AULA 1 – 22/04/2012
Prof. Fernando
1.
O que significa "Hermenêutica"?
Gingrich, F.
Wilbur. Léxico do Novo Testamento:
Grego / Português. São Paulo: Vida Nova, 1993. p. 85.
ερμηνεία, ας, ή tradução, interpretação 1 Co 12.10;
14.26.*
ερμηνευτής, ου, ό tradutor 1 Co 14.28 v.l.*[hermenêutica]
ερμηνεύω explicar, interpretar Lc 24.27 v.l.Traduzir Jo 1.38 v.l., 42; 9.7; Hb
7.2.»
Έρμης, ου, ό Hermes—1. O deus grego At 14.12.—2. Uma
pessoa que recebeu saudações Rm 16.14.* [hermético]
2. Origem do Termo
O termo "hermenêutica" provém do verbo grego
ερμηνεύειν / hermeneuein e significa "declarar",
"anunciar", "interpretar", "esclarecer" e, por
último, "traduzir". Significa que alguma coisa é "tornada
compreensível" ou "levada à compreensão".
Alguns defendem que o termo deriva do nome do deus
da mitologia grega Hermes, o mensageiro dos deuses, a quem os gregos
atribuíam à origem da linguagem e da escrita. É considerado o patrono
da comunicação e do entendimento
humano. O certo é que este termo originalmente exprimia a compreensão e a
exposição de uma sentença "dos deuses", a qual precisa de uma
interpretação para ser apreendida corretamente.
Encontra-se desde os séculos XVII e XVIII o uso do
termo no sentido de uma interpretação correta e objetiva da Bíblia. Spinoza é um dos precursores
da hermenêutica
bíblica.
Outros dizem que o termo “hermenêutico” deriva do
grego "hermēneutikē" que significa "ciência",
"técnica" que tem por objeto a interpretação de textos poéticos ou
religiosos, especialmente da Ilíada e da "Odisséia";
"interpretação" do sentido das palavras dos textos;
"teoria", ciência voltada à interpretação dos signos e de seu valor simbólico.
Hermes é tido como patrono da hermenêutica por ser
considerado patrono da comunicação e do entendimento humano – (Cf. pt.wikipedia.org/wiki/Hermenêutica).
3. A necessidade da interpretação Bíblica
Interpretar
a Bíblia é um dos maiores desafios do nosso tempo, pois os cristãos estão
sujeitos a todo tipo de declaração em nome do Deus de Jesus de Nazaré.
Constitui-se aí um grande desafio para todo fiel. Além do mais, as Escrituras
vêm sendo usada para “satisfação de todos os desejos humanos através do acúmulo
de riquezas” (RUBENS, 2011, p. 43). Movimentando, assim, todo um mercado
religioso (Cf. Mc 10. 23; 1 Tm 6. 1-10; Tg 5. 1-6). Um outro, motivo muito bem intencionado
– é que o povo lê a Bíblia para vencer os desafios da vida cotidiana. Mas, em certo
sentido, existe uma necessidade singular de se interpretar o texto Bíblico.
Como se sabe, as Escrituras se configuram como Palavra de Deus para todos os
cristãos (Cf. Jo 20. 31; 2 Tm 3.16; 2 Pd 1.19-21).
A Bíblia ocorre como resultado das ações
divina e humana. Deus acontece na historicidade humana e é em meio a esse
processo que ele se manifesta, mesmo com todas as contingências humanas, a
partir do modo humano de compreender a Deus. Logo, concebe o texto bíblico como
produto da simultaneidade entre o divino e o humano. É uma abordagem conjuntiva
e não disjuntiva (MENDES; SANTOS, 2007, p. 540).
Todavia, é possível tratar a Bíblia como Palavra de Deus e, ao mesmo tempo,
considerar todas as suas afirmações como culturalmente determinadas – com todas
as implicações teórico-metodológicas (teológicas, eclesiásticas, éticas)
advindas dessa afirmação.[1] De
semelhante modo, a pergunta de Felipe ao etíope ecoa até nossos dias... Compreendes o que vens lendo?[2] Como
o escritor de segundo Pedro já nos alertava acerca dos escritos paulinos. [...]
nas suas epístolas, nas quais a certas
coisas difíceis de entender [...].[3] Qual
seria a mediação hermenêutica necessária para interpretar as Escrituras?
Segundo afirma Airton José da Silva[4]
cinco perguntas são fundamentais:
1.
Como conseguir uma reconstrução do texto a
mais próxima possível do original?
2.
Qual é a proveniência do texto, quem é o seu
autor, quais são as suas características literárias, seu contexto
histórico-cultural?
3.
Qual é o gênero literário do texto analisado,
as formas fixas do discurso utilizado, mesmo na sua fase de transmissão oral,
qual o seu contexto social e a intenção de sua linguagem específica?
4.
Como o autor trabalhou teologicamente o
material recebido da tradição, dando-lhe a forma atual?
5.
Como foi o desenvolvimento progressivo da
tradição desde as camadas pré-literárias até a sua elaboração por escrito?
Para responder a tantas
questões, a exegese criou e desenvolveu nos últimos séculos um vasto
instrumental histórico-crítico[5] conhecido como: crítica textual,
crítica literária, crítica e história das formas, história da redação e história
da tradição.[6] Entretanto,
em meio a tantas perguntas e questionamentos, o que tudo indica é que a “[...] preocupação
principal do povo não é interpretar a Bíblia, mas é interpretar a vida com a
ajuda da Bíblia” (MESTERS, 1999, p. 37). No demais, seria muito válido utilizar
uma metodologia adequada para ler a Bíblia, e ao mesmo tempo aplicá-la a vida
dos cristãos.
BIBLIOGRAFIA
BOST,
Bryan Jay; PESTANA, Álvaro César. Do
texto a paráfrase: como estudar a Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1992.
Gingrich,
F. Wilbur. Léxico do Novo Testamento:
Grego / Português. São Paulo: Vida Nova, 1993.
Mendes, Jones
Talai; Santos, Eduardo da Silva. Considerações
sobre inspiração Bíblica.
Teocomunicação, Porto Alegre, v. 37, n. 158, p. 537-551, dez. 2007.
MESTERS, Carlos. Flor sem defesa: uma explicação da Bíblia a partir do povo.
5. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
Novo
Testamento. Almeida
Revista e Atualizada no Brasil. 2. ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil,
2011.
RUBENS, David. Jesus: Modelo de Práxis Social-Cristã. Pindamonhangaba: DRS, 2011.
[1] Resenhado
livro de Augusto Nicodemus Lopes, “A
Bíblia e seus intérpretes”, publicada no “Ouvir o Evento”, por Osvaldo Luiz
Ribeiro.
Disponível em: <http://www.ouviroevento.pro.br/diversos/resenha_de_Nicodemus.htm>. Acesso em: 13 de maio de 2011.
[2] Ver. At 8. 30.
[3] Ver. 2 Pd 3.16.
[4] Ler a Bíblia Hoje.
Disponível em: <http://www.airtonjo.com/ler_biblia02.htm>. Acesso em: 16 de abril de 2012.
[5] A palavra
crítico tem geralmente uma conotação negativa. Não queremos usá-la desta forma.
O método é crítico em avaliar os resultados obtidos e em pesá-los. Nunca deve
torna-se crítico contra a Bíblia (BOST; PESTANA, 1992, p. 9).
[6] Idem, Ler a
Bíblia Hoje.