórico-social é, pois, um exercício constante e coletivo, fraterno e provisório.

Outros métodos de interpretação bíblica
Já houve e há vários outros métodos. O método alegórico é dos mais antigos. Criado pelos gregos, adaptado pelos judeus, foi incorporado ao cristianismo. Seu auge se deu na Idade Média, mas ainda sobrevive na forma de uma leitura cristológica do Antigo Testamento. Consiste em extrair do texto sentidos que originalmente não estavam lá, mas que a estrutura das frases suporta por meio de leituras figuradas. Os judeus usavam muito o midrash, um tipo de leitura que se parece muito com a leitura popular evangélica. Consiste em tratar todos os textos bíblicos como um só. Os versículos separados de cada livro são lidos como pronunciados por uma só pessoa, no caso, Deus. Não há preocupação quanto ao sentido histórico desses versículos e mesmo dos livros em que estão registrados.

Conclusão
Penso que é necessário conhecer todos esses métodos e ver o que têm de bom e ruim. De minha parte, confesso que o desejo de meu coração é ouvir o mais literalmente possível as palavras de cada um dos autores sagrados. Se for necessário reverência (Pv 2.1-2), vontade (Pv 2.3) e trabalho (Pv 2.4) para ouvi-los (Pv 2.5-6), estou disposto a pagar o preço. Somos, todos afinal, como a corça bramando pelas correntes das águas (Salmos 42,1).