4 de setembro de 2011

RESSURREIÇÃO: AS MULHERES E A AUTORIDADE NA IGREJA CRISTÃ PRIMITIVA

A crítica de Marcos à Pedro: a destituição da autoridade petrina na comunidade cristã primitiva.

Jesus, porém, voltou-se, olhou para os seus discípulos e repreendeu Pedro, dizendo: "Para trás de mim, Satanás! Você não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens". Macos 8:33
Pedro declarou: "Ainda que todos te abandonem, eu não te abandonarei!" Marcos 14:29
Mas Pedro insistia ainda mais: "Mesmo que seja preciso que eu morra contigo, nunca te negarei". E todos os outros disseram o mesmo. Marcos 14:31
Então, voltou aos seus discípulos e os encontrou dormindo. "Simão", disse ele a Pedro, "você está dormindo? Não pôde vigiar nem por uma hora? Marcos 14:37
E logo o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe tinha dito: "Antes que duas vezes cante o galo, você me negará três vezes". E se pôs a chorar. Marcos 14:72

         Marcos (a comunidade que nos deu este Evangelho) parece ser um crítico ferrenho de Pedro. De acordo com a leitura dos respectivos versículos acima, pode-se inferir que exista algo de aposto, em relação aquilo que a igreja constituiu acerca de Pedro. Pois o que comumente se imagina é a autoridade do Apóstolo sobre, as demais, comunidades cristãs primitivas (Mt 16:16).
Mas ao contrario disso, o que pode ser dito, dentro de uma leitura socio-histórica do texto bíblico é, o seguinte: houve uma intrumentalização dos textos dos Evangelhos a favor da autoridade petrina. Segundo Crossan (1995), Jesus ressucitar e aparecer as mulheres no sepulcro nega a autoridade de Pedro. Tanto que Paulo se valeu do mesmo discurso para legitimar seu apostolado (1Co 15. 3-11). Com excessão de Lucas aonde as mulheres são avisadas “por dois homens com veste resplandecentes” (Lc 24.10), Jesus aparece ressurreto primeiro as mulheres, nos demais Evangelhos.
         Há um consenso  entre os estudiosos do Novo Testamento que Marcos é o primeiro Evangelho. Sendo assim, não é novidade para ninguém o título fictício do livro, que antes do século II era conhecido como “Memória dos Apóstolos” (RIVAS, 2008, p. 29). Os manuscritos mais antigos de Marcos chegam até 16.8; no entanto, os demais versículos encontran-se apenas em alguns manuscritos que trazem um resumo da ressurreição. Possivelmente os redatores de Mateus e Lucas fizeram os acréscimo para que a obra não terminace abruptamente. Tendo as mulheres testificando a ressurreição de Jesus, muda-se o totalmente a orientação represenativa da igreja.
Marcos tenta minar a autoridade de Pedro, dando a primazia as mulheres. Mostrando que tudo não passa de uma instrumentalização política para ter autoridade no escopo da comunidade cristã primitiva. Segundo Pagels (2006), a ressurreição tinha uma função consequentemente política e consedia autoridade aquele que houvesse sido alvo da aparição do Jesus ressurreto.

No início do século II, os cristãos compreenderam as possíveis conseqüências políticas de terem “visto o Senhor ressuscitado”: em Jerusalém, quando Tiago, irmão de Jesus, disputou, com êxito, a autoridade com Pedro, uma tradição manteve que Tiago, e não Pedro (e com certeza tampouco Maria Madalena), fora a “primeira testemunha da ressurreição” (pagels, 2006, p. 7-8).
                   
         Conforme afirma Lima (2011, p. 4), “colocar Maria Madalena e outras mulheres – figuras sem papel de liderança na igreja primitiva – como sendo as primeiras testemunhas da ressurreição, de fato, contrariaria o poder de Pedro no cristianismo primitivo”. Foram as mulheres as primeiras a proclamar que Jesus havia ressuscitado dentre os mortos (Mt 28.1-10; Mc 16.1-8; Lc 23. 55-24.10; Jo 20.1-2). Portanto, nada impede de inferir que Marcos concedeu às mulheres autoridade e primazia – nas primeiras comunidades cristãs.


BIBLIOGRAFIA

CROSSAN, John Dominic. Quem matou Jesus? As raízes do anti-semitismo na história evangélica da morte de Jesus. Rio de Janeiro: Imago, 1995.
LIMA JUNIOR, Francisco Chagas Vieira. A corrida pelo poder no cristianismo primitivo: A função política das aparições do Jesus ressurreto. Disponível em: <http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_11497/artigo_sobre_a_corrida_pelo_poder_
no_cristianismo_primitivo:__a_funcao_politica_das_aparicoes_do_jesus_ressurreto>.Acesso em: 4 set. 2011.     
PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.
RIVAS, Luis Heriberto. O que é um evangelho? Introdução geral aos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. São Paulo: Ave-Maria, 2008.

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