O pensamento escatológico de Paulo em Coríntios e Tessalonicenses
por
Fernando de Oliveira
Antes de abordar-se o pensamento escatológico de Paulo em Coríntios e Tessalonicenses é de fundamental relevância compreender a apocalíptica judaico-cristã, que desde o período intertestamentário à formação dos cristãos primitivos, amarrou-se a um apocaliptismo subdesenvolvido acerca do início de um novo éon, que culminam para uma visão complexa sobre os “segredos celestiais” concernentes a vinda do Filho do Homem, batalha contra o anticristo e o futuro do Reino de Deus.
Paulo está vivendo dentro de um contexto escatológico, onde tais, formulações estão fermentadas no ideário da Igreja Cristã. E o pensamento do apóstolo é influenciado justamente, por tais, concepções judaico-cristãs e por outras noções do que se tange a doutrina das “últimas coisas” como diria T. W. Manson; pois bem, podemos encontrar na teologia paulina:
[...] elementos que provêm dos profetas do Antigo Testamento, elementos que tem origem na sua educação rabínica, elementos de seu primeiro ambiente helenístico e do mundo greco-romano em que viveu posteriormente, elementos apocalípticos e da primitiva tradição cristã palestinense. [1]
Nestas condições, quando se lê as cartas aos Coríntios e aos Tessalonicenses, não se pode deixar de fazer uma leitura usando lentes concernentes a todos estes eventos e pensamentos, que marcaram a escatologia paulina.
Quando refere-se a Coríntios, logo vem à mente (1Co 15. 1-58) o texto áureo do raciocínio escatológico de Paulo, em que o apóstolo expõe excelentemente a “ressurreição”. Desse modo, ele discutirá as aparições de Cristo, após sua ressurreição; e a colocará no mesmo nível de quando Jesus Cristo apareceu para ele a caminho de Damasco (vs. 1-11). Em seqüência disso, Paulo combate à idéia que os gregos tinham contra a ressurreição dos mortos (At 17.32), ou seja, o contato com alguns irmãos “entusiastas espirituais” que por razão de gnosis (conhecimento superior secreto), criam já fazer parte do mundo “ultraterreno de Deus” (1Co 4. 8), portanto, isso mostra-nos a situação daquela comunidade cristã. Nestas condições, uma dura repreensão revela que o Cristianismo é dependente da ressurreição de Jesus Cristo (vs. 12-19). Logo, vê-se a importância da ressurreição para os cristãos, que através de Cristo serão vivificados e com eles toda a criação completará sua eterna redenção, pois, “Deus será tudo em todos” (v. 28), aí um apelo final para que os cristãos vigiassem e continuassem crendo na ressurreição dos mortos (vs. 20-34). No demais, Paulo define a natureza do corpo ressuscitado (vs. 35-49). E por fim, revela como acontecerá a ressurreição (vs. 50-58).
Já em Tessalonicenses as palavras de Günther Bornkamm resumem a questão:
Paulo fora informado, outrossim, a respeito dos problemas que perturbavam a fé daqueles fiéis: estavam preocupados porque os retorno de Cristo tardava em acontecer e estavam aflitos pela sorte de alguns irmãos que, neste meio tempo, haviam morrido, os quais poderiam estar excluídos do esperado advento da salvação. O apóstolo se esforça para aliviá-los destas preocupações e os exorta a esperarem com confiança a vinda do Senhor, cujo dia e hora ninguém conhece, e a viver de modo sóbrio e honesto, como “filhos da luz” que pertencem ao Senhor (1Ts 4. 13s.; 5.1s.). [2]
Por conseguinte, vale à pena lembrar que cada carta que Paulo enviava, tanto para os Coríntios quanto aos Tessalonicenses, ambas eram para aquelas respectivas comunidades cristãs, a fim de atender a necessidade da igreja. Por isso, a mensagem escatológica de 2Tt, difere de 1Tt. E em 1Co cap. 15, Paulo nem comenta acerca do anticristo. Todavia, as respostas aos momentos que antecedem ao eschaton, acabam por retardar a Vinda de Cristo (2Ts 2. 1-17). Como o próprio texto de 2Tt diz: “Como se o dia de Cristo estivesse já perto.” (v. 2). Diferente de 1Tt.