22 de março de 2011

Preconceito Linguistico

Bagno, Marcos. Preconceito lingüístico, o que é, e como se faz. 51ª ed. São Paulo: Edições Loyola. Março de 2009.

Quando li este livro fiquei impressionando! E descobri que na verdade, o necessário é ler e escrever ‘letramento’. Este é um portal www.marcosbagno.com.br/ para você conhecer o trabalho e a militância do escritor e lingüista MARCOS BAGNO. E esta é a resenha do livro. Boa leitura!

O livro está dividido em: Importante saber! Primeiras palavras e I II III e IV parte. E, quando o autor refere-se ao título mitologia do preconceito lingüístico ele diz que “os falantes da língua portuguesa, que na maioria das vezes são veementes ridicularizados pelos defensores da língua pura”. Marcos Bagno vai tratar sobre alguns preconceitos contra a diversidade lingüística do português brasileiro, e irá defendê-la diante de afirmações falaciosas promovida pelos detentores dos comandos paragramaticais em nossa sociedade, e assim, oito mitos serão estudados. Confira:

I A mitologia do preconceito lingüístico

Mito nº1 “O português no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”
            Essa visão ultrapassada das escolas e de outras instituições de ensino, que dizem que o Brasil é país monolíngüe, está equivocada, eles não conseguem perceber a variedade lingüística dos falantes do português, que classificasse por sua característica multilíngüe. Até porque, existe uma diferença de status socioecônomico em nosso país, que provoca essa variedade lingüística estigmatizada falada pela população e pelos alunos nas escolas, e que são confrontados com as gramáticas normativas.

Mito nº2 “Brasileiro não sabe português/ Só em Portugal se fala bem português”
O autor diz que esse mito tem sido promovido pelo ensino tradicional da gramática na escola, ele diz: que brasileiro sabe falar português sim! No entanto, o autor fala-nos sobre a diferença gramatical que existe entre o português de Portugal e o português do Brasil; ensinando-nos que não devemos nos prender a lingüística dos nossos colonizadores, convidando o povo brasileiro para independência cultural.

Mito nº3 “Português é muito difícil”
            Esse mito proposto por Bagno diz: que todo falante nativo da língua sabe a língua! O negocio é que sempre nos baseamos na norma gramatical de Portugal; e isso é lamentável. Porque a língua tem sido reduzida à norma-gramatical apresentada no ambiente escolar, no entanto, o português falado pelo brasileiro não levado em conta. Gerando uma confusão entre língua propriamente dita e o ensino tradicional da escola.

Mito nº4 “As pessoas sem instrução falam tudo errado”
            Agora Marcos Bagno refere-se ao fenômeno de transformação da língua, que com o passar do tempo tem se modificado. E novamente lembra-nos dos brasileiros falantes das variedades estigmatizadas. Ele escreve, também, que em algumas regiões do Brasil a distinção na pronuncia de algumas palavras (fonética), portanto, alerta-nos que a forma lingüística rejeitada hoje pode ser a língua de amanhã.

Mito nº5 “O melhor lugar onde se fala português no Brasil e o Maranhão”
            Com base nesse tema o autor diz: que não sabe de onde surgiu essa idéia que não tem nenhuma fundamentação, e que isso é uma bobagem. No entanto, devemos abandonar a idéia de que somente um determinado local do Brasil retém entre seus falantes, o melhor português falado entre as variedades lingüísticas do nosso país. Afirmar que se alguma comunidade mantel algum termo semelhante ao de Portugal, exemplo “tu leres”, isso não significa que pronunciam o “melhor” português; mas que ela ainda não sofreu uma transformação, porque essa forma de se expressar tem atendido a necessidade da comunidade. 

Mito nº6 “O certo é falar assim porque se escreve assim”
            Existe uma tendência muito forte no ensino, de obrigar o aluno a pronunciar do jeito que se escreve, esquecendo-se que as pronuncias são resultado da historia social e cultural dos falantes. Esse preconceito que o autor denomina com “grafocêntrico”, refere-se à língua escrita; que deixa de valorizar a verdadeira realidade da língua falada e escrita em nossa sociedade.

Mito nº7 “E preciso saber gramática para falar e escrever bem”
            Fiquem claro que autores como Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade e Machado de Assis, diriam que a gramática não foi com eles, porque se sentiriam abafados ao escrever suas obras e ao mesmo tempo fazer uso da gramática normativa. Portanto, pode haver uma confusão de quem venho primeiro a gramática ou a língua falada pelas pessoas, certamente a língua, então se deve repensar o que estão ensinando na escola com as técnicas gramaticais; e a proposta do ensino contemporâneo é o letramento dos alunos “ler e escrever” esse é o objetivo.

Mito nº8 “O domínio da norma-padrão é um instrumento de ascensão social”
            Em todo caso, se o domínio da norma-padrão fosse motivo de ascensão social todos os professores de português estariam entre os mais ricos da sociedade. É até uma questão política porque pensar que só ensinando a norma-padrão para os menos favorecidos da sociedade eles mudaram como num passe de mágica suas vidas, é uma ingenuidade.

II O circulo vicioso do preconceito lingüístico

1. Os três elementos que são quatro
            O autor classifica o circulo vicioso do preconceito lingüístico, em quatro elementos: gramática tradicional, os métodos tradicionais do ensino, os livros de didáticos e os comandos paragramaticais.

2. Sob o império de Napoleão
            Ao falar de Napoleão Mendes de Almeida, o autor se refere a ele como um intolerante a lingüística, pelo fato de Napoleão dizer: que a lingüística estuda a fala e não o idioma e sua gramática. Enfim, Marcos Bagno diz: que ele desrespeita o direito lingüístico do falante brasileiro.

3. Um festival de asneiras
            Aqui, se deparamos com Luiz Antonio Sacconi, que é campeão em promover os preconceitos escritos no livro (preconceito lingüístico), usando alguns adjetivos nada éticos para se dirigir a classe de pessoas, que fazem parte das variedades estigmatizadas do nosso país. Sacconi em seu livro Não erre mais! Age de forma desagradável com seus leitores, segundo Bagno “Um festival de asneiras”.

4. A falta de estilo de Josué
            Igualmente Josué Machado, sente-se autorizado para julgar o que é correto ou não na norma gramatical, denunciando erro de autores consagrados, agindo de forma preconceituosa contra mulheres e homossexuais, ridicularizando os nordestinos e agindo de forma irreverente com os desfavorecidos de nossa sociedade. Para concluir, Bagno diz: é melhor continuar usando o coloquial dos quintais, do que ofender alguém por conta do uso da gramática normativa.

5. Beethoven não é dançado!
            O que dizer de Dad Squarisi, que publicou em um jornal de Pernambuco a matéria por título “Português ou Caipirês?”, inspirada na gramática portuguesa.  E acabou batendo o recorde do mito do preconceito lingüístico, se fazendo semelhante ao “igapó” do Amazonas com águas estagnadas. No entanto, o autor ilustra a história com a resposta que seu filho deu para professora que lhe pediu, para que dançasse Beethoven “Não se dança Beethoven!”, portanto, Bagno ao pensar como fica essa frase na voz passiva, chegou à seguinte conclusão, que a frase cumpriu o intento desejado. Squarisi apóia o português de Portugal, mas esqueceu-se que língua dos lusitanos também esta em constante transformação.  

III A desconstrução do preconceito lingüístico

1. Reconhecendo a crise
            Neste ponto abordasse-a a crise no ensino da língua portuguesa, pela falta de privilégio das variedades urbanas, identificando três problemas básicos a esse respeito.
Primeiro índice de analfabetismo.
Segundo pessoas alfabetizadas que não desenvolvem o “letramento”, ou seja, ler e escrever.
Terceiro a norma culta não é a língua falada pelos brasileiros no dia-a-dia.

2. Mudança de atitude
            Os professores devem mudar suas atitudes e, elevar a auto-estima lingüística no ensino e filtrar as explicações dadas pelos utilizadores dos comandos paragramaticais. Lembrando-se que toda língua viva esta em decomposição, recomposição e transformação.

3. O que é ensinar português?
            A tarefa do português é ensinar os alunos, a prática do “letramento”, deixando em segundo plano a velha norma tradicional de ensino.

4. O que é erro?
            Portanto, podemos ver que ninguém comete erro em falar a língua materna, entretanto, não podemos confundir língua com ortografia oficial. Enfim, o erro é aplicado à gramática normativa e não a língua falada.

5. Então vale tudo?
            A esse respeito, não significa que vale tudo, para o uso da língua. Mas deve-se compreender o uso da língua conforme o meio social em que se fala, assim sendo, varia-se a linguagem utilizada, para que se entre em equilíbrio com a situação dos falantes que a utilizam, para que haja adequação e aceitação no mesmo convívio social.

6. A paranóia ortográfica
            Como a ortografia não tem nada a ver com saber a língua, se deve valorizar o conteúdo feito pelo aluno, e não uma pura preocupação em localizar erros. Até porque a língua esta em processo de transformação, e nem todos dominam as técnicas gramaticais.

7. Subvertendo o preconceito lingüístico
            E assim, vemos que o preconceito lingüístico esta firme e forte, então os professores precisam combatê-lo e tomar atitude!
Primeiro, pesquisar mais e produzir mais conhecimento lingüístico.
Segundo, mostrar que o universo da linguagem, não se reduz só a norma gramatical.
Terceiro, mostrar que assim como as outras disciplinas evoluíram, a língua portuguesa também evolui.
Quarto, romper com aquilo que prende a língua as velhas doutrinas gramaticais (semelhante aos mitos e ao circulo vicioso do preconceito lingüístico).

IV O preconceito contra a lingüística e os lingüistas

1. Uma “religião” mais velha que o cristianismo
            O ensino da língua promovido pela Gramática Tradicional, que já estão ultrapassadas e tem sido considerada como imutáveis no ensino escolar é considerada única resposta correta. Logo, se deve lembrar que a crise não esta na língua, a sim, no ensino da língua. Os professores precisam oferecer aos alunos condições de “letramento”.

2. Português ortodoxo? Que língua é essa?
            Nestas condições, pode-se perceber que o português ortodoxo, defendido por Pasquale Cipro Neto é considerado como aquilo que se volta contra a ciência lingüística, ou seja, tudo aquilo que não condiz com a norma-padrão, de acordo com o português ortodoxo é uma heresia.

3. Devaneios de idiotas e ociosos
            Desta maneira, Pasquale usa o termo “alguns lingüistas” a fim de considerá-los idiotas e ociosos, quando os lingüistas afirmam que a língua não precisa de reparos, porque não pode haver erros na língua falada pelos nativos.

4. A quem interessa calar os lingüistas?
            Diante dessa pergunta pode-se perceber que, o que esta acontecendo é, o seguinte, o uso da ciência lingüística tem sido feito por quem não domina o assunto, dessa forma, qualquer pessoa se sente digna de dar ideias equivocas para a lingüística e os lingüistas. E, assim, calar aqueles que dominam a ciência lingüística. Exemplo: “Projeto de Aldo Rabelo” e “Academia Brasileira de Letras”.

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