Teologia Pentecostal: algumas ressalvas a teologia pentecostal
por
Fernando de Oliveira
A teologia pentecostal se desenvolveu lentamente ao longo de 100 anos, e ainda está engatinhando, mas pode-se dizer alguma coisa sobre o ponto de vista destas denominações concernente ao “Pentecostalismo”.
Como se sabe, esse movimento tem como padrão de sua crença o “batismo com o Espírito Santo e a atualidade dos dons espirituais”. Entretanto, partindo desse pressuposto pode-se em poucas palavras definir a Teologia Pentecostal como: “estilo evangélico de conversão, santificação, cura divina, pré-milenismo e o retorno escatológico do poder do Espírito Santo evidenciado pela glossolalia” [1] segundo Israel de Araújo (2007 p. 541).
Desta forma, tecer reflexões teológicas embasado nesses temas seria um método eficiente para chegar a uma conclusão coerente sobre a teologia desse movimento.
Nestas condições, enumerar cada conceito para melhor compreensão de estudo, leva-nos aos seguintes tópicos: 1) estilo evangélico de conversão; 2) santificação; 3) cura divina; 4) pré-milenismo; 5) retorno escatológico do poder do Espírito Santo evidenciado pela glossolalia.
1) – estilo evangélico de conversão.
Ao se referir a este ponto, logo os vem à mente o modo comum de conversão praticado nestas igrejas, que em síntese pode-se denominá-lo de “método cartesiano de conversão”. E, que consiste em primeiro passo – a pessoa aceita a Jesus Cristo; segundo passo – faz sua confissão diante da igreja; terceiro passo – passa pelo discipulado do batismo na águas; e o quarto passo – é integrada ao corpo de Cristo para participar da Santa Ceia. Então, pode-se dizer que esse processo tem sido muito valido entre as igrejas pentecostais, e que inclusive muitos cristãos passaram por esse processo.
Até porque a pedra fundamental [2] deste desenvolvimento da conversão tem sido “A fé em Jesus Cristo como único meio de salvação” (Jo 14: 6; At 2: 21; At 4: 12; Ef 2: 8). Entretanto, todo esse processo deve transcender as expectativas de rito e sacramentos religiosos. E, cada cristão deve plenamente receber a superabundante graça [3] e perceber que todo este simbolismo foi instituído apenas para o homem entender e se sentir em paz com Deus. “As figuras são para que o cristão entenda e durma em paz” [4]. Pois, quem pode compreender o mistério do Deus-homem morrendo pelos pecadores, que voluntariamente decide servi-lo? Sola Gratia. Como diria Karl Barth:
Mas este testemunho é a Palavra de Deus para nós, dizendo: Você, ó homem, com seu pecado, pertence completamente, como propriedade de Jesus Cristo, ao domínio da misericórdia inconcebível de Deus, que não nos vê como aqueles que vivem por viver e agem por agir, mas diz para nós, “Você está justificado”. Para mim você não é mais um pecador, mas onde você está também Eu estarei. Olhe para este Outro. Se você está ansioso de como se arrepender, deixe apenas que ele lhe diga: “Teus pecados foram perdoados”. Se você perguntar “que mais posso fazer, como adequar minha vida em companheirismo com Deus”, deixe a resposta chegar até você que a expiação por sua vida já foi realizada e sua comunhão com Deus completada. Sua reação, ó filho do homem, consiste apenas na aceitação desta situação, de que Deus o vê agora mais uma vez e o recebe mais uma vez em sua Luz, como criatura que você é. (1946, p. 218.). [5]
Logo, esses rituais e sacramentos são apenas reflexos daquilo que Jesus Cristo já fez por nós. Ou seja, cada cristão nunca foi mais salvo, nem menos salvo, nem antes, nem durante, nem após este processo; apenas cumpriu aquilo que havia sido proposto desde quando passou a ser impactado pela Graça de Deus.
2) – santificação.
A santificação é o que se pode denominar como posicional (o direito de santos que Jesus Cristo conquistou por nós [Hb 10: 10]); a progressiva (aquela cujo Espírito Santo opera para santificação no presente [1Pe 1: 15]); e futura (a que ainda será realizada na Vinda de Cristo [Ts 5: 23]).
Desse modo, a afirmação do versículo “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a santificação ninguém verá o Senhor” [6], serve de base para corrigir alguns erros entre os pentecostais que aliam santificação a exterioridade (semelhante aos fariseus), e ao batismo com Espírito Santo e dons espirituais. Tornando-se, assim, ufanemos em relação a sua vida espiritual e santa, se esquecendo que o Apostolo Paulo recebeu um “espinho na carne” [7] para não se exaltar. Portanto, as palavras de William Seymour (Dez. 1906) mostram-nos que santificação está entretecida a vida cristã como um momento antes de ser batizado com o Espírito Santo; leiamos:
No primeiro capítulo de Atos, Jesus orienta os discípulos a esperarem pela promessa do Pai. Não era para esperar pela santificação. O sangue de Cristo já havia sido derramado na cruz do calvário. Ele não ia enviar o seu sangue para limpá-los da carnalidade, mas o seu Espírito, para dota-los com poder. Eles subiram a Jerusalém, louvando e bendizendo a Deus com grande alegria. E permaneceram de comum acordo em oração e súplica. pag. 81.[8]
Não há nada mais doce, mais sublime ou mais santo neste mundo que a santificação. O batismo com o Espírito Santo é o dom de poder na alma santificada, capacitando-o para pregar o Evangelho de Cristo ou para morrer na fogueira. pag. 82.[9]
3) – cura divina.
Certamente, “Jesus cura” como se pode ler nos Evangelhos (Mt 8: 16; Lc 7: 2). Agora se deve tomar cuidado com charlatanismo e as sessões espirituais de cura divina, promovidas por algumas igrejas pentecostais e neopentecostais na contemporâneidade, que não tem nada haver com Cristo. Eles aproveitando-se da fé ingênua de boa parte dos cristãos. Com slogans do tipo “gluta dos milagres” “culto de despacho espiritual” entre outros; só para angariar dinheiro e prestigio. Mas para o consolo dos fiéis restam as seguintes palavras ditas por Jesus: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. (Mt 7: 22,23).
4) – pré-milenismo.
Este é o tema escatológico do momento a maior parte das Igrejas Evangélicas Pentecostais crê desta maneira. Não levando a vertente pré-milenista para descrédito, sua mensagem tem sido o ápice das produções de filmes na atualidade. Gerando muito lucro para a indústria cinematográfica.
Com personagens assustadores e prodigiosos na pele do anticristo, cataclismos terríveis e ameaçadores ao planeta terra, sumiços repentinos e invisíveis para emocionar os telespectadores e hegemonias políticas e religiosas do mundo capitalista em ascensão. Tais modelos cinematográficos; nem as escrituras definem o que realmente seja esses modelos. E ainda, exatamente, dentro do prisma escatológico pré-milenista.
Logo, todos estes apelos devem ser lidos a luz das escrituras, em contraste com a Teologia Patrística e Reformada, que, por conseguinte é um conceito mais coerente com a Bíblia, conforme (1Ts 4: 16,17). O incrível é que Jesus nunca disse que ele iria voltar de uma forma invisível para os cristãos, ou seja, em duas fases. Isso é fruto da sistematização escatológica do irmão C. I. Scofield.
5) – retorno escatológico do poder do Espírito Santo evidenciado pela glossolalia.
A respeito do Espírito Santo e a vinda de Jesus pode-se dizer, que um dos sinais que marcam a volta de Cristo é o derramamento do Espírito Santo (At 2: 16,17; Jl 2: 28); e segundo Antônio Gilberto (3º trimestre de 2006, p. 94) que diz:
Com este sinal vem também a operação de milagres e prodígios, a dinamização e expansão do evangelho e o avanço da obra missionária. Através dos séculos, o Senhor nunca deixou de derramar o Espírito Santo sobre seu povo, ora mais, ora menos. Mas a partir de 1901, o derramamento do Espírito Santo tem sido cada vez maior, fato que o nosso país é testemunha. [10]
Fica a pergunta! Os pioneiros do Movimento Pentecostal criam que quando ocorria o batismo com Espírito Santo na vida do crente, com evidencia física o falar em línguas; era para que o evangelho fosse anunciado com dinamismo e que os missionários fossem capacitados para falar em outro idioma, cujo nunca haviam aprendido antes? (At. 2: 7,8)
Então, como ficam as overdoses espirituais promovidas em avivamentos que não tem quase nenhum impacto na evangelização? Levando em consideração que o dom de línguas edifica a cada crente espiritualmente (1 Co 14: 4).
Portanto, o resultado deve ser de evangelização mundial, e de impacto social em um sistema que se tem degenerado aos poucos, por conta, da corrupção, violência e distúrbios sexuais. Mas enquanto, o Pentecostalismo continuar a margem da sociedade, sendo tratado como um movimento de pobres, negros e analfabetos; vamos precisar sim! Que Jesus nos revista de poder e autoridade para mudar esta situação e mostrar para sociedade que a pregação da mensagem pentecostal, é mais que, um êxtase espiritual sem nenhuma finalidade vivido pelos pentecostais. A fim de se igualar a eficácia pentecostal vivida entre os negros nortes americanos.
Bibliografia:
Araújo, Israel. Dicionário do Movimento Pentecostal. 1º ed. Rio de Janeiro: Editora CPAD, 2007.
Gilberto, Antonio. Revista Lições Bíblicas. As doutrinas Bíblicas Pentecostais. RJ: CPAD, 3º trimestre de 2006.
Keefauver, Larry. (Ed). O avivamento da Rua Azuza – Seymour. RJ: CPAD, 2001.
Ozean Gomes, Jose. Aula de Epistolas Paulinas: Instituto Bíblico das Assembléias de Deus. 16/03/2010, Pindamonhangaba - SP.
Barth, Karl. Esboço de uma Dogmática. São Paulo: Editora Fonte Editorial, 2006.
Franklin Ferreira, e Alan Myatt. Teologia Sistemática, uma analise histórica, Bíblica e Apologética para o contexto atual. 1. Ed. São Paulo/SP: Editora Vida Nova. 2007.
Mariano, Ricardo. Estudos Avançados - Expansão pentecostal no Brasil: o caso da Igreja Universal. Data Set./Dez. de 2004. Disponível em www.scielo.com.br. Acesso em 15/03/2010.
Bíblia. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal Antigo e Novo Testamento. Tradução por João Ferreira de Almeida. Editora CPAD, 1995.
[3] V. Rm. 5: 20.
[4] José Ozean Gomes. Aula de Epistolas Paulinas: Instituto Bíblico das Assembléias de Deus. 16/03/2010, Pindamonhangaba - SP.
[5] Karl Barth. Esboço de uma Dogmática. p. 218.
[6] V. Hb. 12: 14.
[7] V. 2 Co. 12: 7.
[8] Larry Keefauver. O avivamento da Rua Azuza – Seymour. p. 81.
[9] Ibidem. p. 82.
[10] Revista Lições Bíblicas. As doutrinas Bíblicas Pentecostais. p. 94.
Nenhum comentário:
Postar um comentário