17 de fevereiro de 2011

FÉ E DESCRENÇA




Fé e descrença


por


Fernando de Oliveira



A este propósito sobre ateísmo e teísmo ambos tende-se a uma questão paralela a analisar, pois existe uma linha finíssima que separa o teísta e o ateu; as palavras de Alessandro Rocha apud Bruno Forte (2007, p. 78), resumem bem este dualismo “à dúvida que se apresenta irmã da própria fé”. [1] Entretanto, pode-se dizer que existe uma necessidade de tornar a experiência de fé uma cognição, da qual se venha compreender a fé da melhor maneira possível. Portanto, segundo o teólogo católico Jung Mo Sung (2008), "Fé tem a ver com prática e não com cognição". [2] Não que seja impossível tornar a fé uma linguagem conhecida, pois, em toda história do cristianismo a busca de “crer para entender” sempre foi importantíssima. Por isso, Ruth Tucker (2008, p. 137), diz que:


Não deveríamos nos sentir ameaçados pela suprema pergunta do tipo “E se?”. E se nossas crenças bíblicas forem falsas? Se forem, ainda poderíamos olhar para trás na vida com uma sensação de satisfação e segurança, sabendo que cuidamos fielmente da criação e servimos os seres humanos, nosso semelhante – sempre praticando muitas boas ações? [3]

           
Desse modo, a dúvida pode até levar a descrença, no entanto, nada melhor do que praticar aquilo que Cristo ensinou nas Escrituras. Trata-se de viver uma vida digna de uma pessoa que ama o próximo; é como João Batista [4] no momento de dúvida, entender que podemos “organizar a festa, mas não participar dela”, ou seja, “preparar o caminho”. Somos apenas as agulhas, na verdade quem vai para festa é a bela roupa tecida com a mais “fina linha” [5] da costureira, nós apenas vivemos para o próximo. Assim fazendo, vamos conseguir andar sobre essa linha finíssima que traça a vida cristã em meio às dúvidas. Segundo Jürgen Moltmann apud Jeal Paul (2005, p. 216), “tanto a realidade de Deus como a esperança da ressurreição estão ligadas entre si tanto na fé como na descrença”. [6]

Tudo quanto foi dito recorda a Teologia da dúvida; segundo Alessandro Rocha apud Paul Tillich (2007, p. 78):


Fé é certeza na medida em que se baseia na experiência do sagrado. Mas ao mesmo tempo a fé e cheia de incerteza, uma vez que o infinito, para o qual ela está orientada, é experimentado por um ser finito. Esse elemento de insegurança na fé não pode ser anulado; nós precisamos aceitá-lo. [7]

           
Desta maneira, pode-se dizer que a Teologia da dúvida não é aquela questionada pelo cético ou pelo cientista, é a chamada dúvida existencial referente à fé, a inquietude do coração, isto é, a dúvida de quem crê. É a dúvida do pai com um filho possesso de um espírito mudo. [8] Entende-se que uma fé que não é desafiada corre o risco de desaparecer em meio aos questionamentos da crença cristã na Bíblia, em Jesus Cristo e até mesmo no próprio Deus Trino. Precisamos ter coragem! Segundo Jung Mo Sung (2008), "Quem não tem dúvida, não sabe o que é ter fé. Não precisa orar". [9]

Portanto, ao passar pelo vale da descrença não recue ao ponto de deixar a fé; e que na beligerância da vida cristã, Deus venha forjar a nossa fé “para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro (...)”. [10] Que no mar da inquietude do coração nossa crença se estabeleça como a certeza que Deus existe. Até mesmo porque “Deus é”!    




Bibliografia:

Bíblia. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal Antigo e Novo Testamento. Tradução por João Ferreira de Almeida. Editora CPAD, 1995.   
Moltmann, Jürgen. Teologia da Esperança: Estudos sobre os fundamentos e as conseqüências de uma escatologia cristã. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Teológica: Edições Loyola. 2005.
Rocha, Alessandro. Teologia Sistemática: no horizonte pós-moderno. 1. ed. São Paulo: Editora Vida. 2007.
23 Ago.2008. Ricardo Gondim, Luiz Felipe Pondé e Jung Mo Sung debatem e Descrença - Mundo Cristão promove debates na Bienal do Livro. Data 06/8/2008 – disponível em http://www.mundocristão.com.br/ 
Tucker, Ruth. Fé e Descrença: o drama da dúvida na vida de quem crê. 1. ed. São Paulo: Editora Mundo Cristão. 2008.


[1] Rocha, Alessandro. Teologia Sistemática: no horizonte pós-moderno. 1. ed. São Paulo: Editora Vida. 2007. p. 78.
[2] 23 Ago.2008. Ricardo Gondim, Luiz Felipe Pondé e Jung Mo Sung debatem e Descrença - Mundo Cristão promove debates na Bienal do Livro. Data 06/8/2008 – disponível em www.mundocristão.com.br 
[3] Tucker, Ruth. Fé e Descrença: o drama da dúvida na vida de quem crê. 1. ed. São Paulo: Editora Mundo Cristão. 2008. p.  137.
[4] V. Mt. 11. 1-5.
[5] Lembrando Machado de Assis em seu conto “Um apólogo”.
[6] Moltmann, Jürgen. Teologia da Esperança: Estudos sobre os fundamentos e as conseqüências de uma escatologia cristã. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Teológica: Edições Loyola. 2005. p. 216.
[7] Rocha, op. cit., p. 78.
[8] V. Mc. 9. 24.
[9] 23 Ago.2008. Ricardo Gondim, Luiz Felipe Pondé e Jung Mo Sung debatem e Descrença - Mundo Cristão promove debates na Bienal do Livro. Data 06/8/2008 – disponível em www.mundocristão.com.br  
[10] V. 1Pe. 1. 7.


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