Decisão
A PREGAÇÃO DE JESUS SOBRE O REINO DE DEUS
O conceito predominante na pregação de Jesus é o Reino de Deus. Jesus anuncia uma manifestação imediata. “O Reinado de Deus põe fim ao atual curso do mundo, a manifestação destrói tudo que é contrario a Deus, tudo que é satânico, tudo que agora faz o mundo gemer”.[1] Nos evangelhos, alternam-se “O Reino de Deus” e “O Reino dos Céus”. As duas expressões significam a mesma coisa.[2]
O Reinado de Deus vem como um cumprimento das promessas proféticas do AT. É uma iniciativa maravilhosa de Deus, sem intervenção do homem.
A expectativa de um fim e de um novo futuro fazia parte da esperança do povo judeu no AT. No entanto, na pregação de Jesus a promessa não se refere a esperança nacionalista, não estava restrita aos judeus, não se refere a edificação do antigo reino dividido.[3] Em nenhum lugar da mensagem de Jesus o “Reino” designa o governo permanente de Deus sobre Israel no mundo presente. Antes, o reino sempre e em todo lugar é entendido escatologicamente; designa o tempo da salvação, a consumação do mundo, a reconstituição da comunhão de vida entre Deus e ser humano que fora destruída.[4]
Jesus não anuncia um rei que esmagara os inimigos. Ele não fala da soberania do povo de Israel sobre a terra, não anuncia felicidade em um país rico pleno de paz.
Jesus anuncia, sim, uma catástrofe cósmica. Jesus fala da corrupção do mundo, e do domínio satânico. Ele anuncia que “o mundo está prestes a acabar e em meio a terror e sofrimento irromperá o novo”.[5]
Jesus não olha para os acontecimentos passados, não fala de sinais que orientava para o fim. O centro da mensagem de Jesus era “Deus Reinara”.
· Filhos deste mundo Lc 16.8: E elogiou o senhor o administrador infiel porque se houvera prudentemente, porque os filhos do mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz.
· Recompensa no mundo vindouro Mc 10.29-31: Jesus respondeu: — Eu afirmo a vocês que isto é verdade: aquele que, por causa de mim e do evangelho, deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras receberá muito mais, ainda nesta vida. Receberá cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos, terras e também perseguições. E no futuro receberá a vida eterna. Muitos que agora são os primeiros serão os últimos, e muitos que agora são os últimos serão os primeiros.[6]
· Fim do mundo Mt 13.49: Assim será na consumação do século: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos.
· Presente perto do fim Lc 12.56: Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu e, entretanto, não sabeis discernir esta época?
Jesus tinha certeza que o presente mundo chegou ao fim (Mc 1.15: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho). Jesus diz que o atual curso do mundo está sob domínio de satanás e seus demônios, cujo tempo agora passou (Lc 10.18: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago). Ele anuncia a vinda do “Filho do Homem” como “Juiz e Salvador”.
· Mc 8.38: Porque qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos.
· Mt 24.27: Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do Homem.
Jesus fala da ressurreição dos mortos (Mc 12.18,27) e o juízo (Lc 11.31: A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com os homens desta geração e os condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é maior do que Salomão). Fala do inferno de fogo, no qual são lançados os condenados (Mc 9.43-48; Mt 10.28: Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo).
Para referir-se à bem-aventurança dos justos usa a simples designação vida (Mc 9.43,45). Ele fala da ceia celestial (Mt 8.11: Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus) e da esperança de beber novamente o vinho no Reino de Deus (Mc 14.25).
A pregação de Jesus consiste em um radical apelo à decisão: “o tempo chegou! O reino de Deus está irrompendo! O fim está aí!” (Lc 10.23: E, voltando-se para os seus discípulos, disse-lhes particularmente: Bem-aventurados os olhos que vêem as coisas que vós vedes).[7]
Agora é tempo de festejar, é tempo de alegria como no momento do casamento (Mc 2.18). Agora os pobres serão felizes, e os que tens fome, sereis fartos! E os que chorão irão rir (Lc 6.20). Satanás perdeu seu reinado, caiu (Lc 10.18: Mas ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago). O reinado de Deus vem de um só golpe (Lc 17.21: Ninguém vai dizer: “Vejam! Está aqui” ou “Está ali”. Porque o Reino de Deus está dentro de vocês).[8]
O povo entende os sinais do presente, sabem quando choverá ou quando fará calor, mas não são capazes de entender os sinais do presente (Lc 12.54-54). Mais quais são os sinais dos tempos? Ele mesmo! Jesus é o sinal, sua atuação e sua pregação anuncia o fim! (Mt 11.5: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho). A salvação começa agora com os feitos milagrosos de Jesus. Jesus não mostra um “sinal no céu” (Mc 8.11: E, saindo os fariseus, puseram-se a discutir com ele; e, tentando-o, pediram-lhe um sinal do céu), o grande sinal que todos devem perceber é o fato dele expulsar os demônios pelo poder de Deus que o preenche (Lc 11.20: Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente, é chegado o reino de Deus sobre vós). Primeiro ele amarra o homem forte para ai então assumir a casa (Mc 3.27: Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa). Se ele arranca uma pessoa do domínio de satã, é porque veio alguém mais forte que satã. “Neste mundo escravizado por Satã, Jesus entra com a autoridade de Deus, [...] para assumir a luta contra o mal. Cada expulsão de um espírito mau operada por Jesus significa uma antecipação da hora em que Satã será visivelmente dominado”[9].
Todos estes sinais significam que o “Reino de Deus” está chegando. A vinda do Reino de Deus não pode ser acelerado pelo homem. “A vinda do Reino de Deus é um milagre independente de qualquer intervenção humana”[10] (Mc 4.26,29). Tanto o começo quanto a consumação do reinado de Deus são maravilhosos, e maravilhoso é o processo que leva à consumação. O começo então seria o aparecimento e a atuação de Jesus.
Tudo que o homem pode fazer em face do Reino de Deus em irrupção é está de prontidão ou preparar-se. Agora é o tempo de decisão, Jesus chama seus ouvintes à decisão (Lc 11.31).
Jesus é o sinal da chegada do “Reino de Deus”. E agora é a última hora; agora é uma coisa ou outra! Agora todos são obrigados a escolher se querem o reinado de Deus ou o mundo e seus bens, a decisão deve ser radical.
· Lc 9.62: Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus.
· MT 8.22: Replicou-lhe, porém, Jesus: Segue-me, e deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos.
· Lc 14.27: E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo.
O próprio Jesus renegou a seus parentes (Mc 3.35: Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe). Muitos atenderam ao apelo de Jesus e decidiram segui-lo (Mc 1.16-20; 2.14). Jesus não disse que todos deveriam abandonar casa e família, como fez seus discípulos. “Todos, porém, devem decidir em que querem prender seu coração: em Deus ou nos bens deste mundo.[11]
A maioria das pessoas está presa a bens e preocupações; quando é preciso tomar uma decisão, fracassam (Lc 14.15-24). É preciso decidir o que se quer e quanto esforço está disposto a fazer (Lc 14.28-32).
Para o Reino de Deus o que conta é estar disposto a qualquer sacrifício (Mt 13.44-46). Jesus convida a renunciar ao mundo e a disposição para a exigência de Deus. Ele exige obediência, reivindica o ser humano todo. Perante Deus o importante não é apenas o que o homem faz o constatável, e sim qual é a vontade do ser humano. Deus exige toda a vontade do ser humano (Lc 6.43: Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto).
O Reino de Deus é para aquele que deseja o bem e o faz. O ser humano é exigido em sua totalidade diante de Deus.
Pastor David Rubens
Pinda-SP. 11/07/2010
[1] BULTMANN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento. Teológica: São Paulo, 2004. p. 41
[2] JEREMIAS, Joachim. Teologia do Novo Testamento. Teológica: São Paulo, 2004. p. 161
[3] BULTMANN, p. 41
[4] JEREMIAS, p. 167
[5] BULTMANN, p. 41
[6] Nova Tradução na Linguagem de Hoje - NTLH
[7] BULTMANN, p. 43
[8] Nova Tradução na Linguagem de Hoje - NTLH
[9] JEREMIAS, p. 158
[10] BULTMANN, p. 45
[11] BULTMANN, p. 47
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