INSTITUTO BÍBLICO DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS
BACHAREL EM TEOLOGIA / TCC 1
17/06/2011
A ESCATOLOGIA PAULINA A LUZ DO PENSAMENTO DE KARL BARTH, WOLFHART PANNENBERG, JÜRGEN MOLTMANN E RUDOLF BULTMANN: algumas aplicações para existência
Luiz Henrique Batista Filho
Fernando de Oliveira
Prof. Alan Ricardo Araujo
RESUMO
O texto apresenta inicialmente uma visão sobre a escatologia paulina em Coríntios e Tessalonicenses, e em seguida uma abordagem da escatologia de Paulo a luz do pensamento de Karl Barth, Wolfhart Pannenberg, Jürgen Moltmann e Rudolf Bultmann, finalizando com um itinerário escatológico existencial para vida cristã.
Palavras-Chave: Paulo, escatologia, Igreja, ressurreição, cristãos, pensamento, esperança cristã, vida cristã, existência.
1 INTRODUÇÃO
Ao escrever sobre o pensamento escatológico de Paulo em Coríntios e Tessalonicenses, logo vem à mente a peculiar relação de Paulo com as denominadas cartas, a fim de resolver os problemas das relativas Igrejas. Esses escritos, portanto, não possuem um teor de uma doutrina escatológica sistematizada; coisa que só venho a se concretizar no decorrer da História da Igreja Cristã. Portanto, tal pensamento é mais o exercício árduo do apóstolo para que as comunidades cristãs viessem a ter uma “esperança cristã”.
Desta maneira, o estudo ater-se-á, mais precisamente aos textos singulares (1Co 15. 1-58; 1Ts 4. 13s.; 5.1s.; 2 Ts2. 1-17). Todavia, ciente que nas demais epístolas paulinas, em partes diversificadas, se encontrarão sinais do pensamento escatológico de Paulo. No entanto, ao procurar a interpretação do pensamento escatológico do apóstolo, nos textos singulares, percebe-se o quanto à tradição judaico-cristã permeou seu pensamento. O que, conseguintemente, incorreu para que ele relacionasse os fatos ocorridos com Jesus de Nazaré e os primeiros cristãos da Palestina, como o fundamento principal da “esperança” da Igreja Cristã.
Assim sendo, fica a pergunta: Qual seria a concepção de Paulo sobre o futuro do salvos? Tal reflexão irá abordar como se dá a vida após a morte. E os cuidados que deve tomar para não confundir a compreensão bíblica referente à “ressurreição do corpo”, com alguns conceitos pagãos. Porque a ressurreição está intimamente ligada à vida após a morte. Desse modo, a ideia de ressurreição do corpo será trabalhada a luz do pensamento de Karl Barth e Wolfhart Pannenberg, e no demais, uma aplicação existencial para a vida cristã.
Logo, em seguida será refletido acerca de: Como Paulo descreve os últimos acontecimentos? Assim, discutir-se-á como se dá toda essa expectativa de um dia não viver mais tanto sofrimento. Então, será repensada a questão do sofrimento a luz do pensamento de Jürgen Moltmann e Rudolf Bultmann. A fim de trazer uma aplicação existencial para a vida cristã e saber como a questão do sofrimento deve ser conduzida.
Conclui-se, esta breve introdução, lembrado que, tal artigo está basicamente restrito as cartas aos Coríntios e aos Tessalonicenses. Portanto, ao lê-lo não se esqueça que a nossa intenção é discorrer sobre a escatologia paulina a luz do pensamento de Barth, Pannenberg, Moltmann e Bultmann a fim de trazer algumas aplicações para a existência.
2 O pensamento escatológico de Paulo em Coríntios e Tessalonicenses
Antes de tratar sobre o pensamento escatológico de Paulo em Coríntios e Tessalonicenses é de fundamental relevância compreender a apocalíptica judaico-cristã que, desde o período intertestamentário à formação dos cristãos primitivos amarrou-se a um apocaliptismo subdesenvolvido acerca do início de um novo éon.[1] O que culmina para uma visão complexa sobre os “segredos celestiais” concernentes a vinda do Filho do Homem, batalha contra o anticristo e o futuro do Reino de Deus.
Paulo está vivendo dentro de um contexto escatológico, onde tais formulações estão fermentadas no ideário da Igreja Cristã. E o pensamento do apóstolo é influenciado justamente, por essas, concepções judaico-cristãs e por outras noções do que se tange a doutrina das “últimas coisas” como afirma Manson (2009, p. 10,11), se pode encontrar na teologia paulina:
[...] elementos que provêm dos profetas do Antigo Testamento, elementos que tem origem na sua educação rabínica, elementos de seu primeiro ambiente helenístico e do mundo greco-romano em que viveu posteriormente, elementos apocalípticos e da primitiva tradição cristã palestinense.
Nestas condições, quando se lê as cartas aos Coríntios e aos Tessalonicenses, não se pode deixar de fazer uma leitura usando lentes concernentes a todos estes eventos e pensamentos, que marcaram a escatologia paulina.
Quando Paulo se refere aos Coríntios, logo vem à mente o texto áureo do pensamento escatológico paulino, em que é exposta excelentemente a doutrina da “ressurreição” (1Co 15. 1-58). Desse modo, Paulo discutirá as aparições de Cristo após sua ressurreição. E a colocará no mesmo nível de quando Jesus Cristo apareceu para ele a caminho de Damasco (vs. 1-11).
Em seqüência disso, o apóstolo combate à ideia que os gregos tinham contra a ressurreição dos mortos (At 17.32). Isto é, o contato com alguns irmãos “entusiastas espirituais” fez com que os Coríntios ultrajassem o ensinamento sobre a ressurreição, pois, por razão de gnoses (conhecimento superior secreto), criam já fazer parte do mundo “ultraterreno de Deus” (1Co 4. 8). Nestas condições, isso mostra a situação daquela comunidade cristã. Portanto, uma dura repreensão revela que o Cristianismo é dependente da ressurreição de Jesus Cristo (vs. 12-19).
Logo, vê-se a importância da ressurreição para os cristãos que, através de Cristo serão vivificados e com eles toda a criação completará sua eterna redenção, “[...] para que Deus seja tudo em todos” (v. 28). Aí um apelo final para que os cristãos vigiassem e continuassem crendo na ressurreição dos mortos (vs. 20-34). No demais, Paulo define a natureza do corpo ressuscitado (vs. 35-49). E por fim, revela como acontecerá a ressurreição (vs. 50-58).
Já em Tessalonicenses as palavras de Bornkamm (2009, p. 127), resumem bem a questão:
Paulo fora informado, outrossim, a respeito dos problemas que perturbavam a fé daqueles fiéis: estavam preocupados porque os retorno de Cristo tardava em acontecer e estavam aflitos pela sorte de alguns irmãos que, neste meio tempo, haviam morrido, os quais poderiam estar excluídos do esperado advento da salvação. O apóstolo se esforça para aliviá-los destas preocupações e os exorta a esperarem com confiança a vinda do Senhor, cujo dia e hora ninguém conhece, e a viver de modo sóbrio e honesto, como “filhos da luz” que pertencem ao Senhor (1Ts 4. 13s.; 5.1s.).
Por conseguinte, vale à pena lembrar que cada carta que Paulo enviava tanto para os Coríntios quanto aos Tessalonicenses, ambas eram para aquelas respectivas comunidades cristãs a fim de atender a necessidade de cada Igreja. Por isso a mensagem escatológica de 2Ts é diferente de 1Ts. E em 1Co capítulo 15 Paulo nem comenta acerca do anticristo. Todavia, as respostas aos momentos que antecedem ao eschaton, acabam por retardar a Vinda de Cristo (2Ts 2. 1-17). Como o próprio texto de 2Ts diz: “[...] como se o Dia do Senhor estivesse para chegar logo [...]” (v. 2). Diferente de 1Ts.
3 ITINERÁRIO ESCATOLÓGICO EXISTENCIAL: A ESCATOLOGIA PAULINA A LUZ DO PENSAMENTO DE KARL BARTH E WOLFHART PANNENBERG
Qual seria a concepção de Paulo sobre o futuro dos salvos? Para o apóstolo é inevitável que Cristo volte! E os que morreram em Cristo ressuscitaram primeiro. E os que ficaram vivos serão arrebatados, e irão ao encontro do Senhor nos ares – incorruptíveis – (1Ts 4. 16,17; 1Co 15. 51,52).
No entanto, uma discussão pode ser levantada. Como se dá a vida após a morte? Será que os fiéis estão em um estado de gozo eterno? E os infiéis estão em um estado de tristeza eterna? Como se lê em: (Lc 16. 19-31; 2Co 5. 8; Fp 1. 23; Fp 3. 20,21).
Agora a controvérsia se levanta! A questão é saber se os fiéis ou infiéis, logo após a morte, recebem um corpo transformado. Ou, são semelhantes a um espírito/alma sem corpo. Assim sendo, tal expectativa contrária à visão bíblica de ressurreição do corpo, no último dia, de forma coletiva para os santos e até mesmo para aqueles que aguardam o juízo final (Lc 14. 13,14; 20. 35,36; Jo 5. 21,28; 1Co 15. 22,23; Fp 3. 11; 1Ts 4. 14-16; Ap 20. 4-6, 13).
Portanto, a Escritura ensina a ressurreição do corpo. O credo Apostólico diz: “Creio na ressurreição do corpo”. Discorrendo sobre a ressurreição do corpo e a vida eterna, Barth afirma (2006, p. 222, 223),
Agora o cristão olha adiante. Qual o significado da esperança cristã nesta vida? Uma vida após a morte? Um evento fora da morte? A pequena alma que, como borboleta, esvoaça pela sepultura e ainda é preservada em algum lugar, a fim de viver em imortalidade? É assim que os pagãos vêem a vida após a morte. Mas isto não é esperança cristã. “Creio na ressurreição do corpo”. Corpo na Bíblia é simplesmente o homem; homem, além disto, sob o signo do pecado, homem caído. Para este homem és dito “Tu ressuscitarás”. Ressurreição significa não continuação desta vida, mas sua conclusão. Para este homem um “Sim” é dito onde a sombra da morte não pode alcançar. Na ressurreição, nossa vida esta envolvida, nós, homens como somos e estamos situados. Nós ressuscitaremos ninguém mais tomará nosso lugar. “Seremos transformados” (1Co 15); isto não quer dizer que uma vida diferente se inicia, mas “o corruptível se revestirá de incorruptibilidade e o mortal de imortalidade”. Então será manifesto que “a morte foi tragada pela vitória”. Portanto, a esperança cristã afeta nossa vida como um todo: as nossas vidas serão completadas. Esta que foi semeada em desonra e fraqueza ressuscitará em glória e poder. A esperança cristã não nos conduz para longe desta vida; pelo contrário, é a revelação da verdade na qual Deus vê a nossa vida. É o triunfo sobre a morte, mas não um vôo para o Além. A realidade desta vida está envolvida. A escatologia, corretamente entendida, é a coisa mais prática que pode ser considerada. Nela, a luz cai sobre nossas vidas. Esperamos por esta luz. “Nós te oferecemos esperança”, disse Goethe. Talvez até ele mesmo sabia desta luz. A mensagem cristã, em toda medida, de modo confiante e confortante, proclama a esperança nesta luz.
Semelhantemente Pannenberg afirma (2004, p. 100, 101),
Creio que uma investigação moderna na natureza humana torna mais fácil a visão de como a verdade dessa expectativa é razoável. A abertura do homem para o mundo, transcendendo qualquer situação que surja no mundo, pode ser compreendida hoje somente em termos de expectativa de uma ressurreição. A expressão “abertura ao mundo” implica que aquele homem tem um destino infinito: de um modo diferente isso já erra conhecido nos primórdios e por essa razão os filósofos constantemente assumiam uma vida após a morte. A tradição filosófica entendeu seu destino, transcendendo à morte por ser a alma infinita e imortal.
Essa idéia nos parece estranha, uma vez que a nova antropologia trouxe a unidade de todos os acontecimentos mentais com os processos corporais e então não somos mais capazes de pensar como uma alma sem um corpo. Por esta razão, não mais concebemos o destino infinito de um homem além da morte em termos da imortalidade da alma – if at all – apenas como uma ressurreição.
Portanto, nosso vínculo com a morte de Jesus, com suas falas, seu sofrimento e cruz, também garantem nossa participação futura no que já apareceu apenas em Jesus, e também a compartilhar a vida e ressurreição, na qual o destino do homem alcança consumação.
A antropologia contemporânea concebe o ser humano em sua totalidade. Assim, o homem e a mulher não são uma disjunção entre corpo e alma, mas uma unidade psicossomática. No ocidente o pensamento grego (platônico), influenciou os pensadores a entender o ser humano como duas substâncias. Primeira, substância pensante. Segunda, substância corporal. Portanto, se sabe que o “res cogitans” de Descartes é produto do corpo (cérebro), no qual a máquina corpo dá conta de produzir à consciência, o pensamento, a mente etc. É bom lembrar que Paulo já ensinava que o corpo era essencial para a fé cristã e para a ressurreição.
Paulo teve um ataque apoplético. Os camaradas de Corinto cismavam que o corpo era desnecessário, que, após a morte, a alma, fantasmática, voejaria faceira para os Campos Elísios, enquanto o corpo, fétido, apodreceria sob a terra, ou, que diferença faria? Seria comido pelos abutres. Judeu, Paulo foi tomado da apoplexia que acomete os ortodoxos, quando ouvem heresias - e vociferou apologéticas garantias de que, não senhores, o corpo era condição sine qua non para a sanidade e a validade da fé! Sem o corpo, sem a ressurreição, tudo era vão - a cruz, a salvação, o perdão, porque, sem o corpo, não haveria amanhã... (RIBEIRO, 2010).
Portanto, os cristãos se vêem em um enigma escatológico. Desde a ideia platônico sobre imortalidade da alma ao impacto do Espiritismo em nossa sociedade; com o discurso, de que o mundo real é o mundo dos espíritos, como Kardec (2007, p. 18) mesmo afirma “O mundo corporal não é se não secundário; poderia cessar de existir, ou não ter jamais existido, sem alterar a essência do mundo espírita”. De modo que o pensamento cristão sobre a vida após a morte e a ressurreição do corpo, tem sido confundindo. Dado que muitas dessas idéias (pagãs) contrariam o ensinamento de Paulo e estão afetando a compreensão dos cristãos.
4 ITINERÁRIO ESCATOLÓGICO EXISTENCIAL: A ESCATOLOGIA PAULINA A LUZ DO PENSAMENTO DE JÜRGAN MOLTMANN E RUDOLF BULTMANN
Como Paulo descreve os últimos acontecimentos? Certamente, ele definiria os acontecimentos finais com a certeza que a “vitória decisiva sobre o diabo já foi ganha (2Ts 2. 7,8; Rm 16. 20)” (BULL, 2009, p. 222). Bem sabemos que a literalidade apocalíptica do apóstolo, é fruto do judaísmo tardio e do protocrisitanismo. Assim sendo, ele orienta sua escatologia para uma ordem bio-cosmológica em Cristo (pleroma) – (1Co 15. 28), aonde em Deus tanto o homem quanto a criação, alcançaram a eterna redenção – livres da presença do pecado (1 Co 1. 30). Desse modo, todo o mal será desfeito pelo nosso Senhor Jesus Cristo. E o anticristo que durante anos da história da humanidade houvera sido incorporado por diversos personagens terríveis, irá ser revelado e vencido.
Quando o tempo escatológico de Deus se cumprir diremos como Lutero (s/d apud BONRKAMM, 2009, p. 309) “Com efeito, não é o tempo que ocasionou a vinda do Filho. Ao contrário, a vinda do Filho trouxe ao tempo a sua realização”.
Em constantes desafios que a escatologia bíblica vive que os cristãos venham se apegar a morte/ressurreição de Jesus Cristo, porquanto, o pecado trouxe a morte e a ressurreição à vida. Por isso Paulo dizia: “Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14. 8). Pode-se ver que a cruz e a ressurreição estão estritamente relacionadas, uma a outra, para que a mensagem cristã seja “[...] força de Deus para salvação de todo aquele que acredita [...]” (Rm 1. 16).
Entretanto, deve-se superar o status quo e se movimentar sabendo que tudo o que acontece conosco torna-se a prolepse[2] daquilo que já aconteceu com Cristo. Moltmann (2005, p. 272), diria que:
Enquanto tudo não estiver “muito bom”, continua a diferença entre esperança e realidade, a fé continua irrealizada e deve lançar-se no futuro, em meio à esperança e ao sofrimento. Dessa forma, também a promessa da vida proveniente da ressurreição de Cristo introduz na tendência do Espírito, que vivifica na dor e está orientado para o louvor da nova criação. Temos aí algo como “revelação progressiva”, ou “escatologia em realização”, só que se trata do progressus gratie. Não é o tempo objetivo que traz o progresso, nem é a atividade humana que faz o futuro, mas é a necessidade interna do evento de Cristo, cuja tendência é trazer à luz a vida eterna latente nele mesmo e a justiça de Deus em todas as coisas, igualmente latente nele.
No entanto, o “desdobramento dos eventos finais tem muito haver com nossas vidas” (CARRIKER, 2010, p. 38). Contudo, como se darão os últimos acontecimentos torna-se a força motriz das nossas vidas, pois a pregação cristã é essencialmente uma “cristologia em perspectiva escatológica” (HOFFNUNG, 1964 apud BASTOS, 2007, 87).
Na verdade, os cristãos são marcados por um sentimento de resignação que emancipa a fé escatológica da realidade. O ser humano não tem a capacidade de prever o fim história. De modo, que o homem é um ser presente e precisa construir a cada dia um mundo melhor. Note-se que a proposta cristã, é que um dia, no futuro, Deus, de uma vez por todos, acabará com toda dor e sofrimento!
A doutrina das últimas coisas não tem nada a ver com o milenarismo pregado pelas denominações pós – scofieldianas, pois, as tais, se julgam como intérpretes da história. Enquanto, deviam estar engajadas no vir a ser histórico, trazendo o futuro para o presente. “O mundo não é estabilizado no ser eterno, mas “mantido” no ainda-não-ser de uma história aberta para o futuro” (MOLTMANN, 2005, p. 221). Assim, a dor e o sofrimento seriam vencidos.
Desta maneira, alguns cristãos colocam sua esperança e sua fé, neste momento sublime que transcende as expectativas desse mundo, e acabam se esquecendo de viver o presente. Como diria Aranha e Martins (1986, p. 21) “o lugar do “ainda – não”, cuja força mobiliza as pessoas a construírem o que um dia poderá vir – a – ser”.
Segundo Bultmann (2010) essa esperança não tem valor algum como uma fantasia que trás consolo; que alivia ou encerra o sofrimento presente, e tão pouco é garantia contra a insegurança presente. Ao contrario, a vida de um homem piedoso se funda precisamente na esperança. Ter esperança é ter futuro é sinal de que tudo que o homem se refere esta em jogo. A esperança tem por objeto Deus.[3]
A doutrina das “últimas coisas” não pode servir de escape para tratar de forma paliativa a dor e o sofrimento que os cristãos passam no mundo, mas certamente ela tem o seu propósito específico. Segundo Moltmann (2005, p. 35,36),
Crer significa transpor, com esperança antecipadora, os limites que foram rompidos pela ressurreição do crucificado. Se tivermos isso em mente, a fé nada tem que ver com fuga do mundo, resignação e desistência. Nessa esperança, a alma não paira em um céu imaginário de bem aventurados, longe do vale de lágrimas nem se desliga da terra.
Em suma, o problema da dor e do sofrimento é problema nosso; até mesmo porque a virtude do cristão está em ser “[...] solidários com os cristãos em suas necessidades [...]” (Rm 12. 13). E não em vestimos a nossa roupa de cristão e irmos à igreja e deixar tudo nas mãos de Deus. Neste momento, lembrar a oração de Jesus é fundamental para vida cristã “Eles permanecem no mundo [...]” (Jo 17. 11). Daí a exortação do apóstolo Paulo para que sejamos “sóbrios” (1Ts 5. 6). Por isso a escatologia contemporânea orienta o schaton a um “totalite aliter – novidade total” (Bultmann 2005, p. 25, tradução nossa) – (2Co 5. 17).
5 Considerações Finais
Em Paulo a escatologia ganhou uma roupagem de acordo com a necessidade das comunidades cristãs. E a literalidade dos ensinamentos escatológicos do apóstolo tem tudo a ver com a tradição judaico-cristã. Sua pregação consistia-se na mensagem da na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Desse modo, essa mensagem abriu espaço para um apocaliptismo que se resume na: Manifestação do anticristo; A vinda de Jesus Cristo; Ressurreição dos Mortos; Arrebatamento da Igreja e Redenção Final.
Analogicamente, o pensamento escatológico de Paulo em Coríntios e Tessalonicenses levou-nos a fazer uma comparação entre o que está acontecendo com a “doutrina das últimas coisas” no mundo contemporâneo e a “esperança cristã” refletida por alguns teólogos que desenvolveram um pensamento escatológico relevante.
Para, enfim, chegar a uma síntese entre o pensamento escatológico de Paulo e de uma escatologia coerente que coadune tanto com a Escritura quanto com os estudos sobre “esperança cristã” na contemporaneidade. A fim de trazer para a existência cristã uma aplicação que venha mostrar que a ressurreição do corpo é a parte, mais, importante do ensinamento escatológico e que os eventos finais têm tudo a ver com a forma que se vive a vida.
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[1]Éon oriunda da palavra grega Αίών que segundo o Dicionário Grego Novo Testamento significa: ciclo, era, época, eternidade.
[2] Esboço escatológico que trata de um ato ou de um desenvolvimento futuro como já existente no presente ou já realizado. Um ato proléptico é uma ocorrência escatológica na história antes de seu desfecho. Assim, a ressurreição de Cristo é a prolepse da ressurreição geral que marcará o final da era presente (GRENZ, 2002, p. 110).
[3] Este texto foi adaptado do jornalzinho da Igreja Tabernáculo. Editado pelo pastor David Rubens. BULTMANN, Rudolf. Esperança. Jornal Kerigma: sempre reformando. Pindamonhangaba, ano 4, n. 18, 2010, p. 4.
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