Surgiram várias hipóteses indicando que alguns dos personagens do NT seriam provenientes de Qumran ou tiveram contatos com esta comunidade. De fato, quem visita hoje Qumran na recepção vê um filme que informa sobre um personagem que esteve na comunidade, mas que foi expulso por não se adaptar à comunidade. Este personagem é identificado como o Profeta João Batista. E se lermos os evangelhos sinóticos vemos que os traços de João Batista (a radicalidade da sua proposta) têm muito a ver com a comunidade de Qumran.
Outros sugerem que Tiago “irmão do Senhor” (cf. At 12,17; 15,13; Gl 1,19, etc.) pudesse ter ligações com a comunidade e Robert Eisenman até chegou a afirmar que este Tiago seria o Mestre da Justiça da comunidade. Nesses textos, segundo Eisenman, se falaria dos primeiros cristãos e em particular emergiria na sua plena luz o contraste que dividia a corrente de Tiago e aquela de Paulo.
Encontramos também alguns que até chegaram a sugerir que o Apóstolo Paulo viesse desta Comunidade (é bom lembrar que o próprio Apóstolo Paulo várias vezes afirma seu passado como fariseu e nunca como essênio). É interessante ver o paralelismo de certos termos com os escritos do NT. Um dos vocábulos que mais chamou a atenção é “os muitos” ou “maioria” que encontramos em At 15,12 e em 2Cor 2,5-6 e no relato da Eucaristia de Mt 26,27-28; Mc 14,23-24; Lc 22,20. Em Qumran encontramos o mesmo termo seja em relatos jurídicos e celebrativos.
Encontramos também outras expressões como: “justiça de Deus”, “pobres em espírito”, “obras da lei”, “Igreja/Assembléia de Deus”, “a sorte dos santos”, “o Senhor do céu e da terra”, etc. que não são encontrados nos textos rabínicos da época. Textos como 2Ts 2,7 “o mistério da iniqüidade”; o tema paulino da “justificação pela fé” (cf. Rm 3,21-24; Gl 2,16), a figura de Melquisedec lembrada na Carta aos Hebreus, a expressão “ele será chamado Filho de Deus” de Lc 1,35-37, entre outros, também são encontrados nos escritos Qumrânicos.
No entanto, se existem paralelos, encontramos também divergências. E. Stauffer enumera pelo menos oito pontos diferentes entre a comunidade de Qumran e as primeiras comunidades cristãs: 1) um clericalismo maior em Qumran; 2) mais ritualismo e cerimônias; 3) o preceito de amar os filhos da luz e odiar os filhos das trevas; 4) o militarismo e a preparação para a guerra “apocalíptica”; 5) a supervalorização do calendário; 6) o caráter esotérico; 7) a expectativa dos dois Messias; 8) o relacionamento diverso com o Templo, com os sacerdotes de Jerusalém e com a Lei.
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