por Fernando de Oliveira
INTRODUÇÃO
O livro de Tiago é, na melhor das hipóteses, o resgate da mensagem do Evangelho. Haja vista que, Tiago tem paralelo com os Evangelhos Sinóticos, e reproduz uma quantidade substancial dos ensinamentos práticos de Jesus. Cf. (Tg 2,8) e (Mt 19,19). Ambos dizem: “ame seu próximo como a si mesmo”.
É exatamente por essa exortação referente ao ‘rico’ e o ‘pobre’ que nesta produção textual será evidenciado a preferência de Jesus pelos pobres. Não que Ele desconsiderasse os ricos; pois se sabe que Ele escolheu Zaqueu (Lc 19) e o mesmo partilhou seus bens com os pobres. Mas Jesus escolheu/optou pelos pobres! Segundo David Rubens (2007, p.6) afirma: “Jesus amou os pobres, e atacou os causadores da pobreza e da marginalização. Jesus foi um homem que exigiu justiça. Certamente não odiou os ricos, mas preferiu os pobres e optou por eles”. [1]
Tiago torna-se relevante por produzir naquela comunidade cristã o que estava faltando, a compaixão pelos pobres. Sem distinção de classe social. De modo que a relação que ele tem com a Lei é, no sentido de nomoς = “a parte ética da lei mosaico”, [2] por isso a aparente contradição entre Paulo e Tiago. Mas na verdade tanto um quanto o outro prezam pela a Lei do amor. Tiago não anula Paulo. Ainda que a Igreja a qual ele destine a carta tenha um caráter paulinista (Tg 2,24). A Edição Pastoral da Bíblia comenta que:
Ao falar de prática da Lei, Paulo afirma que nenhuma observância as regras pode levar a salvação, e que a fé é o princípio de toda vida cristã. Tiago, por sua vez, salienta que a fé se traduz no amor, e este realiza atos concretos. Paulo diz a mesma coisa: “a fé age por meio do amor” (Gl 5,6). [3]
Desse modo, o texto áureo a ser utilizado na composição do trabalho será (Tg 2, 1-26 e 5, 1-6). Similarmente expressão a intenção intrínseca do autor em mostrar que Deus prefere os pobres e faz sevaras repreensões aos ricos.
Em resumo, pode-se dizer que ao fazer um contraponto entre Tiago e a situação dos menos favorecidos da América Latina, em especial no Brasil. Nota-se a impunidade das estruturas sociais, principalmente nas regiões periféricas deste país. Ainda que o menos favorecido tenha saltado para uma condição de consumidor, eles continuam sendo oprimido pelo Capitalismo. E, as Instituições Religiosas (Católica, Tradicional, Pentecostal, Neopentecostal e outros seguimentos religiosos) tomaram o mesmo rumo de uma sociedade injusta e capitalista.
AÍ DE VOÇES, RICOS! DEUS OUVIU O GRITO DOS POBRES!
O faraó está mais vivo do que nunca, controla a América Latina e enriquece, empobrecendo nossos povos. Os pobres gritam e Deus escuta o seu clamor. [4]
Tiago
2.1 Meus irmãos, vocês que crêem no nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, nunca tratem as pessoas de modo diferente por causa da aparência delas.
2.1 Meus irmãos, vocês que crêem no nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, nunca tratem as pessoas de modo diferente por causa da aparência delas.
2.2 Por exemplo, entra na reunião de vocês um homem com anéis de ouro e bem vestido, e entra também outro, pobre e vestindo roupas velhas.
2.3 Digamos que vocês tratam melhor o que está bem vestido e dizem: “Este é o melhor lugar; sente-se aqui”, mas dizem ao pobre: “Fique de pé” ou “Sente-se aí no chão, perto dos meus pés.”
2.4 Nesse caso vocês estão fazendo diferença entre vocês mesmos e estão se baseando em maus motivos para julgar o valor dos outros.
2.5 Escutem, meus queridos irmãos! Deus escolheu os pobres deste mundo para serem ricos na fé e para possuírem o Reino que ele prometeu aos que o amam.
2.6 No entanto, vocês desprezam os pobres. Por acaso, não são os ricos que exploram vocês e os arrastam para serem julgados nos tribunais?
2.7 São eles que falam mal do bom nome que Deus deu a vocês.
2.8 Se vocês obedecerem à lei do Reino, estarão fazendo o que devem, pois nas Escrituras Sagradas está escrito: “Ame os outros como você ama a você mesmo.”
2.9 Mas, se vocês tratam as pessoas pela aparência, estão pecando, e a lei os condena como culpados.
2.10 Porque quem quebra um só mandamento da lei é culpado de quebrar todos.
2.11 Pois o mesmo que disse: “Não cometa adultério” também disse: “Não mate”. Mesmo que você não cometa adultério, será culpado de quebrar a lei se matar.
2.12 Falem e vivam como pessoas que serão julgadas pela lei que nos dá a liberdade.
2.13 Quando Deus julgar, não terá misericórdia das pessoas que não tiveram misericórdia dos outros. Mas as pessoas que tiveram misericórdia dos outros não serão condenadas no Dia do Juízo Final.
2.14 Meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem fé se ela não vier acompanhada de ações? Será que essa fé pode salvá-lo?
2.15 Por exemplo, pode haver irmãos ou irmãs que precisam de roupa e que não têm nada para comer.
2.16 Se vocês não lhes dão o que eles precisam para viver, não adianta nada dizer: “Que Deus os abençoe! Vistam agasalhos e comam bem.”
2.17 Portanto, a fé é assim: se não vier acompanhada de ações, é coisa morta.
2.18 Mas alguém poderá dizer: “Você tem fé, e eu tenho ações.” E eu respondo: “Então me mostre como é possível ter fé sem que ela seja acompanhada de ações. Eu vou lhe mostrar a minha fé por meio das minhas ações.”
2.19 Você crê que há somente um Deus? Ótimo! Os demônios também crêem e tremem de medo.
2.20 Seu tolo! Vou provar-lhe que a fé sem ações não vale nada.
2.21 Como é que o nosso antepassado Abraão foi aceito por Deus? Foi pelo que fez quando ofereceu o seu filho Isaque sobre o altar.
2.22 Veja como a sua fé e as suas ações agiram juntas. Por meio das suas ações, a sua fé se tornou completa.
2.23 Assim aconteceu o que as Escrituras Sagradas dizem: “Abraão creu em Deus, e por isso Deus o aceitou.” E Abraão foi chamado de “amigo de Deus”.
2.24 Assim, vocês vêem que a pessoa é aceita por Deus por meio das suas ações e não somente pela fé.
2.25 Foi o que aconteceu com a prostituta Raabe, quando hospedou os espiões israelitas e os ajudou a sair da cidade por outro caminho. Deus a aceitou pelo que ela fez.
2.26 Portanto, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem ações está morta. [5]
Tiago
5.1 Agora, ricos, escutem! Chorem e gritem pelas desgraças que vocês vão sofrer!
5.1 Agora, ricos, escutem! Chorem e gritem pelas desgraças que vocês vão sofrer!
5.2 As suas riquezas estão podres, e as suas roupas finas estão comidas pelas traças.
5.3 O seu ouro e a sua prata estão cobertos de ferrugem, e essa ferrugem será testemunha contra vocês e, como fogo, comerá o corpo de vocês. Nestes últimos tempos vocês têm amontoado riquezas
5.4 e não têm pago os salários das pessoas que trabalham nos seus campos. Escutem as suas reclamações! Os gritos dos que trabalham nas colheitas têm chegado até os ouvidos de Deus, o Senhor Todo-Poderoso.
5.5 Vocês têm tido uma vida de luxo e prazeres aqui na terra e estão gordos como gado pronto para o matadouro.
5.6 Vocês têm condenado e matado os inocentes, e eles não podem fazer nada contra vocês. [6]
Jesus expressa claramente a impossibilidade de servir a dois senhores. Ou seja, a decisão deve ser radical ou você escolhe ao Deus da vida ou se devota a Mamom (Mt 6, 24). Assim, o apego ao dinheiro mostra o caminho de ruína que uma sociedade/igreja/pessoa pode cair ao escolher as riquezas (Tm 6, 6-10). Assim, todos devem decidir se querem prender o coração em Deus ou nos bens materiais.
Desse modo, o destino do dinheiro em uma sociedade/igreja/pessoa é de cumprir a função social a qual foi destinado, como: qualidade de vida, habitação, educação, lazer, alimentação etc.
Agora, os lideres das Igrejas Evangélicas, principalmente as Neopentecostais, criaram um ‘Novo Dogma’ a ‘Igreja Cristã do Mercado da Fé’. A Igreja atual convive dentro de um ambiente mercadológico. Na qual a função do líder é produzir pessoas consumistas e ao mesmo tempo miseráveis (pobres). Por conta da exploração da fé.
Eles estão se distanciando de tudo aquilo que se conhece sobre o paradigma de igreja deixado por Jesus. Comunidade cujo alvo é amor, justiça e humanidade. O ambiente religioso virou um santuário do mercado econômico. E, certamente, quem sofre com isso é o povo! Neste caso, os fiéis são apenas objeto de manipulação dos mega- empresário-evangélicos para ascensão social do líder da denominação religiosa.
Eles constroem impérios com o dinheiro do trabalhador (pobre). Possuem Emissoras de TV, Folha diária, Emissoras de rádio, Franquias da denominação, Jatos (aviões), mansões, carros importados, mega igrejas etc. Enquanto, o fiel está entregando o único dinheiro que o resta, na esperança de, quem sabe, arrumar um emprego ou até mesmo ser curado de uma enfermidade.
Um outro exemplo, é que na periferia paulistana, com a falta de acesso ao conhecimento a política institucional tripudia sobre o pobre que morra em bairros mais afastados do centro. A única coisa que resta então para o fiel ou visitante é a igreja evangélica ou outro segmento religioso, durante a noite, após um penoso dia de trabalho.
Posteriormente, na capital paulista não é diferente para o restante da população. Os paulistanos da periferia têm que conviver com a falta de acesso ao conhecimento. Enquanto, a política pública poderia esta resolvendo o problema da falta de informação, cultura, e educação de qualidade, que levasse os munícipes a se promoverem em sua auto-transcendência, ou seja, romper os limites habituais da entrega a violência e criminalidade.
Em geral, a Teologia Cristã tem um desafio! De não manter uma relação com esse tipo de política institucional. Que cria um ‘Novo Dogma’ para a igreja, o mercado da fé. Mas esta é a situação do evangelho na Brasil, particularmente na periferia. Aqueles que vão à igreja a procura do “vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Estão sendo surpreendidos pela mensagem para entregar seu dinheiro, se não os gafanhotos: cortador, migrador, devorador e destruidor irão roubar dos fiéis, até seu último centavo.
Então, qual o papel da igreja nesta sociedade? Qual a proposta do seguimento de Jesus? A práxis cristã é o caminho de libertação desta sociedade/igreja/pessoa hoje!
Qual o papel da igreja nesta sociedade? A razão de ser igreja é praticar a justiça (Mt 6,33). A igreja é lugar de justiça social! A impunidade precisa ser banida da comunidade cristã. Chega de ameaças espirituais a fim de angariar dinheiro. Aqueles que liderem estão engordando com a lã das ovelhas. Eles aproveitando-se da fé ingênua de boa parte dos cristãos. Com slogans do tipo: gluta dos milagres, culto de despacho espiritual, culto das migalhas entre outros. Só pra se enriquecerem. Mas para o consolo dos fiéis restam as seguintes palavras ditas por Jesus: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. [7] Eles já estão dizendo! E Deus não está conhecendo. Pois, muitos, são visto pela crítica como malandros evangélicos.
Qual a proposta do seguimento de Jesus? É a de denunciar! Aí dos ricos! As suas riquezas pereceram. Deus não terá misericórdia de quem não teve misericórdia. Aí dos lideres que se enriqueceram a custa do pobre trabalhador. Os lençóis brancos das ofertas estão manchados do suor dos oprimidos. As salvas denunciam a ralação diária do pobre que não teve retorno. As ofertas e os dízimos não chegaram ao trono de Deus, pois Ele está prestes a derramar seu furor sobre o opressor com nome de sacerdote. A grande babilônia está ruindo.
Quem sabe este é o momento da revolução Jacobina. Com um ar meio socialista, mas de cunho cristão. Disposto a dar a vida pelo amigo. Morrer. Não! Dar a vida. Sim! Gastar a existência pelo outro. Dedicar os anos que se desfazem com o tempo. Em prol de uma vida mais justa. Aonde vale a pena ver as pessoas não sendo ludibriadas por esta sociedade/igreja. Falando e fazendo aquilo que Jesus fez com os discípulos... Amando até o fim... [8]
CONCLUSÃO
Conclui-se que as exigências expostas na carta geral de Tiago a luz dos acontecimentos contemporâneos, os mega-empresario-evangelicos tem muito a justificar em relação a sua conduta cristã. Manuel Fraijó (1999, p. 253) afirma: “Para Jesus, enquanto houver pobres, a riqueza carecerá de justificação”. [9] Nestas condições, os causadores da pobreza deverão se explicar. Pois Jesus sempre esteve ao lado dos pobres e marginalizados da palestina. Ele nunca explorou a fé de ninguém, e muito menos, se viu aliado a uma política institucional injusta que oprime os desafortunados. Portanto, Tiago: e a importância da práxis do Evangelho – ainda hoje bate como um sino clerical na consciência dos mega-empresário-evangélicos do Brasil. SOLUS CHRISTUS.
BIBLIOGRAFIA
Bíblia. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Disponível em: http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=65. Acesso em: 23mar2011.
Bíblia. Português. Edição Pastoral da Bíblia. Tradução por Ivo Storniolo et. al. São Paulo: Paulus Editora, 1991.
Roteiros para reflexão I. História do Povo de Deus. 9ª ed. São Leopoldo/RS – São Paulo/SP: CEBI & Paulus, 2008.
Rubens, David. O ministério de Jesus como paradigma para a práxis-social cristã: Uma análise contextualizada sobre a igreja na contemporaneidade e a sua missão em relação aos pobres. Pindamonhangaba: Instituto Bíblico das Assembleias de Deus, 2007.
FRAIJÓ, Manuel. Fragmentos de esperança. São Paulo: Paulinas, 1999.
Taylor, William Carey. Dicionário do Novo Testamento grego. 9ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1991.
[1] Rubens, David. O ministério de Jesus como paradigma para a práxis-social cristã: Uma análise contextualizada sobre a igreja na contemporaneidade e a sua missão em relação aos pobres. Pindamonhangaba: Instituto Bíblico das Assembleias de Deus, 2007. cap. 2, p. 6.
[2] Taylor, William Carey. Dicionário do Novo Testamento grego. 9ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1991. p. 143.
[3] Bíblia. Português. Edição Pastoral da Bíblia. Tradução por Ivo Storniolo et. al. São Paulo: Paulus Editora, 1991. p.1492.
[4] Roteiros para reflexão I. História do Povo de Deus. 9ª ed. São Leopoldo/RS – São Paulo/SP: CEBI & Paulus, 2008. p. 14.
[5] Bíblia Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Disponível em: http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=65. Acesso em: 23mar2011.
[6] Ibidem.
[7]Cf. Mt 7: 22,23.
[8] Cf. Jo 13: 1.
[9] FRAIJÓ, Manuel. Fragmentos de esperança. São Paulo: Paulinas, 1999. p. 253.
[2] Taylor, William Carey. Dicionário do Novo Testamento grego. 9ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1991. p. 143.
[3] Bíblia. Português. Edição Pastoral da Bíblia. Tradução por Ivo Storniolo et. al. São Paulo: Paulus Editora, 1991. p.1492.
[4] Roteiros para reflexão I. História do Povo de Deus. 9ª ed. São Leopoldo/RS – São Paulo/SP: CEBI & Paulus, 2008. p. 14.
[5] Bíblia Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Disponível em: http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=65. Acesso em: 23mar2011.
[6] Ibidem.
[7]Cf. Mt 7: 22,23.
[8] Cf. Jo 13: 1.
[9] FRAIJÓ, Manuel. Fragmentos de esperança. São Paulo: Paulinas, 1999. p. 253.
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