3 de março de 2011

A PREGAÇÃO DE JESUS SOBRE O REINO DE DEUS


Decisão

A PREGAÇÃO DE JESUS SOBRE O REINO DE DEUS

O conceito predominante na pregação de Jesus é o Reino de Deus. Jesus anuncia uma manifestação imediata. “O Reinado de Deus põe fim ao atual curso do mundo, a manifestação destrói tudo que é contrario a Deus, tudo que é satânico, tudo que agora faz o mundo gemer”.[1] Nos evangelhos, alternam-se “O Reino de Deus” e “O Reino dos Céus”. As duas expressões significam a mesma coisa.[2]
O Reinado de Deus vem como um cumprimento das promessas proféticas do AT. É uma iniciativa maravilhosa de Deus, sem intervenção do homem.
A expectativa de um fim e de um novo futuro fazia parte da esperança do povo judeu no AT. No entanto, na pregação de Jesus a promessa não se refere a esperança nacionalista, não estava restrita aos judeus, não se refere a edificação do antigo reino dividido.[3] Em nenhum lugar da mensagem de Jesus o “Reino” designa o governo permanente de Deus sobre Israel no mundo presente. Antes, o reino sempre e em todo lugar é entendido escatologicamente; designa o tempo da salvação, a consumação do mundo, a reconstituição da comunhão de vida entre Deus e ser humano que fora destruída.[4]
Jesus não anuncia um rei que esmagara os inimigos. Ele não fala da soberania do povo de Israel sobre a terra, não anuncia felicidade em um país rico pleno de paz.
Jesus anuncia, sim, uma catástrofe cósmica. Jesus fala da corrupção do mundo, e do domínio satânico. Ele anuncia que “o mundo está prestes a acabar e em meio a terror e sofrimento irromperá o novo”.[5]
Jesus não olha para os acontecimentos passados, não fala de sinais que orientava para o fim. O centro da mensagem de Jesus era “Deus Reinara”.
·     Filhos deste mundo Lc 16.8: E elogiou o senhor o administrador infiel porque se houvera prudentemente, porque os filhos do mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz.
·     Recompensa no mundo vindouro Mc 10.29-31: Jesus respondeu: — Eu afirmo a vocês que isto é verdade: aquele que, por causa de mim e do evangelho, deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras receberá muito mais, ainda nesta vida. Receberá cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos, terras e também perseguições. E no futuro receberá a vida eterna. Muitos que agora são os primeiros serão os últimos, e muitos que agora são os últimos serão os primeiros.[6]
·     Fim do mundo Mt 13.49: Assim será na consumação do século: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos.
·     Presente perto do fim Lc 12.56: Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu e, entretanto, não sabeis discernir esta época?
Jesus tinha certeza que o presente mundo chegou ao fim (Mc 1.15: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho). Jesus diz que o atual curso do mundo está sob domínio de satanás e seus demônios, cujo tempo agora passou (Lc 10.18: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago). Ele anuncia a vinda do “Filho do Homem” como “Juiz e Salvador”.
·     Mc 8.38: Porque qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos.
·     Mt 24.27: Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do Homem.
Jesus fala da ressurreição dos mortos (Mc 12.18,27) e o juízo (Lc 11.31: A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com os homens desta geração e os condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é maior do que Salomão). Fala do inferno de fogo, no qual são lançados os condenados (Mc 9.43-48; Mt 10.28:  Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo).
Para referir-se à bem-aventurança dos justos usa a simples designação vida (Mc 9.43,45). Ele fala da ceia celestial (Mt 8.11: Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus) e da esperança de beber novamente o vinho no Reino de Deus (Mc 14.25).
A pregação de Jesus consiste em um radical apelo à decisão: “o tempo chegou! O reino de Deus está irrompendo! O fim está aí!” (Lc 10.23: E, voltando-se para os seus discípulos, disse-lhes particularmente: Bem-aventurados os olhos que vêem as coisas que vós vedes).[7]  
Agora é tempo de festejar, é tempo de alegria como no momento do casamento (Mc 2.18). Agora os pobres serão felizes, e os que tens fome, sereis fartos! E os que chorão irão rir (Lc 6.20). Satanás perdeu seu reinado, caiu (Lc 10.18: Mas ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago). O reinado de Deus vem de um só golpe (Lc 17.21: Ninguém vai dizer: “Vejam! Está aqui” ou “Está ali”. Porque o Reino de Deus está dentro de vocês).[8]
O povo entende os sinais do presente, sabem quando choverá ou quando fará calor, mas não são capazes de entender os sinais do presente (Lc 12.54-54). Mais quais são os sinais dos tempos? Ele mesmo! Jesus é o sinal, sua atuação e sua pregação anuncia o fim! (Mt 11.5: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho). A salvação começa agora com os feitos milagrosos de Jesus. Jesus não mostra um “sinal no céu” (Mc 8.11: E, saindo os fariseus, puseram-se a discutir com ele; e, tentando-o, pediram-lhe um sinal do céu), o grande sinal que todos devem perceber é o fato dele expulsar os demônios pelo poder de Deus que o preenche (Lc 11.20: Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente, é chegado o reino de Deus sobre vós). Primeiro ele amarra o homem forte para ai então assumir a casa (Mc 3.27: Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa). Se ele arranca uma pessoa do domínio de satã, é porque veio alguém mais forte que satã. “Neste mundo escravizado por Satã, Jesus entra com a autoridade de Deus, [...] para assumir a luta contra o mal. Cada expulsão de um espírito mau operada por Jesus significa uma antecipação da hora em que Satã será visivelmente dominado”[9].  
Todos estes sinais significam que o “Reino de Deus” está chegando. A vinda do Reino de Deus não pode ser acelerado pelo homem. “A vinda do Reino de Deus é um milagre independente de qualquer intervenção humana”[10] (Mc 4.26,29). Tanto o começo quanto a consumação do reinado de Deus são maravilhosos, e maravilhoso é o processo que leva à consumação. O começo então seria o aparecimento e a atuação de Jesus.
Tudo que o homem pode fazer em face do Reino de Deus em irrupção é está de prontidão ou preparar-se. Agora é o tempo de decisão, Jesus chama seus ouvintes à decisão (Lc 11.31).
Jesus é o sinal da chegada do “Reino de Deus”. E agora é a última hora; agora é uma coisa ou outra! Agora todos são obrigados a escolher se querem o reinado de Deus ou o mundo e seus bens, a decisão deve ser radical.
·     Lc 9.62: Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus.
·     MT 8.22: Replicou-lhe, porém, Jesus: Segue-me, e deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos.
·     Lc 14.27: E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo.
O próprio Jesus renegou a seus parentes (Mc 3.35: Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe). Muitos atenderam ao apelo de Jesus e decidiram segui-lo (Mc 1.16-20; 2.14). Jesus não disse que todos deveriam abandonar casa e família, como fez seus discípulos. “Todos, porém, devem decidir em que querem prender seu coração: em Deus ou nos bens deste mundo.[11]
A maioria das pessoas está presa a bens e preocupações; quando é preciso tomar uma decisão, fracassam (Lc 14.15-24). É preciso decidir o que se quer e quanto esforço está disposto a fazer (Lc 14.28-32).
Para o Reino de Deus o que conta é estar disposto a qualquer sacrifício (Mt 13.44-46). Jesus convida a renunciar ao mundo e a disposição para a exigência de Deus. Ele exige obediência, reivindica o ser humano todo. Perante Deus o importante não é apenas o que o homem faz o constatável, e sim qual é a vontade do ser humano. Deus exige toda a vontade do ser humano (Lc 6.43: Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto).
O Reino de Deus é para aquele que deseja o bem e o faz. O ser humano é exigido em sua totalidade diante de Deus. 


Pastor David Rubens
Pinda-SP. 11/07/2010        




[1] BULTMANN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento. Teológica: São Paulo, 2004. p. 41
[2] JEREMIAS, Joachim. Teologia do Novo Testamento. Teológica: São Paulo, 2004. p. 161
[3] BULTMANN, p. 41
[4] JEREMIAS, p. 167
[5] BULTMANN, p. 41
[6] Nova Tradução na Linguagem de Hoje - NTLH
[7] BULTMANN, p. 43
[8] Nova Tradução na Linguagem de Hoje - NTLH
[9] JEREMIAS, p. 158
[10] BULTMANN, p. 45
[11] BULTMANN, p. 47


IMMANUEL KANT


KANT E EMANCIPAÇÃO DA METAFÍSICA

Immanuel Kant (1724-1804). Esse filósofo prussiano corresponde com a maior ruptura que a Teologia cristã já conheceu, isto é, deu-se em Kant a emancipação da Metafísica Clássica. Então, pode-se dizer que a Teologia cristã ‘despertou do sono dogmático’, e quando a Teologia descobriu isso, foi à mesma coisa que dizer que o discurso teológico não precisava mais ser orientado pela Metafísica platônica.
Desse modo, havia de ser determinado o que a ‘razão’ pode, ou não pode, conhecer (em sentido epistemológico). Kant utilizou dois conceitos para definir tal sistema de conhecimento, cujos conceitos são: o fenômeno e o númeno kantiano. O teólogo batista Rocha (2010, p. 118) diz que:

O fenômeno é a coisa para nós ou o objeto do conhecimento propriamente dito, é o objeto enquanto sujeito do juízo. O númeno é a coisa em si ou o objeto da metafísica, isto é, o que é dado ao pensamento puro, sem relação com a experiência. [1]

Nestas condições, esta afirmação mostrou que o sujeito do conhecimento só poderia conhecer aquilo que se configura no ‘tempo e no espaço’ - fenômeno. Em detrimento, do conhecimento que não é apresentado à sensibilidade, de modo que o pensamento puro não produz conhecimento (Episteme), isto é, verdadeiro conhecimento - númeno.
Assim, nas palavras do filósofo e economista Giannetti “não há estado mental sem um correlato neurofisiológico que o corresponda.” [2] Portanto, com o avanço na neurociência, sabemos, bem mais que Kant. Dado que, todo conhecimento é, sempre conhecimento de alguma coisa.
Na concepção teológica abre a possibilidade de construir a Teologia cristã de outra forma, que não seja, necessariamente, aquela do mundo da ideias platônica. Na qual o mundo verdadeiro é o mundo das reminiscências, da alma preexistente que contemplou todo conhecimento ideal, mas que infelizmente está presa no mundo sensível.
Desse modo, a mesma teve que procurar outra plataforma epistemológica para construir o Cristianismo. Em resumo, a Teologia cristã não se restringiu a um ‘dualismo’ entre o mundo ideal e o mundo sensível. Em uma disjunção ultra – mundo desvinculado do mundo do fenômeno, na qual a trama da história se desenrola.


[1] Alessandro Rodrigues Rocha. Uma Introdução a Filosofia da Religião: um olhar da fé cristã sobre a relação entre filosofia e religião na história do pensamento ocidental.1. Ed. São Paulo: Editora vida, 2010. P. 118. 
 [2] Eduardo Giannetti. Sempre um papo. Falando sobre o livro “Ilusão da Alma”. Disponível em <http://www.sempreumpapo.com.br/audiovideo/player.php?id=214> acessado em: 29/01/2011.






1 de março de 2011

Profetas - David Rubens



 
PROFETAS:
HOMENS DE YAHWEH; HOMENS DO POVO
Por
David Rubens[1]

Toda palavra contida na Escritura, seja anúncio ou narração, exortação ou mandamento, oração ou reflexão sapiencial, faz referência a alguns acontecimentos nos quais Deus interveio para outorgar a salvação aos seres humanos. Segundo W. Panennberg, “Deus se revelou através da história”. Os profetas tiveram uma relação estreita com Yahweh, Deus de Israel, através deles, Deus transmitiu ao povo seus juízos e promessas.  

I OS PROFETAS E A HISTÓRIA

1. Os profetas, testemunhos da história
Os livros proféticos são um reflexo da época em que foram escritos e das circunstâncias que rodearam o profeta.[2] Os profetas estavam bem informados sobre a política do seu tempo, mas não adotaram posturas utópicas. Simplesmente consideraram as instituições políticas do seu povo e as das nações estrangeiras como instrumentos nas mãos de Yahweh para levar adiante seu plano.
Ø A atividade do profeta está acima das encruzilhadas políticas. Mas até que ponto a atividade de cada profeta influenciou as decisões concretas dos reis.
-    Intervenção de Isaías na guerra Siro-efraimita.
-    Influência de Jeremias na crise que a invasão babilônica provocou nos deportados e nos que ficaram em Jerusalém.
Os profetas eram bons conhecedores dos acontecimentos da sua época.

2. Os profetas, intérpretes da história
Os profetas não se limitam a testemunhar os acontecimentos dos quais são protagonistas, mas aprofundam o seu sentido. Nas palavras de José Luis Sicre: “eles fincam pé na força da Palavra de Deus como criadora da história (Is 55.10-15)”.[3]
A interpretação da história nos profetas baseia-se em três idéias fundamentais: o monoteísmo, a eleição do povo e a missão específica entre as nações.[4]
A) Monoteísmo: visto haver um só Deus, é ele o autor da história. Não tem nenhum sucesso quem escapa ao seu controle. A Ele deve ser atribuído tanto os benefícios quanto as desgraças. Quando Israel passa os seus piores momentos e tende a buscar apoio em outros povos ou deuses, surge um profeta que o confirma na verdade: Am 5.5-6. Assíria, Babilônia ou Egito são as potências opressoras: são nações idólatras. Quando estas nações triunfam em seus projetos, seria possivel entender que os deuses, protetores destas nações, estavam triunfando sobre o Senhor. O ensinamento profético não admite dúvida: Deus mesmo é quem anima estas nações que se encarregarão de afligir a Israel o castigo merecido: Am 6.14.
Jeremias apresenta Babilônia como instrumento nas mãos de Yahweh (Jr 5.15; Is 5.26). O segundo Isaías interpretará o surgimento e o crescimento da Pérsia como uma intervenção benéfica de Yahweh (Is 45.1-3).[5]
B) Eleição: ao surgirem às nações, Yahweh quis escolher com predileção o povo de Israel. Porém, ao fazê-lo, não o arrancou de entre os outros povos, mas o levou a viver entre eles. Mas ainda, já que a eleição por si só não equivale a privilégios ou falsas seguranças (Am 9.7). O povo de Israel deve ter consciência de que não é o maior (Am 7.2-5), nem o mais rico (Am 6.2), nem o mais poderoso (Am 2.9).
       Jeremias 2.1-7
Ezequiel 16.23
Isaías 50.1; 54.5
A eleição serve de base para a exigência da responsabilidade de Israel (Am 3.1-2: 1- Ouvi esta palavra que o Senhor fala contra vós, filhos de Israel, contra toda a geração que fiz subir da terra do Egito, dizendo: 2- De todas as famílias da terra a vós somente conheci; portanto, todas as vossas injustiças visitarei sobre vós: 3- Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?). “Yahweh castiga o seu povo não em uma explosão de ira, mas de misericórdia: não pode aniquilá-lo, nem pode deixar impune o rompimento da aliança”. O senhor não busca a ruína do povo mas a sua conversão.
C) Missão: a missão consiste em tornar as gentes participes das bênçãos e dos benefícios recebidos de Yahweh (Is 2.3-4 e Mq 4.2: E irão muitas nações, e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor, e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e nós andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do Senhor de Jerusalém.). O segundo Isaías conta a íntima relação Deus-povo com uma linguagem intima e afetiva: Isaías 41.8-10.
Conclusão
A história é o marco no qual nasce e se desenvolve a profecia. Os profetas despertam a esperança dos seus ouvintes entre oráculos de condenação e salvação, proclamados na perspectiva dos acontecimentos históricos que eles são chamados a viver.     


II OS PROFETAS: PERTURBADORES

As profecias vem sendo interpretadas pela teologia cristã pelo ângulo do seu cumprimento no Cristo. Tal idéia despreza por completo, a função dos profetas, que antes de tudo, pretendiam anunciar o juízo sobre Israel.
 Diz Claus Westermann[6], que os profetas combateram a apostasia sempre iminente no povo; eles exortaram ao povo a se manter fiel à Yahweh, advertiram e ameaçaram com castigo, ao mesmo tempo que proclamaram a salvação ao resto que sobrasse do cataclisma.
a) Porta-voz: os profetas eram porta-vozes da mensagem divina. Com suas pregações incômodas deram em cheio contra a infidelidade do povo. A oposição causava sofrimento e perseguições. Os profetas gemiam ante a inutilidade de seus trabalhos e empenhos (Is 49.4: Mas eu disse: Debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as minhas forças; todavia o meu direito está perante o Senhor, e o meu galardão perante o meu Deus).
b) A mensagem: os profetas censuravam todas as áreas da vida do povo, mas principalmente as violações dos mandamentos capazes de trazer riscos a existência da nação.[7]
Os casos concretos variam de profeta para profeta, de situação para situação:
Ø Isaías: acusação de cunho político.
Ø Jeremias: desaprova a autonomia nas decisões políticas sem consultas prévias da vontade de Deus.
Ø Oséias: ataca os reis e os chefões. Segundo Claus Westermann: “jamais um profeta organizava a oposição contra um rei. Limitavam-se a falar e a padecer as conseqüências”.[8]
Ø Amós e Miquéias: atacam os abusos sociais, estendidos até o campo econômico e cultural.
Ø Os profetas denunciam ainda a vida luxuosa, constratando ostensivamente com a miséria dos indigentes, das viúvas e dos órfãos, ao passo que fora vontade de Deus que todos possuíssem a mesma participação no território da terra prometida.
c) Campo religioso: a acusação mais apaixonada dos profetas é no campo religioso, porquanto o culto divino ocupava o lugar central no coração do povo. Um profeta falar em nome de Deus, contra o culto divino, é comovedor; mas eles falaram seriamente, e só alguns poucos entenderam e acolheram a pregação profética:
.      Ofertaram os sacrifícios com mãos manchadas de sangue! (Is 1.10-17; Am 2.8);
.      Culto hipócrita (Jr 7.1-15; Is 66.1-2);
.      Repreensão aos sacerdotes (Jr 2.8);
.      Luta contra os falsos profetas (Jr 28).
Cabia aos profetas legítimos condenar qualquer desvio das profecias autenticamente esperançosas.
Conclusão
Os profetas pregavam no tempo presente, tinham ante os olhos as desordens presentes, que atraiam a ira de Yahweh, de modo que o castigo futuro era a conseqüência lógica da transgressão presente.[9] O interesse do profeta estava voltado também para o passado, evocando tudo o que já acontecera entre Deus e o seu povo (Is 5.1-7).

III PROFETA AUTÊNTICO E PROFETA FALSO

1- Profeta autêntico
a) Jamais tiveram eles a iniciativa de um contato com Yahweh; foi ele quem os surpreendeu, sem a interferência da vontade dos profetas. Amós descreve-o dizendo: “o leão ruge: quem não termerá? O Senhor Yahweh fala: quem não profetizará?” (Am 3.3-8).
b) Eles se tornam instrumento de Yahweh não em um momento de êxtase, mas em plena consciência; ouviram, observaram e responderam. Isaías ouviu uma voz que perguntava: “A quem enviarei? Quem será meu mensageiro?” E numa livre decisão ele respondeu: “Eis-me aqui; envia-me! (Is 6.8-9).
c) Alguém que Deus surpreende, ele reluta (Jr 1.6-7), se apavora (Am 3.8), Ezequiel se sente agarrado pela sua mão. O profeta é surpreendido e subjugado; de modo que dizer, teve que ser profeta.[10] É enviado a rebeldes e obstinados (Ez 2.3: E disse-me: Filho do homem eu te envio aos filhos de Israel, às nações rebeldes que se rebelaram contra mim; eles e seus pais prevaricaram contra mim, até este mesmo dia). Sua mensagem leva a solidão (Jr 15.17: Nunca me assentei no congresso dos zombadores, nem me regozijei; por causa da tua mão me assentei solitário, pois me encheste de indignação) e á perseguição (Am 7.10; Jr 20.10). Cada um dependia da Palavra de Yahweh, que os chamava continuamente à ação (Jr 15.19-21) e da força de Yahweh, que os impelia sem cessar (Mq 3.8).[11]
d) O profeta enquanto “escolhido”, “santificado” e consequentemente “separado” (Jr 1.5), esta em uma relação estreita com Yahweh, Deus de Israel, que se torna assim o “seu” Deus. De sua parte o profeta se torna sujeito de dois títulos específicos: “Homem de Deus”[12] e “Servo de Deus”.
e) O profeta está colocado como mediador entre Yahweh e Israel: “Ele ama a ambos e a ambos pertence”.[13]
f)  O profeta vislumbra as coisas vindouras não somente através de palavra articulada, mas também através de toda sorte de atos simbóliocos, por vezes extremamente estranhos[14] (Is 8. 1-4; 20.11; Jr 19.1).

2- Falso profeta
Sobre os falsos profetas sedutores diz Miquéias (Mq 3.5: Assim diz o Senhor contra os profetas que fazem errar o meu povo, que mordem com os seus dentes, e clamam: Paz! mas contra aquele que nada lhes mete na boca preparam guerra).
Jeremias caracteriza os falsos profetas dizendo (Jr 23.14: Mas nos profetas de Jerusalém vejo uma coisa horrenda: cometem adultérios, e andam com falsidade, e esforçam as mãos dos malfeitores, para que não se convertam da sua maldade; eles têm-se tornado para mim como Sodoma, e os moradores dela como Gomorra).
Apenas um profeta verdadeiro tem capacidade para desmascarar o falso.

Conclusão
O verdadeiro profeta pode sofrer insucessos nas mãos do falso, mas confia na Palavra do seu Deus, palavra que lhe dá nova autoridade (Jr 28.11: E falou Hananias aos olhos de todo o povo, dizendo: Assim diz o Senhor: Assim quebrarei o jugo de Nabucodonozor, rei de Babilônia, depois de passados dois anos completos, de sobre o pescoço de todas as nações. E Jeremias, o profeta, se foi seu caminho), coisa que jamais poderá fazer sozinho; pode às vezes esperar em desespero por dez dias, mas ele acaba por fazê-lo (Jr 42.7: E sucedeu que ao fim de dez dias veio a palavra do Senhor a Jeremias; Is 8.17: E esperarei ao Senhor, que esconde o seu rosto da casa de Jacó, e a ele aguardarei).

Bibliografia

RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo Testamento. 2. ed. São Paulo. Aste; Targumim: 2006. p. 530.
SICRE, Luis José. org. Os profetas. 2. ed. São Paulo. Paulinas: 2007.
SHREINER, Josef. Palavra e Mensagem do Antigo Testamento. São Paulo. Teológica: 2004.
WESTERMANN, Claus. Fundamentos da Teologia do Antigo Testamento. São Paulo. Editora Academia Cristã: 2005.
WILSON, Robert R. Profecia e Sociedade no Antigo Israel. 2. ed. São Paulo. Targumim: Paulus: 2006.
WOLFF, Hans Walter. Bíblia Antigo Testamento. São Paulo. Teológica: 2003.



[1] Artigo preparado para aula de Profetismo no Seminário Teológico Vale Histórico em Taubaté-SP (18 de setembro – 2010). 
[2] SICRE, Luis José. org. Os profetas. 2. ed. São Paulo. Paulinas: 2007. p. 64.
[3] Ibidem, p. 67.
4 SICRE, Luis José. org. Os profetas. 2. ed. São Paulo. Paulinas: 2007. p. 67.
5 Ibidem, p. 68.
[6] WESTERMANN, Claus. Fundamentos da Teologia do Antigo Testamento. São Paulo. Editora Academia Cristã: 2005. p. 239.
[7] Ibidem, p. 147.
[8] Ibidem, p. 151.
[9] WESTERMANN, Claus. Fundamentos da Teologia do Antigo Testamento. São Paulo. Editora Academia Cristã: 2005. p. 148.
[10] SHREINER, Josef. Palavra e Mensagem do Antigo Testamento. São Paulo. Teológica: 2004. p. 176.
[11] WOLFF, Hans Walter. Bíblia Antigo Testamento. São Paulo. Teológica: 2003. p. 79.
[12] O homem de Deus entendido no sentido de servo de Deus. É sinônimo de profeta, sendo ambos os títulos aplicados às vezes ao mesmo indivíduo (1Sm 3.20; 9.6,7,8), a área geográfica determinava o uso do titulo. WILSON, Robert R. Profecia e Sociedade no Antigo Israel. 2. ed. São Paulo. Targumim: Paulus: 2006. p. 174.
[13] SHREINER, Josef. Palavra e Mensagem do Antigo Testamento. São Paulo. Teológica: 2004. p. 177.
[14] RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo Testamento. 2. ed. São Paulo. Aste; Targumim: 2006. p. 530.