30 de abril de 2011

Escatologia Paulina (III parte)

Como Paulo descreve os últimos acontecimentos?

 Como Paulo descreve os últimos acontecimentos? Certamente, ele definiria os acontecimentos finais com a certeza que a “vitória decisiva sobre o diabo já foi ganha” (2Ts 2. 7,8; Rm 16. 20). Bem sabemos que a literalidade apocalíptica do apóstolo, é fruto do judaísmo tardio e do protocrisitanismo, assim sendo, ele orienta sua escatologia para uma ordem bio-cosmológica em Cristo (pleroma) – (1Co 15. 28), aonde em Deus tanto as criaturas quanto a criação, alcançaram a eterna redenção “livres da presença do pecado” (1 Co 1. 30). Desse modo, todo o mal será desfeito pelo nosso Senhor Jesus Cristo. E o anticristo que durante anos da história da humanidade houvera sido incorporado por diversos personagens terríveis, irá ser revelado e vencido.    
            Quando o tempo escatológico de Deus se cumprir diremos como Lutero “Com efeito, não é o tempo que ocasionou a vinda do Filho. Ao contrário, a vinda do Filho trouxe ao tempo a sua realização”.
            Em constantes desafios que a escatologia Bíblica vive que os cristãos venham se apegar a morte/ressurreição de Jesus Cristo, porquanto, o pecado trouxe a morte e a ressurreição à vida, por isso Paulo dizia: “se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a nossa fé.” (1 Co 15. 14). Podemos ver que a cruz e a ressurreição estão estritamente relacionadas, uma a outra, para que a mensagem cristã seja “o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1. 16).
            Entretanto, devemos superar o status quo e se movimentar sabendo que tudo o que acontece no mundo torna-se a prolepse daquilo que já aconteceu com Cristo. Jürgen Moltmann diria:

Enquanto tudo não estiver “muito bom”, continua a diferença entre esperança e realidade, a fé continua irrealizada e deve lançar-se no futuro, em meio à esperança e ao sofrimento. Dessa forma, também a promessa da vida proveniente da ressurreição de Cristo introduz na tendência do Espírito, que vivifica na dor e está orientado para o louvor da nova criação. Temos aí algo como “revelação progressiva”, ou “escatologia em realização”, só que se trata do progressus gratie. Não é o tempo objetivo que traz o progresso, nem é a atividade humana que faz o futuro, mas é a necessidade interna do evento de Cristo, cuja tendência é trazer à luz a vida eterna latente nele mesmo e a justiça de Deus em todas as coisas, igualmente latente nele.

Diante da contemporaneidade escatológica uma síntese do artigo de Timóteo Carriker ilustra bem a discussão “O desdobramento dos eventos finais tem muito haver com nossas vidas”. Contudo, como se darão os últimos acontecimentos torna-se a força motriz das nossas vidas, pois, a pregação cristã é essencialmente uma “cristologia em perspectiva escatológica” como disse o presbítero da igreja metodista Levy da Costa Bastos.
Na verdade, somos marcados por um sentimento de resignação que emancipa a fé escatológica da realidade. O ser humano tem o poder de construir a história. De modo, que o homem é um ser presente, e conseqüentemente deve edificar a cada dia um “mundo melhor”. Note-se que a proposta cristã, às vezes, é que um dia, no futuro, Deus de uma vez por todos acabará com todo sofrimento! Desta maneira, alguns cristãos colocam sua esperança e sua fé, neste momento sublime que transcende as expectativas desse mundo, e acabam se esquecendo de viver o presente; como diria Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins “o lugar do “ainda – não”, cuja força mobiliza as pessoas a construírem o que um dia poderá vir – a – ser”. 
A doutrina das “últimas coisas” não pode servir de escape para tratar de forma paliativa o nosso sofrimento no mundo, mas certamente ela tem o seu propósito específico. Leiamos um texto de Jürgen Moltmann, que diz:

Crer significa transpor, com esperança antecipadora, os limites que foram rompidos pela ressurreição do crucificado. Se tivermos isso em mente, a fé nada tem que ver com fuga do mundo, resignação e desistência. Nessa esperança, a alma não paira em um céu imaginário de bem aventurados, longe do vale de lágrimas nem se desliga da terra. [1][1]
           
Em suma, o problema da dor e do sofrimento é problema nosso; até mesmo porque a virtude do cristão está em “compartilhar a necessidade uns com os outros” (Rm 12. 13). E não em vestimos a nossa roupa de cristão e irmos à igreja e deixar tudo nas mãos de Deus. Neste momento, nos lembremos da oração de Jesus “mas eles estão no mundo” (Jo 17. 11). Daí a exortação do apóstolo Paulo para que sejamos “sóbrios” (1Ts 5. 6). Por isso, a escatologia moderna orienta o schaton a um totalite aliter – novidade total (2Co 5. 17) como diria Rudolf Bultmann.

Conclusão

            Em Paulo a escatologia ganhou uma roupagem de acordo com a necessidade das comunidades cristãs. Não se pode deixar de dizer que a literalidade dos ensinamentos escatológicos do apóstolo fora influenciado pela tradição judaico-cristã. E que sua pregação se consistia no fato da na morte e ressurreição de Jesus Cristo.
            Desse modo, essa mensagem abriu espaço para um apocaliptismo que se resumia na: manifestação do anticristo, a vinda de Jesus Cristo, ressurreição dos mortos, arrebatamento da igreja e redenção final.
            Analogicamente, o pensamento escatológico de Paulo em Coríntios e Tessalonicenses leva-nos a fazer uma comparação entre o que está acontecendo com a “doutrina das ultimas coisas” no mundo contemporâneo e a “esperança cristã” refletida por alguns teólogos que desenvolveram um pensamento escatológico relevante na modernidade.
            Para enfim chegar a uma síntese entre o pensamento escatológico de Paulo e também a uma escatologia coerente que coadune tanto com a Escritura, quanto com os estudos sobre “esperança cristã” na atualidade.
            A fim de angariar bons ensinamentos práticos, para a vida dos cristãos que prezam por uma boa escatologia Bíblica.

[1] Moltmann, Jürgen. Teologia da Esperança: Estudos sobre os fundamentos e as conseqüências de uma escatologia cristã. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Teológica: Edições Loyola. 2005. p. 35-36.

29 de abril de 2011

Lógica (crise de paradigmas)


“O teorema da incompletude de Kurt Gödel mostra por um caminho que um sistema dedutivo formalizado não pode encontrar nele próprio a demonstração absoluta de sua validade. E isso mostrou igualmente Alfred Tarski na sua lógica semântica: nenhum sistema dispõe de meios suficientes para se auto-explicar a si próprio.” (p. 2oo)
“(...) se nós não podemos nos privar da lógica indutivo-dedutivo-identitária, ela não pode ser o instrumento da certeza e da prova absoluta. O pensamento complexo convoca não ao abandono dessa lógica, mas a uma combinação dialógica entre sua utilização, segmento por segmento, e sua transgressão nos buracos negros onde ela para de ser operacional.” (p. 201)
Depois do teorema de Gödel A não precisa ser necessariamente A, isto é, a lógica dedutiva formal não é um imperativo absoluto.
Morin, Edgar; Le Moigne, Jean-Louis. A inteligência da complexidade. São Paulo: Petrópolis, 2000.

28 de abril de 2011

Fisicalismo


Eduardo Giannetti “não há estado mental sem um correlato neurofisiológico que o corresponda”.

27 de abril de 2011

São Paulo, minha cidade...


Estou triste com, o sistema social  da Capital, em São Paulo pelo fato de haver um alto índice de violência e, particularmente, na periferia a condição de vida do jovem, não é lá, a mais favorável para se promover a auto-transcendência que, o livre dos males daquela cidade. Mas tenho muito orgulho de ser paulistano e cada vez que a cidade e retratada nas músicas de Adoniran Barbosa, até me emociono. Deus abençoe a terra da garoa!

Ciência e parapsicologia

PARAPSICÓLOGOS EM EVIDÊNCIA

Sai na revista Psique do mês de abril de 2011.
"O sistema de publicações científicas está com a credibilidade em xeque. Isso porque o professor emerito de Psicologia Social da Universidade de Cornell, Daryl J. Bem, escreveu um artigo no qual alega apresentar evidências fortes em favor da Percepção Extrassensorial (PES), ou seja, a capacidade de pressentir o futuro. O artigo foi aceito para publicação pelo Journal of Personality and Social Psychology, que tem revisão por pares e se encontra entre os principais periódicos dos EUA nessa área. A comunidade científica está em alvoroço, pois se discute o uso de estatística que fazem certos departamentos das universidades americas e surgem debates sobre a natureza da física ou sobre a epistemologia. Por outro lado, parapsicólogos comemoram este grande avanço, tendo suas teorias reconhecida pela primeira vez". p. 34. 
A breve informação é instigante e leva a repensar a concepção de como sabemos alguma coisa, sobre as coisas, num sentido fenomênico "o que me aparece?". Logo, de onde é derivado o que eu conheço? O artigo, por sinal, levanta vários questionamentos e abre precedentes para a possibilidade de um conhecimento que não tem a necessidade de passar, antes, pelos sentidos. Desse modo, os fiéis platônicos ainda respiram ares de um conhecimento extra-mundo desconectado do mundo sensível. Portanto,  leia o artigo:
 
Só me faltava essa!

26 de abril de 2011

O Cristianismo que quero viver...


"Não há verdade dogmática, supra-cultural e cosmicamente aplicável. A verdade é individual e como tal de ser compreendida e aplicada de acordo com o molde do receptor".

Numa das aulas de CTC (Comunicação Transcultural e Contextual), isto é, Missões Transculturais. O professor traduziu esse trecho do livro: A comunicação Transcultural do Evangelho de David Hesselgrave. Mas o interessante, é que antes ele estava falando do problema de, contextualizar tanto o Evangelho e acabar  diluindo, o mesmo, em outras filosofias. E usou Bultmann como exemplo, por conta de seu existencialismo.
Como o professor é ultraconservador e hiper-fundamentalista, logo exclamou! _ É, contextualizar o Evangelho, ao ponto de opinar mais pela filosofia, que pela palavra de Deus e seus dogmas, não dá certo.
Eu já havia dito na aula que, Bultmann não havia feito nada de mais, apenas constatou sua época. E dei um exemplo: se existe remédio para gripe e quando a pessoa toma o remédio é curada, não há mais necessidade de orar pela gripe, para Jesus curar. Portanto, nem Bultmann nem nínguém têm culpa do progresso da humanidade, pois a visão de mundo bíblica é primitiva.
Assim, isso é muito preocupante, essa ideia de não misturar o Evangelho com filosofia. Bom, eu tenho medo! Se um dia eliminarmos tudo que tem de cultura grega no Evangelho e, em especial, o Platonismo. O que restará do Evangelho? Haja vista, que a construção posterior da fé cristã (sistematização) não tem nada a ver com uma leitura mais rigorosa do texto bíblico.
Todos sabem que os Pais da Igreja aconchegaram à mensagem cristã a teoria de conhecimento platônica e isso vem sendo sustentado até o dia de hoje.
Então, para falar da influência da filosofia na teologia, temos que voltar lá trás. Desse modo, prefiro atualizar meu pensamento e continuar construindo meu Cristianismo com teorias de conhecimentos, disponíveis hoje. Ah! Jesus pode ser minha verdade individual. Graças ao fim das grandes metanarrativas.
Portanto, logo depois do fim da Metafísica ele me vem com essa! Brincadeira em!

24 de abril de 2011

23 de abril de 2011

Quando eu chorar

Bruna Karla


Minha esposa ouve muito essa cantora e, às vezes, eu me sinto tocado por suas melodias.  

SEMANA LITERÁRIA

Rua São João Bosco, 1.114 – Santana
CEP: 12.403-010
Tel. / Fax.: (0xx) 12 3642 5188

Criança - Como cuidar dela?

A revista “mãos dadas” é um material excelente para o educador cristão. E todo aquele que é leitor da revista tem oportunidade de partilhar das mesmas idéias, dos articuladores, que é o cuidado com a criança, isto é, lutar pela causa da criança. 






A revista Nova Escola é riquíssima em conteúdo de alfabetização para a criança, outro, caminho que precisa ser visto pela igreja. Portanto, acredito que a Igreja Cristã deve auxiliar a criança em seu processo educacional, pois ela precisa saber ler e escrever e isso é um desafio para os educares cristãos.




A Editora Escala com a revista Psique – aborda como funciona o processo de aquisição do conhecimento pela criança. E, assim, utiliza a neuropedagogia para discutir o assunto. Desse modo, através dos processos eletroquímicos do cérebro em estrita relação com o sistema límbico a criança assimila o conhecimento, isto é, a emoção faz com que a criança aprenda com facilidade o conteúdo trabalhado em sala de aula.
  

O pecado e a morte

Adão e Eva, o pecado e a morte

Esta semana tive uma discussão com meu amigo ‘Gustavo’ sobre a ideia que os cristãos dogmáticos têm sobre o 'pecado original' e sua consequências, em especial, o pressuposto, de que o pecado gera a morte. Quem sou eu pra discordar e concordar com tal mitologia. Mas acredito que o homem foi criado para morrer! Até porque isso faz parte da condição humana. Se se tenta maquiar a morte, com a eternidade corporal de Gn 3; diga-se de passagem, que o ser humano, deixa de ser humano.
Então, disse para ele que o texto de Gn 3 não tem nada a ver com a ideia de que, depois do pecado, fomos destinados para morrer. Porquanto, o exegeta alemão Claus Westermann afirma que:

Outra particularidade divergente no ensino tradicional da igreja e no texto bíblico. A doutrina sobre a transgressão e sobre o pecado não tem sua fonte em Gn 3, e sim na tradição judaica, conforme deduzimos do quarto livro de Esdras:

O Adão, que é que fizeste?
Quando pecaste, a queda não foi só tua,
Mas também a nossa, que somos a tua posteridade!

Ou seja, o texto de Gn 3 não afirma que a morte seja o castigo para o pecado humano. Isso foi uma construção posterior, incorporada na teologia paulina, que por sinal, segundo afirma Gunther Bornkamm, era confinada ao período do judaísmo tardio. E depois, venho Agostinho o pai da doutrina do pecado original. E, consequentemente, os Reformadores sustentando tal doutrina que, é totalmente desconectada do texto de Gn 3. Portanto, o pecado original tem sua base em outras tradições sobre o pecado, e não a própria tradição de Gn 3.

Bom, minha intenção não invalidar a doutrina do pecado original. Mas é de dizer que  o texto de Gn 3 não é viável e passível de solidariedade com o mesmo. Logo, o texto de Gn 3 mostra segundo Westermann que o "homem é coarctado dentro do ciclo nascimento-morte. A força procriativa da benção supõe o fato da morte. Homens devem morrer para que outros homens possam viver". 

Westermann, Claus. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1987. pp. 81,82.

Filho do Homem

Segundo Klaus-Michael Bull é até controverso se "Filho do Homem" deveria ser designado, em princípio como título cristológico.

Se deseja saber mais sobre este assunto click aqui e confira as ideias de Adela Yarbro Collins e John J. Collins.

Arqueologia Bíblica


A arqueologia Bíblica tem que apreender a conviver com: as sagas etnologicas, os anacronismos, as narrativas construídadas, o mito cosmogonico, etc. Assim sendo, se pode compreender que a arqueologia constroi fatos, isto é, a arqueologia é a busca por fatos e não pela verdade.
O exegeta alemão Claus Westermann diria: "O gênero histórico do Antigo Testamento distingui-se de qualquer outro moderno pelo fato da história veterotestamentária acontecer entre Deus e o homem, entre o criador e a sua obra. Portanto, o conceito história elaborado no século XIX não tem aplicação neste contexto porque, segundo ele, fica descartada qualquer mobilidade de intervenção divina na história humana, ao passo que no Antigo Testamento o agir e o falar divinos constituem o fator essencial de qualquer evento e nem sequer pode imaginar uma realidade diferente".
Desse modo, quando se pensa em História Israel, fala-se sobre a manifestação de Deus em direção ao homus religiosus, onde a Historia Universal se torna a História da Salvação (Gn 12. 3 = [...] em ti serão abençoadas todas as famílias da terra. parte c). Assim, as narrativas Bíblicas são para os cristãos um conjunto de experiencia estética, a qual ele olha para Jesus Cristo, e procura ver que esse desvelamento do ser, se dá na História; pois, segundo Ricardo Gondim a História é o “palco da manifestação de Deus e do encontro do homem com Deus.
Contudo, as palavras do professor batista Jorge Pinheiro apud Von Rad que diz: "[...] não é que o cerne histórico esteja envolto em ficção, mas que a experiência de fé do narrador, presente na saga, é história e resulta em conteúdo teológico.
Desta maneira, "EU" não me sinto confortável com a arqueologia que tenta provar, ou desprovar o que diz as escrituras. Portanto, a ciência arqueológica é tão rica em suas elaborações hipotéticas sobre o passado Bíblico que, é viável ensinar os diversos pontos de vista levantados entre os arqueólogos.
 Mas a ideia de "história da salvação na história universal" é uma proposta intessante para todos; lembrando o teólogo sitemático Wolfhart Pannenberg.

O nascimento de Judá (minimalismo Bíblico)

A história de Davi e Salomão foi muito contestada, mas hoje já se pode ter certeza que estes homens foram personagens históricos. Portanto, a discussão gira em torno da cronologia dos mesmos e do nascimento de Judá. Então, confira os debates na academia da Dinamarca e da Inglaterra clickando aqui, pois mesmo que os minimalistas sejam contestados, suas pesquisas ainda continuam sendo relevante. 

22 de abril de 2011

Projetos Pedagógicos

No ritmo que anda o ensino na rede pública e estadual, a pedagogia dos projetos torna-se uma alternativa para resgatar o ensino no Brasil.


Jeremias (David Rubens)

Eu fico a margem (Jr 15.17)
Apontamentos no livro de Jeremias
por
David Rubens

O livro de Jeremias não possui um senso de ordem. Ele é composto por poesia, pregação e narrações, anotações pessoais de Jeremias e informações biográficas sobre ele misturadas sem ordem e arbitrariamente.
O livro de Jeremias não foi projetado por um só autor, ele se compõe de aglomerado de grupos de textos originalmente independentes, cuja forma atual é o resultado de um processo de formação muito complicado e demorado.
Com o auxílio da crítica exegético-literária podemos dividir o livro de Jeremias em três etapas principais.
O capitulo 36, diz que em 605 a.C. a palavra de YHWH foi dirigida a Jeremias (Jr 36.2: Toma o rolo dum livro, e escreve nele todas as palavras que te tenho falado de Israel, e de Judá, e de todas as nações, desde o dia em que eu te falei a ti, desde os dias de Josias até hoje). Em seguida Jeremias ditou ao seu companheiro Baruc a sua pregação de 20 anos e como estava proibido de entrar no templo encarregou-o de ler o rolo diante do povo reunido para um ato de penitência (Jr 36.5,6: E Jeremias deu ordem a Baruque, dizendo: Eu estou encerrado; não posso entrar na casa do Senhor. Entra pois tu, e lê pelo rolo que escreveste da minha boca as palavras do Senhor aos ouvidos do povo, na casa do Senhor, no dia de jejum; e também aos ouvidos de todo o Judá, que vem das suas cidades, as lerás). A finalidade do profeta ao escrever as suas palavras era prolongar a pregação oral e, se necessário, substituí-la. A palavra de YHWH deveria ser conservada para o futuro. Depois que o rei Joaquim queimou o rolo após a terceira leitura, Jeremias teve que escrever de novo a mensagem por ordem do Senhor (Jr 36.27-32):

27- Então veio a Jeremias a palavra do Senhor, depois que o rei queimara o rolo, com as palavras que Baruque escrevera da boca de Jeremias, dizendo:
28- Toma ainda outro rolo, e escreve nele todas as palavras que estavam no primeiro volume, que queimou Jeoiaquim, rei de Judá.
29- E a Jeoiaquim, rei de Judá, dirás: Assim diz o Senhor: Tu queimaste este rolo, dizendo: Por que escreveste nele anunciando: Certamente virá o rei de Babilônia, e destruirá esta terra e fará cessar nela homens e animais?
30- Portanto assim diz o Senhor, acerca de Jeoiaquim, rei de Judá: Não terá quem se assente sobre o trono de Davi, e será lançado o seu cadáver ao calor de dia, e à geada de noite.
31- E visitarei sobre ele, e sobre a sua semente, e sobre os seus servos, a sua iniqüidade; e trarei sobre ele e sobre os moradores de Jerusalém, e sobre os homens de Judá, todo aquele mal que lhes tenho falado, e não ouviram.
32- Tomou pois Jeremias outro rolo, e o deu a Baruque, filho de Nerias, o escrivão, o qual escreveu nele da boca de Jeremias todas as palavras do livro que Jeoiaquim, rei de Judá, tinha queimado no fogo; e ainda se acrescentaram a elas muitas palavras semelhantes.

TEXTOS ORIGINALMENTE INDEPENDENTES, ESCRITOS POR JEREMIAS
>       Um escrito contra os reis e os profetas (21);
>       Uma carta de exortação aos judeus deportados para Babilônia em 597 a.C. (29.1-15);
>       O livrinho da consolação(30);
>       Dados autobiográficos (1.4-19; 13.1-11);
>       Confições (11.18-21; 12.1-6).

Mais extensas são duas outras fontes, as quais, porém não são de Jeremias. Uma, cujo autor provavelmente é Baruc (36-45).
A outra fonte, de cunho oral e unitário, consta principalmente de discursos colocados na boca de Jeremias. A sua composição pode ter sido feita, baseando-se nas palavras autênticas de Jeremias durante o exílio babilônico para o culto posterior da sinagoga, então em desenvolvimento (7.1-8; 11.1-14).
O livro de Jeremias deve a sua forma atual a intervenções redacionais ulteriores, contribuições das mais diversas mãos em tempos diferentes.
A palavra profética falada, ao ser fixada definitivamente por escrito, não se imobilizou, mas permaneceu por muito tempo viva e capaz de adaptações.[1]
É difícil saber o que é efetivamente jeremiânico no livro de Jeremias, distinguir entre a fala profética e seus posteriores intérpretes.

O PROFETA JEREMIAS
Jeremias é benjamita, dos sacerdotes residentes em Anatote. Estas características são relevantes para sua compressão. Milton Schwantes diz que: “como benjaminita, está próximo a Israel, às tribos do Norte. Conhece suas tradições, entre elas a do êxodo libertador”.[2] Anuncia o retorno dos deportados do norte, levados cativos em 732 e 722 (Jr 30.3: Porque eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei tornar o cativeiro do meu povo Israel e Judá, diz o Senhor; e torná-los-ei a trazer à terra que dei a seus pais, e a possuirão). Como pertencente a uma família sacerdotal, tinha acesso as tradições de seu povo. Talvez tenha conhecido os conteúdos do livro de Oséias. Os Caps. 2 e 6 de Jeremias têm muitas semelhança com Oséias. Como nascido em Anatote, vem do mundo camponês. Jeremias esta ligado com as pessoas do campo e com suas tradições.[3]
Jeremias atuou durante vários decênios, desde 630 até 586. Começou a profetizar nos dias de Josias. Jeremias elogiou Josias. Isso é algo raro tanto em Jeremias quanto no geral entre os profetas. Encontramos o elogio a Josias no contexto de uma feroz critica a Jeoaquim, filho e sucessor de Josias (Jr. 22.15-16: Reinarás tu, por que te encerras em cedro? Acaso teu pai não comeu e bebeu, e não exercitou o juízo e a justiça? Por isso lhe sucedeu bem. Julgou a causa do aflito e do necessitado; então lhe sucedeu bem; porventura não é isto conhecer-me? Diz o Senhor).
A prática social justa de Josias lhe valeu o reconhecimento de Jeremias. No entanto, Jeremias não aderiu por inteiro á reforma josiânica. Aliás, divergiu no essencial. É o que vem a tona após a morte de Josias. Já nos primeiros meses de governo de Jeoaquim, Jeremias se expressa contra uma das medidas centrais da reforma. Ameaçou de destruição Sião (Jr 26.6: Então farei que esta casa seja como Siló, e farei desta cidade uma maldição para todas as nações da terra; 7.14-15: Farei também a esta casa, que se chama pelo meu nome, na qual confiais e a este lugar, que vos dei a vós e a vossos pais, como fiz a Siló. E vos arrojarei da minha presença, como arrojei a todos os vossos irmãos, a toda a geração de Efraim).
Essa ameaça ao templo foi impactante. Dois textos do livro de Jeremias chegou a referir-se a ela (Jr 7 e 26). Esta posição redicalmente ante-Sião quase custou a vida ao profeta. As autoridades pediram que lhe fosse aplicada a morte (Jr 26.8: E sucedeu que, acabando Jeremias de dizer tudo quanto o Senhor lhe havia ordenado que dissesse a todo o povo, pegaram nele os sacerdotes, e os profetas, e todo o povo, dizendo: Certamente morrerás).
A critica se dirige a função espoliativa do santuário é, no cap. 7 o motivo precípuo para a ameaça ao templo. Este aparece como empecilho para a prática da justiça (v.11: É pois esta casa, que se chama pelo meu nome, uma caverna de salteadores aos vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo, vi isto, diz o Senhor). Não passa de covil de salteadores.
Por ocasião do processo por pena de morte, anciões camponesesforam em defesa do profeta (26.17-20):

17- Também se levantaram alguns dentre os anciãos da terra, e falaram a toda a congregação do povo, dizendo:
18- Miquéias, o morastita, profetizou nos dias de Ezequias, rei de Judá, e falou a todo o povo de Judá, dizendo: Assim disse o Senhor dos Exércitos: Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa como os altos de um bosque.
19- Mataram-no, porventura, Ezequias, rei de Judá, e todo o Judá? Antes não temeu este ao Senhor, e não implorou o favor do Senhor? E o Senhor se arrependeu do mal que falara contra eles; e nós fazemos um grande mal contra as nossas almas.
20- Também houve um homem que profetizava em nome do Senhor: Urias, filho de Semaías, de Quiriate-Jearim, o qual profetizou contra esta cidade, e contra esta terra, conforme todas as palavras de Jeremias.

Eles citam Miquéias, outro profeta-campones que atuara um século antes. Mostram que este Miquéias já ameaçava Sião (v. 18 Mq 3.12: Portanto, por causa de vós, Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa em lugares altos dum bosque). Á luz de tal precedente, Jeremias teve que ser absolvido.

OS ÚLTIMOS MESES DE EXISTENCIA DE JEREMIAS
Os últimos meses de Jeremias se dão no governo de Zedequias,[4] um soberano que viveu na indefinição entre submissão à Babilônia ou ao Egito e a adesão à luta por autonomia. Sucumbiu com seu estado e sua capital e, enfim, sua própria vida em meio a estes dilemas. A postura de Jeremias nestes meses finais da história do estado de Judá é muito sintomática.[5]
A ação simbólica 32.1-15. Jeremias está na prisão. Os babilônios montam o cerco a cidade, prontos para o assalto final. Nesta situação, Jeremias resgata o campo de um parente seu. A transação é devidamente documentada. Isso se deve ao sentido parabólico da transação. Jeremias vê futuro para seus parentes, gente de Anatote. Não o vê para Jerusalém e os seus. Não o vê para Sião. Jeremias vê futuro para a gente da terra (cap. 32; 32.15; 40).
Jerusalém já foi conquistada. Encontra-se em ruínas. Os babilônios reúnem os sobreviventes para deporta-los. Deparam com Jeremias. E o profeta é colocado diante da opção: acompanhar os deportados à Babilônia ou permanecer com os remanescentes, nesta terra destroçada pela guerra. Jeremias opta pela terra, pois para ele aí está o futuro (40.6: Assim veio Jeremias a Gedalias, filho de Aicão, a Mizpá, e habitou com ele no meio do povo que havia ficado na terra).[6]

ESPERANÇA POR UM NOVO DAVI
Os versículos 23.5,6. Terão sido ditos nos dias de Zedequias. Zedequias significa Javé é minha justiça. O renovo anunciado em Jeremias 23, será Justo. A promessa do novo Davi está formulada de tal jeito que contenha uma crítica ao rei então no poder. O novo Davi será diferente do davidida Zedequias, último rei em Jerusalém (23.5,6: Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará, e prosperará, e praticará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este será o seu nome, com que o nomearão: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA).
Jeremias é pró-Davi, mas anti-sião! Os versículos 23.5,6 não há nenhuma referência ao templo. Só está em jogo a terra, Juda e Israel. O anuncio Renovo Santo e a promessa justiça nossa terão como alvo o povo, não primariamente o templo ou a capital, Sião ou Jerusalém.
O profeta Jeremias e seu livro têm seu lugar vivencial entre o campesinato palestinense. Representa a postura do povo da terra.[7]

DISCURSOS DO PROFETA
Em cada fase e momentos históricos as ênfases dos discursos de Jeremias são específicos.
>             Nos dias de Josias (630 até 622), o profeta apela para a conversão e o afastamento da idolatria reinante entre o povo.
>             Quando Josias realizou a reforma, em 622, e trata de combater a idolatria, Jeremias silencia e dá apoio às novas medidas governamentais.
>             Nos dias de Jeoaquim (608 até 598), o profeta ameaça Sião de destruição.
>             Nos dias e Zedequias (597 até 587), proclama esperança para os remanescentes.

CONCLUSÃO
Um quadro de conflitos envolveu a atividade de Jeremias. Recebeu de Deus o encargo de explicar à população o significado da tragédia que estava vivendo. Num primeiro momento esperava poder convencer o povo a evitar a catástrofe nacional. Opôs-se ao rei, aos chefes e à opinião comum do seu tempo.
Quando a catástrofe se tornou inevitável, Jeremias afirmou a necessidade de o rei aceitar o domínio babilônico. Foi por isso acusado de derrotista e traidor. Mas ele viu que naquela situação essa era a vontade de Deus.[8]
Com o desastre nacional e a rejeição à sua pregação. Jeremias foi entender que o comportamento humano só pode ser mudado com a transformação do modo de pensar, com a experiência profunda e existencial da vontade de Deus conforme a nova aliança que será não mais escrita nas tábuas, mas no coração.
Jeremias expõe, como nenhum outro profeta, sua própria vida e situação pessoal nos escritos. É o profeta que melhor nos ajuda a conhecer Jesus. Quando Jesus pergunta aos discípulos (Mt 16.13-14: E, chegando Jesus as partes de Cesaréia de Filipo, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? E eles disseram: Uns João Batista, outros Elias, outros Jeremias ou um dos profetas). Entre as figuras que o povo associava a Jesus aparece o profeta Jeremias.
Jeremias sofreu a maldição de todos e sua vida foi uma desgraça (15.10: Ai de mim, minha mãe! Por que me deste à luz homem de rixa e homem de contendas para toda a terra? Nunca lhes emprestei com usura, nem eles me emprestaram a mim com usura, e todavia cada um deles me amaldiçoa).
Para Gerhard von Rad, Jeremias foi incapaz de dar conta da tarefa:

Jeremias refletia sobre o insucesso da sua atuação. O fracasso não acontecia somente fora do seu próprio âmbito, junto aos outros, mas dentro dele mesmo, na medida em que já não estava mais de acordo com o seu ministério e a sua missão, ou ao menos os questionava. Em Jeremias o ser humano e a missão profética se dissociam. Essa dissociação entre o ser humano e o profeta provocou uma grave crise na forma tradicional da profissão de profeta. Com filho do seu tempo Jeremias não conseguia mais render-se à vontade de Javé; precisava perguntar, precisava compreender.[9]

 Sua vocação profética o reduziu a sinal de contradição (20.8: Porque desde que falo, grito; clamo: Violência e destruição; porque se tornou a palavra do Senhor um opróbrio para mim, e um ludíbrio todo o dia), sendo constituído examinador do povo (6.27: Por torre de guarda te pus entre o meu povo, por fortaleza, para que soubesses e examinasses o seu caminho), Deus o esconjurou a não mais pregar para que sua ira (YHWH) possa desafogar-se (7.16; 11.14: Tu, pois, não ores por este povo, nem levantes por eles clamor nem oração; porque não os ouvirei no tempo em que eles clamarem a mim, por causa do seu mal), mas ao mesmo tempo o constituí sinal das esperanças futuras para toda a nação (32.15: Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ainda se comprarão casas, e campos, e vinhas nesta terra).   


[1] SHREINER, Josef. Palavra e Mensagem do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Teológica, 2004.  p. 242.
[2] SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio. São Leopoldo: Oikos, 2009. p. 42.
[3] SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio. São Leopoldo: Oikos, 2009. p. 42.
[4] Em lugar de Joaquim foi feito rei um tio de Jeoaquim e filho de Josias, chamado Matanias, que recebeu o nome real de Zedequias. Esse foi o último davidida que ocupou o trono de Davi em Jerusalém (597/96-586; 2Rs 24.18-25.26). Oficialmente reinou como vassalo babilônico. O livro de Jeremias dá a impressão que ele foi um governante de boa vontade, mas de muita pouca força. Provavelmente seu território foi reduzido consideravelmente por Nabucodonosor. GUNNEWEG, Antonius H. J. História de Israel. São Paulo: Teológica; Loyola, 2005.  p. 200.      
[5] SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio. São Leopoldo: Oikos, 2009. p. 44.
[6] Ibidem, p. 45
[7] SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio. São Leopoldo: Oikos, 2009. p. 46.
[8] MINCANO, Ramiro. Jeremias 29.1-7: O futuro começa agora. Petrópolis: Estudos Bíblicos, v. 49. Vozes, 1996. p. 42.
[9] RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo Testamento. 2 ed. São Paulo: ASTE, 2006. p. 628.