1 A divindade de Jesus Cristo
No Concílio de Calcedônia, em 451, ficou decidido pelos bispos católicos que Jesus Cristo possui “duas naturezas e uma pessoa”. Desta forma, a Igreja Cristã tem sustentado esta posição até os dias de hoje. Portanto, como se relacionam essas duas perspectivas: Quem é Jesus? E o que Jesus fez? Isto é, o Jesus ontológico e o Cristo funcional têm sido foco da discussão da Igreja ao longo dos séculos.
Quando se remonta à História do Cristianismo, no início do século II, descobri-se que as principais discussões teológicas giravam em torno da pessoa de Cristo, pois os primeiros sistematizadores do Dogma de Cristo, compreenderam que era necessário salvaguardar a divindade de Jesus. Mas, se isso não acontecesse acreditavam eles, que haveria um desfalque muito grande para a Doutrina da Salvação.
Enfim, os pais da igreja, tinham a certeza de que somente Deus poderia cumprir algumas exigências recíprocas a salvação, ou seja, cumprimento da lei, sacrifício perfeito e um justo justificador de todos os homens. Entre outros, requisitos que somente Deus poderia efetuar. Assim, foi elaborada durante muito tempo, depois de longas, e longas, discussões a deidade de Cristo! De modo, que o que temos hoje, ao nosso alcance, é o resultado de uma doutrina paradoxal de difícil compreensão.
Sendo assim, a divindade de Jesus, às vezes, é motivo de debates no campo da filosofia lógica. Na qual muitos cristãos intelectuais têm se desdobrado para explicar seu silogismo. Visto que a própria lei não contradição ensina-nos que não se pode ser antinômica, no processo do conhecimento; levando-nos a seguinte questão, algumas verdades cristãs, p. ex., as duas naturezas de Cristo, tende-se a ser um paradoxo.
Neste caso o ideal é recorrermos aos termos, que se referem aos dois aspectos da fé cristã: fides qua creditur[1] e fides quae creditur[2], diferenciar esses duas pressuposições faz-nos retornar a uma fé simples e fideísta de forma moderada. A fim de não basearmos nossa defesa às verdades teológicas, de modo antinômico. Entretanto, hoje a apologética esmera-se em provar essas verdades através de argumentos racionais, de evidências empíricas, de profecias cumpridas etc. Para assim, defender algumas crenças do Cristianismo que precisam ser aceitas pela fé.
Portanto, as palavras de Rocha (2007, p. 162, 163), resumem bem esta situação “[...] isso significa uma reação nuclear da teologia, que não mais se submete a experiência de fé e a mediação cultural a um discurso unívoco mantido por uma prática apologética”.
Aliás, tal pensamento tem produzido uma “teologia aguada” e deixado muitos teólogos aguados, por conta, de uma dualidade, que separa mundo ideal do mundo sensível. Assim sendo, a divindade de Cristo, ou seja, a homoousios to Patri[3] não se resume somente a uma distinção extra-mundo desvinculada do mundo sensível, onde a trama da história se desenrola. Como Melanchton mesmo afirmou Hoc est Christum cognoscere, beneficia Christi cognoscere.[4] E o próprio Karl Barth afirma que o logos[5] se identifica com ergon[6] e verbum[7] coincide com opus.[8] Notemos, que a Cristologia não tem nada haver com platonismo, estoicismo e neoplatonismo. Até mesmo, porque Deus é o Deus revelado na aliança.
2 Teorias de redenção (justificação e glorificação)
Agora iremos dissertar sobre teorias de redenção. E descobriremos que as mesmas nasceram da tentativa de alguns teólogos para explicar, como Deus perdoa o pecado dos seres humanos. Tais, teorias re-configuram Jesus, como: Aquele que é o pagamento por nossos pecados; Aquele que é o exemplo a ser seguido, nosso Salvador e Aquele que é vitorioso. Porém, a salvação se estrutura no mínimo em quatro pontos fundamentais: 1) justificação; 2) regeneração; 3) santificação e 4) glorificação. Sendo, que as duas vias principais seriam a justificação e a glorificação.
A glorificação ou a mensagem escatológica. Segundo Barth se o Cristianismo não for essencialmente escatológico, não é Cristianismo. Jesus expôs sua pregação de um eminente fim e de um novo futuro de esperança, chamando os judeus ao arrependimento – afirmando que “Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo” (Mt 4. 17). A fim de que seus ouvintes tomassem uma decisão, entre o Reino de Deus ou o domínio de Satanás e seus demônios. É agora, é a última hora; é uma coisa ou outra! Agora todos precisam escolher se querem o Reinado de Deus, ou, o mundo e seus bens, a decisão deve ser radical.
Em contrapartida, é na doutrina da justificação formulada pelo apóstolo Paulo, que iremos encontrar uma exposição organizada e importantíssima para a Doutrina da Salvação. Ele trouxe de sua tradição religiosa judaica, tudo aquilo que construiu sobre a Justiça de Deus. Transitando entre o sidekot[9] Yhwh do Antigo Testamento ao dikaiosyne[10] Theou[11] do Novo Testamento. Segundo Bornkamm (2009, p. 228),
Paulo utilizou-se: do Antigo Testamento (Sl 143.2; Jó 4.17). E do judaísmo tardio: “a tua justiça e a tua bondade, ó Senhor, se revelam na tua misericórdia para aqueles que não possuem um tesouro de boas obras” (4Esd 8.36). Ou, como na regra da seita Qumran: “Se eu tropeço por causa da maldade da minha carne, ainda assim, a minha justificação em virtude da justiça de Deus durará eternamente (1QS XI).
3 Como somos salvos?
Nestas condições, podemos responder a partir de que somos Salvos? Ou, melhor, a partir de quem somos salvos? Certamente de Jesus Cristo! Mas, isso causaria um debate teológico bem atual, poderíamos até recorrer a Cristologia pluralista de John Hick.[12]
Entretanto, a resposta do homem a salvação é necessária? Não se pode negar tamanha reciprocidade. Isto, porque Deus dá a salvação e o ser humano apenas recebe. O pacote salvífico já vem pronto, e o homem somente recebe o presente. Uma ilustração pode nos ajudar:
Um homem estava andando em uma estrada, com uma mala pesadíssima nas costas. E um caminhoneiro parou ao seu lado na estrada; e disse: __ Sobe na carroceria, eu lhe dou uma carona. E o homem subiu rapidamente! Mas, quando o caminhoneiro olhou no retrovisor, o homem continuava com a mala nas costas. E o motorista parou o caminhão, e disse: __ Moço, põe a mala no assoalho, eu lhe dei a carona, por causa, do peso que está carregando nas costas.
É justamente isso que acontece com alguns cristãos. Deus efetuou toda a obra da salvação, mas ele ainda insiste em carregar o fardo pesadíssimo, com o objetivo de se salvar. Como diria Francis Schaeffer “Minha fé é simplesmente as mãos vazias com as qual aceito a dádiva de Deus”.[13]
Antes podemos contar longas histórias sobre a tradição da Igreja Cristã, referente salvação. Lutero com seu “simul Justus et peccator”[14] e John Wesley com seu “perfeccionismo”,[15] de modo que ambos devam se complementar de forma moderada. Como nos lembra Manson (2009, p. 96),
[...] é errado considerar Cristo como um comerciante que tem aberto uma tenda em que se pode adquirir a salvação com a moeda da fé, por outro lado, é igualmente errado considerá-lo como o fundador de um sistema que produz robôs justificados de uma forma artificial.
Conclui-se, que a encarnação, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo são benefícios a qual o cristão recebe para viver em novidade de vida (Rm 6. 4). É neste estado que a graça nos livra do poder do pecado, para consagração das nossas vidas a Cristo, “[...] se já morremos com Cristo, cremos que com ele viveremos” (Rm 6. 8). Segundo Manson (2009, p. 96, 97),
Paulo não prega um Deus que é meramente o ens perfectissimum ou Deus sirve natura ou o Absoluto. Prega o Deus e Pai de Jesus Cristo. Para ele, Deus é pessoal, e a religião é a religião pessoal de Deus com pessoas humanas e não a relação metafísica de alguma substância com seus infinitos modos ou algo semelhante.
Fernando de Oliveira
24 jun 2011às 18h27mim.
Pindamonhangaba-SP
fernan_resgate@hotmail.com
Bibliografia:
Rocha, Alessandro. Teologia Sistemática: no horizonte pós-moderno. 1. ed. São Paulo: Editora Vida. 2007.
Barth, Karl. Esboço de uma Dogmática. São Paulo/SP: Fonte Editorial, 2006.
Bastos, Levy da Costa. Os caminhos da salvação. São Paulo: Fonte Editorial, 2007.
Bíblia. Português. Bíblia de Estudo Plenitude: Edição Revista e Corrigida. Tradução por João Ferreira de Almeida. Edição SBB, 1995.
Bíblia. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal Antigo e Novo Testamento. Tradução por João Ferreira de Almeida. Editora CPAD, 1995.
Bornkamm, Günther. Paulo: vida e obra. Santo André/SP: Editora Academia Cristã, 2009.
Bull, Klaus-Michael. Panorama do Novo Testamento: história, contexto e teologia. São Leopoldo/RS. Sinodal/EST, 2009.
Bultann, Rudolf. Jesus Cristo e Mitologia. 3ª edição. São Paulo/SP: Fonte Editorial, 2005.
Grenz J., Stanley et. al. Dicionário de Teologia. 3ª impressão. São Paulo/SP: Editora Vida, 2002.
Manson, Tomas Walther. Cristo por Paulo. São Paulo/SP: Fonte Editorial, 2009.
MCGRATH, Alister E. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: uma introdução à teologia cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2005.
[1] A fé pela qual se crê.
[2] A fé em que se crê.
[3] Mesma substância do Pai.
[4] Conhecer a Cristo é conhecer seus benefícios.
[5] Palavra.
[6] Trabalho.
[7] Verbo.
[9] Justiça.
[10] Justiça.
[11] Deus.
[12] Professor John Harwood Hick (nascido em Yorkshire, Inglaterra , 1922) é um filósofo da religião e teólogo. Na teologia filosófica, ele fez contribuições nas áreas de teodicéia, escatologia e cristologia, e na filosofia da religião que ele contribuiu para as áreas de epistemologia da religião e pluralismo religioso. Fonte: Wikipédia.
[15] Perfeccionismo.
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