24 de junho de 2011

Estrutura de Marcos

EVANGELHO DE MARCOS: JESUS O FILHO DE DEUS

No Evangelho de marcos Jesus é logo apresentado como sendo o Filho de Deus, ou seja, o Messias que fora anunciado pelo profeta Isaias e era aguardado por todo Israel.
Na narrativa não existe um interesse em apresentar uma genealogia de Jesus, como ocorre em Mateus e Lucas. Para Marcos, não era importante saber sobre a família de Jesus. O leitor deveria reconhecer tão somente o valor messiânico de Jesus o Filho de Deus.
Marcos é o Evangelho do Jesus Messias o Ungido de Deus, aquele que possui o Espírito de Deus, que cura os enfermos, toca os leprosos, prega arrependimento, ora, e até os espíritos imundos lhe obedece.

Capitulo 1.1,45
Estrutura:


Jesus, Filho de Deus
Ligação
Antigo Testamento
Profeta Isaías

João Batista, Anjo

Organização
Jesus
João Batista

Messias
Profeta


Feras
Dimensão espiritual
Jesus


Anjos


Recruta
Formação de grupo, discípulos
Jesus, Rabi


Ensina

Prega
Ora, ainda escuro
Diferente dos Escribas
Espíritos imundos lhe obedecem
Cura os enfermos

Conservava-se em lugares desertos

    
David Rubens
18/06/2011 às 6h25, manhã de Sábado. 
Pindamonhangaba-SP

22 de junho de 2011

Homus tecnologicus

Evangelho de Lucas

Anúncio da morte e ressurreição de Jesus - LC-9,22-25
26/02/2009

Os evangelistas, cada um a sua maneira, se referem à questão da identidade de Jesus. A interpretação dominante, entre os discípulos vindos do judaísmo, era que Jesus seria o messias davídico esperado conforme a tradição antiga do Primeiro Testamento. Jesus rejeita ser identificado com este messias (”cristo”) restaurador do reinado de Davi. É o momento de deixar isto claro. A partir da interrogação sobre quem Ele é, Jesus identifica-se como o “Filho do Homem”. Esta expressão, muito freqüente no livro de Ezequiel, refere-se a comum condição humana, humilde e frágil. Enquanto “humano” Jesus é vulnerável ao sofrimento e à morte. A “necessidade” deste sofrimento não significa um determinismo, mas as implicações inevitáveis decorrentes do compromisso libertador assumido por Jesus. Os poderes constituídos necessariamente vão reagir contra a prática libertadora de Jesus e de seus discípulos, e procurarão destruí-los. Porém, Jesus revela que ao “humano” foi dada, por Deus, a vida eterna. Perder a vida de sucesso oferecida por este mundo e consagrar-se ao seguimento de Jesus significa a comunhão com o Pai em sua vida divina e eterna.

Para Lucas, o que conta é a ressurreição, não a morte. Mesmo ao descrever a morte com traços vivos, destacando a inocência de Jesus, seu caráter de mártir, Lucas não lhe dá o sentido salvífico. Se, de fato, Lucas é um grego, então se pode ver nisto um motivo para não apelar para a morte expiatória e vicária, pois esta era teologia judaica. No contexto grego de Lucas é muito mais importante ressaltar a ressurreição, pois a morte para os gregos é loucura (1Cor 1,23).

- O Filho do Homem terá de sofrer muito. Ele será rejeitado pelos líderes judeus, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da Lei. Será morto e, no terceiro dia, será ressuscitado.

A morte de Jesus como vitória sobre o sofrimento e, sobretudo sobre os poderes da morte ,e a de descer aos infernos e lutar com a morte, era uma idéia bem conhecida no oriente e no ocidente. Faz parte da mitologia de muitos povos que a aplicavam aos seus heróis. Esta idéia penetrou no judaísmo tardio e dali passou para o Novo Testamento. Nesta mesma perspectiva, também Cristo tem vencido os poderes da perdição. Ele conquistou a salvação descendo ao reino dos mortos, libertando os que aí estavam presos , desde Adão até o último homem.

“A concepção é de que Cristo, na hora de sua morte, desce até ali e derrota - numa luta - o príncipe dos demônios. No Novo Testamento encontram-se vestígios desta visão mítica. Em Mt 27,51-53 se narra que no momento da morte de Jesus a terra tremeu e se abriu, muitos mortos saíram de suas sepulturas e entraram na cidade. Assim Jesus, pela sua morte liberta os mortos que lá estavam presos. Com esta visão mítica, personifica-se o poder que age sobre a morte. O diabo, a morte e as forças do mal se confundem. A morte de Jesus assim é vista como resgate e a destruição deste poder. Pela sua morte Jesus destruiu a morte (1Cor 15,24.26; 2Ts 2,8; 2Tm 1,10; Hb 2,14). “Assim, pois, já que os filhos têm em comum o sangue e a carne, também Ele participou igualmente da mesma condição, a fim de, por sua morte, reduzir à impotência daquele que detinha o poder da morte, isto é, o diabo” (Hb 2,14).

Através de sua morte, Jesus destruiu o poder da morte, deixando o ser humano livre. Mas, antes da Ressurreição existe a cruz. E Ele quer advertir os seus para que fiquem preparados para ela. Como aos apóstolos também cada um de nós está sendo convidado a segui-lo, passando por tudo o que Ele passou, a fim de que no final possamos ressuscitar com Ele para a eternidade.

Disponível em: <http://www.padrejoaosv.com/homilia_diaria.php?&id=888>. Acesso em: 22 jun 2011.

21 de junho de 2011

Escatologia Paulina (texto rev. e atul.)




INSTITUTO BÍBLICO DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS
BACHAREL EM TEOLOGIA / TCC 1
17/06/2011



A ESCATOLOGIA PAULINA A LUZ DO PENSAMENTO DE KARL BARTH, WOLFHART PANNENBERG, JÜRGEN MOLTMANN E RUDOLF BULTMANN: algumas aplicações para existência



Luiz Henrique Batista Filho
Fernando de Oliveira
Prof. Alan Ricardo Araujo


RESUMO
O texto apresenta inicialmente uma visão sobre a escatologia paulina em Coríntios e Tessalonicenses, e em seguida uma abordagem da escatologia de Paulo a luz do pensamento de Karl Barth, Wolfhart Pannenberg, Jürgen Moltmann e Rudolf Bultmann, finalizando com um itinerário escatológico existencial para vida cristã.      


Palavras-Chave: Paulo, escatologia, Igreja, ressurreição, cristãos, pensamento, esperança cristã, vida cristã, existência.


1 INTRODUÇÃO

Ao escrever sobre o pensamento escatológico de Paulo em Coríntios e Tessalonicenses, logo vem à mente a peculiar relação de Paulo com as denominadas cartas, a fim de resolver os problemas das relativas Igrejas. Esses escritos, portanto, não possuem um teor de uma doutrina escatológica sistematizada; coisa que só venho a se concretizar no decorrer da História da Igreja Cristã. Portanto, tal pensamento é mais o exercício árduo do apóstolo para que as comunidades cristãs viessem a ter uma “esperança cristã”.
Desta maneira, o estudo ater-se-á, mais precisamente aos textos singulares (1Co 15. 1-58; 1Ts 4. 13s.; 5.1s.; 2 Ts2. 1-17). Todavia, ciente que nas demais epístolas paulinas, em partes diversificadas, se encontrarão sinais do pensamento escatológico de Paulo. No entanto, ao procurar a interpretação do pensamento escatológico do apóstolo, nos textos singulares, percebe-se o quanto à tradição judaico-cristã permeou seu pensamento. O que, conseguintemente, incorreu para que ele relacionasse os fatos ocorridos com Jesus de Nazaré e os primeiros cristãos da Palestina, como o fundamento principal da “esperança” da Igreja Cristã.
Assim sendo, fica a pergunta: Qual seria a concepção de Paulo sobre o futuro do salvos? Tal reflexão irá abordar como se dá a vida após a morte. E os cuidados que deve tomar para não confundir a compreensão bíblica referente à “ressurreição do corpo”, com alguns conceitos pagãos. Porque a ressurreição está intimamente ligada à vida após a morte. Desse modo, a ideia de ressurreição do corpo será trabalhada a luz do pensamento de Karl Barth e Wolfhart Pannenberg, e no demais, uma aplicação existencial para a vida cristã.
Logo, em seguida será refletido acerca de: Como Paulo descreve os últimos acontecimentos? Assim, discutir-se-á como se dá toda essa expectativa de um dia não viver mais tanto sofrimento. Então, será repensada a questão do sofrimento a luz do pensamento de Jürgen Moltmann e Rudolf Bultmann. A fim de trazer uma aplicação existencial para a vida cristã e saber como a questão do sofrimento deve ser conduzida.
Conclui-se, esta breve introdução, lembrado que, tal artigo está basicamente restrito as cartas aos Coríntios e aos Tessalonicenses. Portanto, ao lê-lo não se esqueça que a nossa intenção é discorrer sobre a escatologia paulina a luz do pensamento de Barth, Pannenberg, Moltmann e Bultmann a fim de trazer algumas aplicações para a existência.


2 O pensamento escatológico de Paulo em Coríntios e Tessalonicenses
           
Antes de tratar sobre o pensamento escatológico de Paulo em Coríntios e Tessalonicenses é de fundamental relevância compreender a apocalíptica judaico-cristã que, desde o período intertestamentário à formação dos cristãos primitivos amarrou-se a um apocaliptismo subdesenvolvido acerca do início de um novo éon.[1] O que culmina para uma visão complexa sobre os “segredos celestiais” concernentes a vinda do Filho do Homem, batalha contra o anticristo e o futuro do Reino de Deus. 
Paulo está vivendo dentro de um contexto escatológico, onde tais formulações estão fermentadas no ideário da Igreja Cristã. E o pensamento do apóstolo é influenciado justamente, por essas, concepções judaico-cristãs e por outras noções do que se tange a doutrina das “últimas coisas” como afirma Manson (2009, p. 10,11), se pode encontrar na teologia paulina:

 [...] elementos que provêm dos profetas do Antigo Testamento, elementos que tem origem na sua educação rabínica, elementos de seu primeiro ambiente helenístico e do mundo greco-romano em que viveu posteriormente, elementos apocalípticos e da primitiva tradição cristã palestinense.
           
Nestas condições, quando se lê as cartas aos Coríntios e aos Tessalonicenses, não se pode deixar de fazer uma leitura usando lentes concernentes a todos estes eventos e pensamentos, que marcaram a escatologia paulina.
Quando Paulo se refere aos Coríntios, logo vem à mente o texto áureo do pensamento escatológico paulino, em que é exposta excelentemente a doutrina da “ressurreição” (1Co 15. 1-58). Desse modo, Paulo discutirá as aparições de Cristo após sua ressurreição. E a colocará no mesmo nível de quando Jesus Cristo apareceu para ele a caminho de Damasco (vs. 1-11).
Em seqüência disso, o apóstolo combate à ideia que os gregos tinham contra a ressurreição dos mortos (At 17.32). Isto é, o contato com alguns irmãos “entusiastas espirituais” fez com que os Coríntios ultrajassem o ensinamento sobre a ressurreição, pois, por razão de gnoses (conhecimento superior secreto), criam já fazer parte do mundo “ultraterreno de Deus” (1Co 4. 8). Nestas condições, isso mostra a situação daquela comunidade cristã. Portanto, uma dura repreensão revela que o Cristianismo é dependente da ressurreição de Jesus Cristo (vs. 12-19).
Logo, vê-se a importância da ressurreição para os cristãos que, através de Cristo serão vivificados e com eles toda a criação completará sua eterna redenção, “[...] para que Deus seja tudo em todos” (v. 28). Aí um apelo final para que os cristãos vigiassem e continuassem crendo na ressurreição dos mortos (vs. 20-34). No demais, Paulo define a natureza do corpo ressuscitado (vs. 35-49). E por fim, revela como acontecerá a ressurreição (vs. 50-58).
Já em Tessalonicenses as palavras de Bornkamm (2009, p. 127), resumem bem a questão:
           
Paulo fora informado, outrossim, a respeito dos problemas que perturbavam a fé daqueles fiéis: estavam preocupados porque os retorno de Cristo tardava em acontecer e estavam aflitos pela sorte de alguns irmãos que, neste meio tempo, haviam morrido, os quais poderiam estar excluídos do esperado advento da salvação. O apóstolo se esforça para aliviá-los destas preocupações e os exorta a esperarem com confiança a vinda do Senhor, cujo dia e hora ninguém conhece, e a viver de modo sóbrio e honesto, como “filhos da luz” que pertencem ao Senhor (1Ts 4. 13s.; 5.1s.).

Por conseguinte, vale à pena lembrar que cada carta que Paulo enviava tanto para os Coríntios quanto aos Tessalonicenses, ambas eram para aquelas respectivas comunidades cristãs a fim de atender a necessidade de cada Igreja. Por isso a mensagem escatológica de 2Ts é diferente de 1Ts. E em 1Co capítulo 15 Paulo nem comenta acerca do anticristo. Todavia, as respostas aos momentos que antecedem ao eschaton, acabam por retardar a Vinda de Cristo (2Ts 2. 1-17). Como o próprio texto de 2Ts diz: “[...] como se o Dia do Senhor estivesse para chegar logo [...]” (v. 2). Diferente de 1Ts.


3 ITINERÁRIO ESCATOLÓGICO EXISTENCIAL: A ESCATOLOGIA PAULINA A LUZ DO PENSAMENTO DE KARL BARTH E WOLFHART PANNENBERG      

Qual seria a concepção de Paulo sobre o futuro dos salvos? Para o apóstolo é inevitável que Cristo volte! E os que morreram em Cristo ressuscitaram primeiro. E os que ficaram vivos serão arrebatados, e irão ao encontro do Senhor nos ares – incorruptíveis – (1Ts 4. 16,17; 1Co 15. 51,52).
No entanto, uma discussão pode ser levantada. Como se dá a vida após a morte? Será que os fiéis estão em um estado de gozo eterno? E os infiéis estão em um estado de tristeza eterna? Como se lê em: (Lc 16. 19-31; 2Co 5. 8; Fp 1. 23; Fp 3. 20,21).
Agora a controvérsia se levanta! A questão é saber se os fiéis ou infiéis, logo após a morte, recebem um corpo transformado. Ou, são semelhantes a um espírito/alma sem corpo. Assim sendo, tal expectativa contrária à visão bíblica de ressurreição do corpo, no último dia, de forma coletiva para os santos e até mesmo para aqueles que aguardam o juízo final (Lc 14. 13,14; 20. 35,36; Jo 5. 21,28; 1Co 15. 22,23; Fp 3. 11; 1Ts 4. 14-16; Ap 20. 4-6, 13).
Portanto, a Escritura ensina a ressurreição do corpo. O credo Apostólico diz: “Creio na ressurreição do corpo”. Discorrendo sobre a ressurreição do corpo e a vida eterna, Barth afirma (2006, p. 222, 223),

Agora o cristão olha adiante. Qual o significado da esperança cristã nesta vida? Uma vida após a morte? Um evento fora da morte? A pequena alma que, como borboleta, esvoaça pela sepultura e ainda é preservada em algum lugar, a fim de viver em imortalidade? É assim que os pagãos vêem a vida após a morte. Mas isto não é esperança cristã. “Creio na ressurreição do corpo”. Corpo na Bíblia é simplesmente o homem; homem, além disto, sob o signo do pecado, homem caído. Para este homem és dito “Tu ressuscitarás”. Ressurreição significa não continuação desta vida, mas sua conclusão. Para este homem um “Sim” é dito onde a sombra da morte não pode alcançar. Na ressurreição, nossa vida esta envolvida, nós, homens como somos e estamos situados. Nós ressuscitaremos ninguém mais tomará nosso lugar. “Seremos transformados” (1Co 15); isto não quer dizer que uma vida diferente se inicia, mas “o corruptível se revestirá de incorruptibilidade e o mortal de imortalidade”. Então será manifesto que “a morte foi tragada pela vitória”. Portanto, a esperança cristã afeta nossa vida como um todo: as nossas vidas serão completadas. Esta que foi semeada em desonra e fraqueza ressuscitará em glória e poder. A esperança cristã não nos conduz para longe desta vida; pelo contrário, é a revelação da verdade na qual Deus vê a nossa vida. É o triunfo sobre a morte, mas não um vôo para o Além. A realidade desta vida está envolvida. A escatologia, corretamente entendida, é a coisa mais prática que pode ser considerada. Nela, a luz cai sobre nossas vidas. Esperamos por esta luz. “Nós te oferecemos esperança”, disse Goethe. Talvez até ele mesmo sabia desta luz. A mensagem cristã, em toda medida, de modo confiante e confortante, proclama a esperança nesta luz.

Semelhantemente Pannenberg afirma (2004, p. 100, 101),

Creio que uma investigação moderna na natureza humana torna mais fácil a visão de como a verdade dessa expectativa é razoável. A abertura do homem para o mundo, transcendendo qualquer situação que surja no mundo, pode ser compreendida hoje somente em termos de expectativa de uma ressurreição. A expressão “abertura ao mundo” implica que aquele homem tem um destino infinito: de um modo diferente isso já erra conhecido nos primórdios e por essa razão os filósofos constantemente assumiam uma vida após a morte. A tradição filosófica entendeu seu destino, transcendendo à morte por ser a alma infinita e imortal.
Essa idéia nos parece estranha, uma vez que a nova antropologia trouxe a unidade de todos os acontecimentos mentais com os processos corporais e então não somos mais capazes de pensar como uma alma sem um corpo. Por esta razão, não mais concebemos o destino infinito de um homem além da morte em termos da imortalidade da alma – if at all – apenas como uma ressurreição.
Portanto, nosso vínculo com a morte de Jesus, com suas falas, seu sofrimento e cruz, também garantem nossa participação futura no que já apareceu apenas em Jesus, e também a compartilhar a vida e ressurreição, na qual o destino do homem alcança consumação.

A antropologia contemporânea concebe o ser humano em sua totalidade. Assim, o homem e a mulher não são uma disjunção entre corpo e alma, mas uma unidade psicossomática. No ocidente o pensamento grego (platônico), influenciou os pensadores a entender o ser humano como duas substâncias. Primeira, substância pensante. Segunda, substância corporal. Portanto, se sabe que o “res cogitans” de Descartes é produto do corpo (cérebro), no qual a máquina corpo dá conta de produzir à consciência, o pensamento, a mente etc. É bom lembrar que Paulo já ensinava que o corpo era essencial para a fé cristã e para a ressurreição.

Paulo teve um ataque apoplético. Os camaradas de Corinto cismavam que o corpo era desnecessário, que, após a morte, a alma, fantasmática, voejaria faceira para os Campos Elísios, enquanto o corpo, fétido, apodreceria sob a terra, ou, que diferença faria? Seria comido pelos abutres. Judeu, Paulo foi tomado da apoplexia que acomete os ortodoxos, quando ouvem heresias - e vociferou apologéticas garantias de que, não senhores, o corpo era condição sine qua non para a sanidade e a validade da fé! Sem o corpo, sem a ressurreição, tudo era vão - a cruz, a salvação, o perdão, porque, sem o corpo, não haveria amanhã... (RIBEIRO, 2010).

Portanto, os cristãos se vêem em um enigma escatológico. Desde a ideia platônico sobre imortalidade da alma ao impacto do Espiritismo em nossa sociedade; com o discurso, de que o mundo real é o mundo dos espíritos, como Kardec (2007, p. 18) mesmo afirma “O mundo corporal não é se não secundário; poderia cessar de existir, ou não ter jamais existido, sem alterar a essência do mundo espírita”. De modo que o pensamento cristão sobre a vida após a morte e a ressurreição do corpo, tem sido confundindo. Dado que muitas dessas idéias (pagãs) contrariam o ensinamento de Paulo e estão afetando a compreensão dos cristãos.  


4 ITINERÁRIO ESCATOLÓGICO EXISTENCIAL: A ESCATOLOGIA PAULINA A LUZ DO PENSAMENTO DE JÜRGAN MOLTMANN E RUDOLF BULTMANN

Como Paulo descreve os últimos acontecimentos? Certamente, ele definiria os acontecimentos finais com a certeza que a “vitória decisiva sobre o diabo já foi ganha (2Ts 2. 7,8; Rm 16. 20)” (BULL, 2009, p. 222). Bem sabemos que a literalidade apocalíptica do apóstolo, é fruto do judaísmo tardio e do protocrisitanismo. Assim sendo, ele orienta sua escatologia para uma ordem bio-cosmológica em Cristo (pleroma) – (1Co 15. 28), aonde em Deus tanto o homem quanto a criação, alcançaram a eterna redenção – livres da presença do pecado (1 Co 1. 30). Desse modo, todo o mal será desfeito pelo nosso Senhor Jesus Cristo. E o anticristo que durante anos da história da humanidade houvera sido incorporado por diversos personagens terríveis, irá ser revelado e vencido.   
Quando o tempo escatológico de Deus se cumprir diremos como Lutero (s/d apud BONRKAMM, 2009, p. 309) “Com efeito, não é o tempo que ocasionou a vinda do Filho. Ao contrário, a vinda do Filho trouxe ao tempo a sua realização”.
Em constantes desafios que a escatologia bíblica vive que os cristãos venham se apegar a morte/ressurreição de Jesus Cristo, porquanto, o pecado trouxe a morte e a ressurreição à vida. Por isso Paulo dizia: “Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14. 8). Pode-se ver que a cruz e a ressurreição estão estritamente relacionadas, uma a outra, para que a mensagem cristã seja “[...] força de Deus para salvação de todo aquele que acredita [...]” (Rm 1. 16).
Entretanto, deve-se superar o status quo e se movimentar sabendo que tudo o que acontece conosco torna-se a prolepse[2] daquilo que já aconteceu com Cristo. Moltmann (2005, p. 272), diria que:


Enquanto tudo não estiver “muito bom”, continua a diferença entre esperança e realidade, a fé continua irrealizada e deve lançar-se no futuro, em meio à esperança e ao sofrimento. Dessa forma, também a promessa da vida proveniente da ressurreição de Cristo introduz na tendência do Espírito, que vivifica na dor e está orientado para o louvor da nova criação. Temos aí algo como “revelação progressiva”, ou “escatologia em realização”, só que se trata do progressus gratie. Não é o tempo objetivo que traz o progresso, nem é a atividade humana que faz o futuro, mas é a necessidade interna do evento de Cristo, cuja tendência é trazer à luz a vida eterna latente nele mesmo e a justiça de Deus em todas as coisas, igualmente latente nele.

No entanto, o “desdobramento dos eventos finais tem muito haver com nossas vidas” (CARRIKER, 2010, p. 38). Contudo, como se darão os últimos acontecimentos torna-se a força motriz das nossas vidas, pois a pregação cristã é essencialmente uma “cristologia em perspectiva escatológica” (HOFFNUNG, 1964 apud BASTOS, 2007, 87).
Na verdade, os cristãos são marcados por um sentimento de resignação que emancipa a fé escatológica da realidade. O ser humano não tem a capacidade de prever o fim história. De modo, que o homem é um ser presente e precisa construir a cada dia um mundo melhor. Note-se que a proposta cristã, é que um dia, no futuro, Deus, de uma vez por todos, acabará com toda dor e sofrimento!
A doutrina das últimas coisas não tem nada a ver com o milenarismo pregado pelas denominações pós – scofieldianas, pois, as tais, se julgam como intérpretes da história. Enquanto, deviam estar engajadas no vir a ser histórico, trazendo o futuro para o presente. “O mundo não é estabilizado no ser eterno, mas “mantido” no ainda-não-ser de uma história aberta para o futuro” (MOLTMANN, 2005, p. 221). Assim, a dor e o sofrimento seriam vencidos. 
Desta maneira, alguns cristãos colocam sua esperança e sua fé, neste momento sublime que transcende as expectativas desse mundo, e acabam se esquecendo de viver o presente. Como diria Aranha e Martins (1986, p. 21) “o lugar do “ainda – não”, cuja força mobiliza as pessoas a construírem o que um dia poderá vir – a – ser”.
Segundo Bultmann (2010) essa esperança não tem valor algum como uma fantasia que trás consolo; que alivia ou encerra o sofrimento presente, e tão pouco é garantia contra a insegurança presente. Ao contrario, a vida de um homem piedoso se funda precisamente na esperança. Ter esperança é ter futuro é sinal de que tudo que o homem se refere esta em jogo. A esperança tem por objeto Deus.[3]
A doutrina das “últimas coisas” não pode servir de escape para tratar de forma paliativa a dor e o sofrimento que os cristãos passam no mundo, mas certamente ela tem o seu propósito específico. Segundo Moltmann (2005, p. 35,36),

Crer significa transpor, com esperança antecipadora, os limites que foram rompidos pela ressurreição do crucificado. Se tivermos isso em mente, a fé nada tem que ver com fuga do mundo, resignação e desistência. Nessa esperança, a alma não paira em um céu imaginário de bem aventurados, longe do vale de lágrimas nem se desliga da terra.

Em suma, o problema da dor e do sofrimento é problema nosso; até mesmo porque a virtude do cristão está em ser “[...] solidários com os cristãos em suas necessidades [...]” (Rm 12. 13). E não em vestimos a nossa roupa de cristão e irmos à igreja e deixar tudo nas mãos de Deus. Neste momento, lembrar a oração de Jesus é fundamental para vida cristã “Eles permanecem no mundo [...]” (Jo 17. 11). Daí a exortação do apóstolo Paulo para que sejamos “sóbrios” (1Ts 5. 6). Por isso a escatologia contemporânea orienta o schaton a um “totalite aliter – novidade total” (Bultmann 2005, p. 25, tradução nossa) – (2Co 5. 17).


5 Considerações Finais

Em Paulo a escatologia ganhou uma roupagem de acordo com a necessidade das comunidades cristãs. E a literalidade dos ensinamentos escatológicos do apóstolo tem tudo a ver com a tradição judaico-cristã. Sua pregação consistia-se na mensagem da na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Desse modo, essa mensagem abriu espaço para um apocaliptismo que se resume na: Manifestação do anticristo; A vinda de Jesus Cristo; Ressurreição dos Mortos; Arrebatamento da Igreja e Redenção Final.
Analogicamente, o pensamento escatológico de Paulo em Coríntios e Tessalonicenses levou-nos a fazer uma comparação entre o que está acontecendo com a “doutrina das últimas coisas” no mundo contemporâneo e a “esperança cristã” refletida por alguns teólogos que desenvolveram um pensamento escatológico relevante.
Para, enfim, chegar a uma síntese entre o pensamento escatológico de Paulo e de uma escatologia coerente que coadune tanto com a Escritura quanto com os estudos sobre “esperança cristã” na contemporaneidade. A fim de trazer para a existência cristã uma aplicação que venha mostrar que a ressurreição do corpo é a parte, mais, importante do ensinamento escatológico e que os eventos finais têm tudo a ver com a forma que se vive a vida.

BIBLIOGRAFIA

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Editora Moderna, 1986. 443 p.
BARTH, Karl. Esboço de uma Dogmática. São Paulo: Fonte Editorial, 2006. 224 p.
BASTOS, Levy da Costa. Os caminhos da salvação. São Paulo: Fonte Editorial, 2007. 108 p.
Bíblia. Português. Edição Pastoral da Bíblia. Tradução por Ivo Storniolo et. al. São Paulo: Paulus Editora, 1991. 1584 p.
BÍBLIA. Português.  Bíblia Tradução Ecumênica (TEB). Colaboradores: John Konings et. al. São Paulo: Edições Loyola, 1994. 2480 p.
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Plenitude. Traduzida por João Ferreira de Almeida. Barueri, SP: Edição Revista e Corrigida (SBB), 1995. 1526 p.
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal. Traduzida por João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Edição Revista e Corrigida (CPAD), 1995. 2030 p.
BORNKAMM, Günther. Paulo: vida e obra. Santo André, SP: Editora Academia Cristã, 2009. 417 p.
BULL, Klaus-Michael. Panorama do Novo Testamento: história, contexto e teologia. São Leopoldo, RS. Sinodal/EST, 2009. 237 p.
BULTANN, Rudolf. Jesus Cristo e Mitologia. 3ª edição. São Paulo: Fonte Editorial, 2005. 80 p.
_______________. Esperança. Jornal Kerigma: sempre reformando. Pindamonhangaba, ano 4, n. 18, 2010. 8 p.  
CARRIKER, Timóteo. O que esperam os cristãos? E o que fazem enquanto isso? In: Revista ultimato. O drama da cruz. Viçosa, MG: Editora Ultimato, v. XLIII, n. 322, JAN/FEV 2010. 66 p.
Grenz, Stanley J. et. al. Dicionário de Teologia. 3ª impressão. São Paulo: Editora Vida, 2002. 142 p.
KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2007. 336 p.
MANSON, Thomas Walter. Cristo por Paulo. São Paulo: Fonte Editorial, 2009. 125 p.
MOLTMANN, Jürgen. Teologia da Esperança: Estudos sobre os fundamentos e as conseqüências de uma escatologia cristã. 3ª ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Teológica: Edições Loyola, 2005. 469 p.
PANNENBERG, Wolfhart. Fé e Realidade. São Paulo: Fonte Editorial, 2004. 172 p.
Ribeiro, Osvaldo Luiz. Peroratio. Gasparzinho na veia. Disponível em: <http://peroratio.blogspot.com/search/label/alma>. Acessado em: 30 abr 2010.
TAYLOR, William Carey. Dicionário Grego do Novo Testamento. 9. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1991. 247 p. 



 [1]Éon oriunda da palavra grega Αίών que segundo o Dicionário Grego Novo Testamento significa: ciclo, era, época, eternidade.
 [2] Esboço escatológico que trata de um ato ou de um desenvolvimento futuro como já existente no presente ou já realizado. Um ato proléptico é uma ocorrência escatológica na história antes de seu desfecho. Assim, a ressurreição de Cristo é a prolepse da ressurreição geral que marcará o final da era presente (GRENZ, 2002, p. 110). 
 [3] Este texto foi adaptado do jornalzinho da Igreja Tabernáculo. Editado pelo pastor David Rubens. BULTMANN, Rudolf. Esperança. Jornal Kerigma: sempre reformando. Pindamonhangaba, ano 4, n. 18, 2010, p. 4.